Fiocruz

Fundação Oswaldo Cruz uma instituição a serviço da vida

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Castelo bem assombrado

Montagem sobre foto do castelo Fiocruz

13/05/2015

Danielle Monteiro / CCS Fiocruz e Keila Maia / Intranet Fiocruz

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E se você trabalhasse em um castelo, à noite, e, depois que todos fossem embora, começasse a ouvir passos e barulhos esquisitos pelo corredor? E se, com o prédio completamente vazio, o elevador, por mais de uma vez, fosse chamado a um determinado andar e, quando lá chegasse, não houvesse ninguém para entrar? E se, já durante o dia, na biblioteca, o livro que você precisa, em meio a milhares de outros exemplares, saltasse na sua frente, como se estivesse se apresentando? O que você diria? Pensaria em fantasmas? Engraçados para uns, assustadores para outros, casos como esses estão sempre sendo contados na Fiocruz. São histórias presentes no imaginário dos trabalhadores e, por isso, fazem parte da trajetória da Fundação.

Para o vigilante Walmir da Rocha, que trabalha há 20 anos na Fundação, não há dúvidas: os fantasmas povoam o Castelo, onde estão instalados os setores da presidência da instituição. Ele conta que, há cerca de 11 anos, quando trabalhava no primeiro andar do prédio, ouviu alguém bater na porta dos fundos. “A porta ficava trancada, e o acesso ao castelo era somente pela frente. Abri a porta e não vi ninguém”, relata. Segundo Walmir, o mesmo ocorreu com outro vigilante. “Quando isso aconteceu comigo, não comentei nada com ele. Alguns dias depois, ele me contou que havia ouvido batidas na porta, mas que, ao abrir, não avistou ninguém”, diz.Outros vigilantes, segundo Walmir, vivenciaram momentos semelhantes. “Alguns vigias mais antigos avistaram, do primeiro andar, uma mulher de branco passando pelo corredor do segundo andar”.

Sebastião de Almeida, há 41 anos na Fiocruz, conta que, em 1973, quando trabalhava como contínuo no Castelo, viu a porta da sala da secretaria do chefe de gabinete, no quinto andar, abrir e fechar sozinha. “Já era tarde, havia acabado o expediente e só havia eu e o ascensorista no andar. Abri a porta para checar, mas não havia ninguém na sala”, relata. Na época, poucas pessoas circulavam na área, porque o andar todo estava em obra. Quando terminava o expediente, Sebastião ficava encarregado de trancar todas as portas. Ele diz que, uma vez, após esse procedimento, ouviu uma delas bater. Apreensivo, retornou ao local para checar e viu que todas as portas estavam realmente trancadas, sendo impossível alguém abri-las e fechá-las novamente.

Na mesma época, também após o expediente, Sebastião conta que, quando estavam somente ele e o ascensorista no quinto andar, viram uma chamada do elevador no terceiro andar. Desceram juntos até lá e não havia ninguém. Voltaram, então ao quinto andar. Novamente o elevador foi acionado no terceiro andar, os dois foram conferir, e a situação se repetiu.

Um dos relatos mais assombrosos sobre o Castelo, segundo ele, foi o de um antigo vigia. “Uma vez, durante a madrugada, quando não havia ninguém no prédio, um dos vigias foi à biblioteca do terceiro andar e, ao abrir a porta, avistou a figura de um homem vestido de branco sentado em uma das cadeiras. Ele chegou a cair de susto e saiu correndo”, conta Sebastião. No começo do século XX, no quinto andar do Castelo, ficavam os dormitórios dos diretores da Fundação, como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas. Os quartos menores eram os locais de pernoite de pesquisadores.

