22/06/2023
João Pedro Sabadini (Agência Fiocruz de Notícias)
A pandemia de Covid-19 interrompeu, em agosto de 2020, os serviços de saúde mental e apoio escolar para adolescentes e jovens em 67% dos países, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No mês de março, a Fiocruz Mato Grosso do Sul lançou, em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens com o intuito de capacitar profissionais de educação, assistência social, saúde, segurança pública, cultura e esporte, entre outros setores que atuam diretamente com adolescentes e jovens. A iniciativa gratuita e on-line, que tem ainda como público-alvo a população em geral - como pais e professores -, já alcançou mais de 73 mil inscrições e emitiu 4.500 certificados.
Além do contexto pós-pandêmico, no qual se observou um aumento das questões relacionadas à saúde mental nessa faixa etária, a relevância do curso se torna ainda mais evidente diante da questão da violência nas escolas, com destaque nos últimos meses em decorrência dos ataques com vítimas fatais. Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que monitoram esse tipo de atentado contaram 23 ocorrências nas últimas duas décadas, sendo que mais da metade dos crimes foi cometida nos últimos dois anos.
Pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz Mato Grosso do Sul e responsável técnica pelo curso, Sílvia Helena Moraes ressalta que a violência nas escolas é um problema que vem se agravando, e os casos ocorridos em 2023 são um exemplo que deve servir de alerta para a sociedade. Segundo a especialista, não existe uma resposta ou uma solução simples para a complexidade que a questão da violência envolve.
"É preciso ter ciência que a violência na escola não pode ser considerada apenas um fato externo a ela. A violência na escola também está dentro do espaço escolar: no bullying (ou cyberbullying) que os colegas fazem com outro colega, por exemplo e, que, muitas vezes, as pessoas que trabalham na escola não sabem como agir”, afirma.
Curso
Autoinstrucional, o curso é disponibilizado para ser realizado sem o acompanhamento de um tutor. Assim, o participante pode acessar os materiais e conteúdos disponíveis de acordo com seu ritmo de aprendizado e sua disponibilidade de tempo. Além de abordar temáticas sensíveis a esse problema social e ao sofrimento mental de adolescentes e jovens, oferta conhecimento, reflexões e estratégias para que profissionais de diversos setores, como saúde, educação, segurança pública, dentre outros, possam compreender a complexidade e atuar frente às demandas.
"Claro que o curso sozinho não daria conta de resolver qualquer problema, nem é esse o objetivo dele ou de qualquer outro curso, porque, de novo, não há uma solução simples para um problema tão complexo, mas ele é mais uma ferramenta importante para que as pessoas que lidam com adolescentes e jovens entendam essa complexidade e a importância de se promover projetos, espaços de escuta e ações intersetoriais e integradas”, afirma a pesquisadora.
Com o objetivo principal de oferecer informação de qualidade sobre questões de saúde mental e adolescência, criando e fortalecendo redes de escuta acolhedora nesses espaços, o curso é dividido em seis módulos que, somados, atingem a carga horária de 180 horas. A formação é embasada em três pilares: a transdisciplinaridade, com enfoque pluralista e de intercomunicação do conhecimento; a intersetorialidade, como importante instrumento de articulação entre sujeitos e setores diversos, saberes e experiências; e o fortalecimento do sistema de garantia de direitos, para possibilitar aos participantes atuação efetiva como agentes de transformação nos mais diversos serviços e, em especial, com equipes multidisciplinares.
Como o material foi pensado para ter aplicação imediata na rotina dos profissionais, cada módulo se baseia em um caso complexo semelhante às situações reais vivenciadas. Assim, espera-se qualificar trabalhadores e profissionais para que respondam de maneira efetiva e prática ao aumento das questões abordadas. O curso será ofertado na plataforma da UNA-SUS até dezembro de 2023 e não há limite de vagas.
Pode falar
O Unicef também possui outras ações de atuação, como a plataforma Pode Falar. Trata-se de um canal de ajuda em saúde mental para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos, que funciona de segunda a sexta-feira (exceto feriados) das 8h às 22h. Além dos atendimentos virtuais, o site conta com materiais e outras dicas do que pode ser feito em momentos de crise e períodos complicados.
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