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Casos de filariose podem estar ressurgindo no Maranhão


12/04/2023

Fiocruz Pernambuco

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Com focos de filariose considerados extintos desde 1976, a cidade de São Luís, capital do Maranhão, pode estar vivendo o aumento dos casos ainda despercebido por agentes de saúde e pela população. A doença infecciosa crônica, conhecida como elefantíase, pode provocar inflamação e acúmulo de líquido em várias partes do corpo, principalmente pernas, braços e testículos, ocasionando em alguns casos quadros irreversíveis. O alerta é feito por pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, que identificaram mosquitos da espécie Culex quinquefasciatus infectados com o parasita causador da filariose, o Wuchereria bancrofti, em duas localidades da capital maranhense: Coreia e Monte Castelo. As taxas de infecção dos mosquitos foram de 1,06% e 0,37%, respectivamente. Para que pudessem ser considerados focos extintos essas taxas deveriam estar zeradas. Agora, para confirmar ou descartar a suspeita de crescimento da doença na capital maranhense, os pesquisadores destacam a necessidade de investigar a ocorrência de casos entre humanos.  O artigo escrito por pesquisadores e estudantes da Fiocruz Pernambuco sobre esse estudo pode ser acessado na revista científica Plos Neglected Tropical Diseases.


Microfilária de Wuchereria bancrofti (Foto: USP)  

“Uma vez encontrados mosquitos com o parasita e pessoas infectadas podem não apresentar sintomas ou tê-los de forma mascarada, pode ser que a doença esteja em expansão na cidade de forma silenciosa. Só investigando saberemos se há um problema, que pode ser focal, nos locais onde foram encontrados os mosquitos contaminados, ou pode estar se expandindo para outras áreas”, afirma o coordenador do Serviço de Referência Nacional em Filarioses (SRNF) da Fiocruz, Abraham Rocha.

Coreia, Monte Castelo e outros nove bairros (Areinha, Vila Passos, Fátima, Lira, Centro, Fabril, Liberdade, Camboa, Coroadinho) foram indicados pelo Laboratório Central (Lacen) do Maranhão para coleta dos mosquitos – agente transmissor da filariose – com base em registros feitos na década de 1970 de pacientes com microfilaremia (quando larvas e vermes adultos do parasita são encontrados no sangue e/ou nos vasos linfáticos dos humanos). No decorrer da investigação, mais de 10 mil mosquitos foram capturados, por aspiração, em 901 residências, sendo pegos de cem a 200 por casa. A maioria (85,5%) eram C. quinquefasciatus. Destes, 60,8% eram fêmeas, que se alimentam de sangue e são capazes de transmitir o parasita para o homem. Elas passaram por teste molecular (PCR) para identificar a presença da W. bancrofti no seu organismo.

“Considerando a densidade de mosquitos encontrada nos domicílios e a detecção de mosquitos infectados com o verme em áreas um dia consideradas endêmicas para doença, além das precárias condições sanitárias observadas no entorno das residências, que facilita a propagação desses insetos, agora, é extremamente necessário investigar a doença entre humanos”, reforça a pesquisadora do Departamento de Entomologia da Fiocruz Pernambuco Cláudia Fontes. “Assim, será possível realizar ações para o bloqueio da doença, silenciosa e negligenciada, por meio de tratamento com medicação para evitar que a transmissão se expanda”, complementa.

Cláudia, que é vice coordenadora do Serviço de Referência em Controle de Culicídeos Vetores (SRCCV), e Rocha alertaram as secretarias de saúde do estado e do município e o Ministério da Saúde sobre a situação. Também notificaram a Organização Mundial da Saúde (OMS), que providenciou testes rápidos de diagnóstico em humanos, num investimento de mais de R$ 25 mil reais. O material, disponível no Lacen Maranhão, tem data de validade até o final de abril. A aplicação dos testes permitirá fazer o bloquear da doença, uma vez encontrados casos positivos entre a população. 

O SRNF aguarda a convocação do Lacen Maranhão para treinar profissionais locais para a coleta de sangue e o processamento das amostras usadas para diagnóstico da filariose. De acordo com o chefe do Serviço, a doença voltou a ser investigada no Maranhão de 2015 a 2017, com o objetivo de constatar sua eliminação no estado. Testes feitos com crianças – grupo preconizado pela OMS – adolescentes e militares não identificaram casos novos. Atualmente, a Região Metropolitana do Recife (Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Paulista) é a única área considerada endêmica no Brasi, que é signatário da proposta lançada pela OMS em 2000, de erradicar a filariose linfática no mundo até 2020. Como essa meta não foi alcançada, esse prazo foi estendido para 2030. Dos 73 países considerados endêmicos, atualmente, 50 deles e 859 milhões de pessoas permanecem sob o risco de se infectar com W. bancrofti e assim disseminar a doença.

A detecção da filariose entre humanos por meio da detecção de mosquitos contaminados é chamada de xenomonitoramento molecular (MX). O uso dessa ferramenta é sugerido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2002. Além disso, melhorias na coleta de mosquitos, estratégias de amostragem e testes moleculares aumentaram a confiabilidade dessa abordagem.

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