Fantasma camarada

Fotomontagem do castelo da FiocruzA biblioteca é outro espaço que coleciona histórias. Lá, os fatos estranhos têm, quase sempre, um resultado benéfico, o que leva as pessoas que já passaram por alguma situação a acreditarem que as assombrações são prestativas. Conta-se, por exemplo, que, tempos atrás, a biblioteca passou por mudanças e grande parte do acervo ainda não havia sido tratada e categorizada. Porém, toda vez que um usuário chegava em busca de algum título, era só o bibliotecário começar a procurar, e o exemplar, como num passe de mágica, saltava aos olhos, em meio a tantos outros. A ex-bolsista da Seção de Obras Raras, Fátima Duarte de Almeida, diz que muita gente atribuía o feito a uma antiga funcionária da seção, que morreu em 1980.

Caso semelhante aconteceu a Alexandre Medeiros, coordenador da Biblioteca do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz). Foi em um dia de arrumação, quando transferia materiais do primeiro para o terceiro andar. Enquanto organizava, pensava que, dali a pouco, precisaria consultar um livro de metodologia. Para surpresa dele, quando passou pelo segundo andar, que estava vazio, tinha um exemplar, bem visível, aberto no assunto que deveria pesquisar. “Só me restou dizer: 'bem, se deixaram o livro aí, só pode ser para me ajudar'. Então, usei e agradeci”, brinca.

Alexandre, que em 2006 entrevistou vários funcionários da biblioteca para fazer sua dissertação de mestrado sobre os encontros científicos conhecidos como mesa das quartas-feiras, tomou conhecimento de outros casos. Contaram a ele que, certa manhã, antes de iniciar o expediente, uma mulher chegou à recepção da biblioteca, pedindo para falar com a responsável. A recepcionista, que era novata, foi então chamar Lucília Friedmann, coordenadora na época. Quando voltaram, a visitante havia desaparecido, sem que ninguém, nem mesmo a ascensorista, a visse descer. Mas a surpresa ainda estava por vir: Mais tarde, a recepcionista veria uma foto de uma funcionária, que havia morrido meses atrás, e diria que era ela quem esteve lá mais cedo.

Segundo Alexandre, devido aos acontecimentos estranhos no salão da biblioteca do Castelo – hoje seção de Obras Raras da Biblioteca de Manguinhos –, teve gente que chegou a se recusar a voltar a trabalhar no setor, como o funcionário Jara de Brito, já falecido. Para ele, a gota d´água foi o dia em que estava arrumando a mesa de periódicos sozinho e, enquanto saiu para buscar mais publicações, mudaram o móvel de posição. “O sr. Jara contou que deixou a mesa reta e, quando voltou, estava enviesada. Foi nesse dia que pediu para ser transferido, porque, na cabeça dele, só podia ser obra de algum fantasma”, diz Alexandre.

Outra história interessante é a de um funcionário da biblioteca que precisou trazer o filho para o trabalho durante algumas horas. A criança era muito agitada e corria o tempo inteiro. A certa altura, o menino adentrou a sala do acervo, mas, antes mesmo que um dos funcionários fosse atrás, saiu de lá com a carinha assustada, dizendo que um homem de roupa branca tinha falado para ele fazer silêncio e ficar quieto. Não havia ninguém lá dentro. “Segundo contam, pelo menos, o resto do tempo em que ficou na biblioteca, a criança não deu mais trabalho. Ou seja, quem quer que seja prestou uma contribuição para a equipe”, graceja Alexandre.

Filiação simbólica

Para a psicóloga Cristiana Facchinetti, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, todas essas histórias têm relação com a identidade histórica da instituição. É como se as pessoas, ao contarem esses casos e imaginarem que os personagens importantes da Fiocruz ainda estão por aqui, quisessem reforçar que todos eles, de certa forma, ainda organizam a instituição.

“É uma forma de dizer que os que passaram por aqui foram importantes e que nós não queremos esquecê-los. É um reconhecimento dessa filiação científica e de tudo o que eles construíram. É um reforço da ideia de que somos filhos desses cientistas e de que o espírito inovador deles permanece, afinal, temos um modelo ao qual nos referenciamos. É a memória, uma reatualização desse sujeito que não morre”, explica.

É uma forma de dizer que os que passaram por aqui foram importantes e que nós não queremos esquecê-los (Cristina Facchinetti)

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