27/01/2022
Aline Câmara (Agência Fiocruz de Notícias)
Quase dois anos após o início da pandemia de Covid-19, a rápida disseminação da variante Ômicron trouxe novos desafios para o Sistema Único de Saúde (SUS). Ao contrário dos primeiros meses da emergência sanitária, quando havia elevada taxa de mortalidade e o mundo presenciou uma corrida por respiradores mecânicos e leitos para tratamento dos casos de alta complexidade, atualmente os esforços se concentram na atenção primária. Na maior parte das vezes, a nova variante tem gerado casos de Covid-19 sem necessidade de hospitalização.
Diante deste novo cenário, a testagem se apresenta como um direito básico da população, além de ferramenta essencial para a vigilância e controle da pandemia. Por isso, a Fiocruz, por meio do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/Ensp) e da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS), uniu esforços com a Prefeitura do Rio de Janeiro e o projeto Conexão Saúde – De Olho na Covid em mais uma iniciativa inovadora de enfrentamento da pandemia com a abertura de polos itinerantes de testagem em Manguinhos e na Maré, com atendimento para os sintomáticos sendo garantidos por telemedicina, de forma a facilitar o acesso à assistência e reduzir a demanda da população na rede de atenção primária de saúde.
De acordo com os coordenadores do projeto de testagem, o aumento do número de casos se apresenta como um problema de proporções gravíssimas, pois pode produzir um colapso principalmente a atenção primária, diferentemente do que ocorreu nas primeiras ondas da Covid-19, quando o sistema hospitalar foi o mais atingido. É de fundamental importância o desenvolvimento de estratégias de proteção ao sistema em sua base, que se encontra numa etapa de reorganização diante dos impactos produzidos. Além de apoiar a estratégia da gestão municipal, as plataformas digitais incorporadas ao projeto permitirão ampliar o acesso à saúde, gerando o desenvolvimento de respostas rápidas e eficazes às demandas da população local e aliviando a procura nas unidades de pronto atendimento (UPAs), clínicas da família e outras emergências.
"Com a chegada da Ômicron e o aumento do número de casos de Covid-19, a Secretaria Municipal de Saúde ampliou sua capacidade de testagem em 48 vezes. Isso foi e está sendo possível graças a parcerias como essa que estamos fazendo com a Fiocruz, para a abertura de mais centros de atendimento e testagem. Neste momento da pandemia, é importante que as pessoas com sintomas sejam testadas e mantenham o isolamento, para evitar transmitir a doença para outros", diz o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.
O serviço, já em funcionamento em Manguinhos, está aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h, e aos sábados das 8h às 12h, no Centro Comunitário de Defesa da Cidadania (Rua Leopoldo Bulhões 952 - CCDC) em caráter permanente e, na Escola Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila (Avenida Dom Helder Câmara 1.184, Benfica), de forma itinerante até o próximo sábado (29/1), com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Na semana que vem, um novo local, ainda a confirmar, abrigará a iniciativa. Na Maré, o início das atividades acontecerá posteriormente. A iniciativa poderá ser ampliada, de acordo com a necessidade. Não é necessário realizar agendamento prévio.
Com capacidade diária para testar em cada polo 400 pessoas, entre sintomáticas e seus possíveis contactantes diretos, a iniciativa possibilitará a implementação de um modelo de processamento de informações robusto, subsidiando o monitoramento da situação epidemiológica em tempo real e a execução de mapas de riscos dentro das respectivas comunidades. “Nesse momento da pandemia, com a nova variante Ômicron, a testagem passa a ser a melhor forma de conhecer a transmissão do vírus, garantir medidas sanitárias, distanciamento social e quarentena capazes de diminuir a velocidade da contaminação. Aliada à testagem, o avanço da vacinação nas crianças pode nos ajudar a vencer a pandemia”, destaca Hermano Castro, um dos pesquisadores da Fiocruz envolvidos na coordenação da iniciativa.
O projeto reforça a importância das tecnologias sociais no território, contando com apoio das lideranças comunitárias, fundamental para a melhor comunicação sobre o impacto da pandemia nas populações vulnerabilizadas. “Os polos de testagem podem ser a diferença entre a vida e morte de muitas pessoas. A ideia que prevalece no Conselho Comunitário de Manguinhos e na Redes da Maré é que o projeto assuma uma perspectiva efetivamente participativa, ampliando assim seu alcance e resultados”, enfatiza André Lima, do Conselho Comunitário de Manguinhos.
As bases do projeto
Os territórios de Maré e Manguinhos, que juntos somam cerca de 180 mil moradores, sediam diversas ações de mobilização social que vêm sendo implementadas desde junho do ano passado por meio do projeto Conexão Saúde - De Olho na Covid. Além da Fiocruz, SAS Brasil, Redes da Maré, Dados do Bem, Conselho Comunitário de Manguinhos e União Rio integram a iniciativa. A partir desta experiência, que hoje é referência no combate à pandemia em favelas, já foram realizados mais de 44 mil testes diagnósticos (entre sorologia e PCR) na Maré e 6.528 em Manguinhos; 1.552 consultas de telessaúde; e, na Maré, o apoio para o isolamento domiciliar de 1.383 famílias com pessoas que testaram positivo para Covid – além de múltiplas ações de comunicação territorial.
O impacto foi sentido antes de completar o seu primeiro ano de implantação, com uma redução significativa da mortalidade. Apenas na Maré, a queda da letalidade, em novembro de 2021, chegou a 87%. Esse legado ganhou um importante aliado meses depois. Em julho, a Fiocruz iniciou um estudo para mapear o impacto da vacinação da Covid-19 em sua população. Além da efetividade da vacina propriamente dita, outros aspectos da doença seguem em andamento como a dinâmica de transmissão do vírus no território e a vigilância genômica de suas variantes.
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