14/10/2022
Suely Amarante (IFF/Fiocruz)
O câncer de mama é um dos desafios no cenário atual de envelhecimento populacional e enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil. É o tipo de câncer que mais acomete as mulheres no país. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Brasil, excluindo os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas nas regiões Sul e Sudeste. Para o ano de 2022 foram estimados 66.280 novos casos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 43,74 casos por 100 mil mulheres.
Atualmente, o diagnóstico, o tratamento local e o tratamento sistêmico para o câncer de mama estão sendo aprimorados de forma rápida, em razão de um melhor conhecimento da história natural da doença e das características moleculares dos tumores. Nesse cenário, o planejamento de estratégias de controle do câncer de mama por meio da detecção precoce é fundamental. Quanto mais cedo um tumor invasivo é detectado e o tratamento é iniciado, maior a probabilidade de cura. Por esse motivo, várias ações vêm sendo implementadas para diagnosticar o câncer nos estágios iniciais.
Embora seja um tema difícil de tratar, falar abertamente sobre o câncer de mama pode ajudar a esclarecer mitos e verdades e, com isso, aumentar o conhecimento e diminuir o temor associado à doença. Um em cada três casos de câncer de mama pode ser curado se for descoberto logo no início. Mas muitas pessoas, por medo ou desinformação, evitam o assunto e acabam atrasando o diagnóstico. Por isso, é preciso desfazer crenças sobre a doença, para que ela deixe de ser vista como uma sentença de morte ou um mal inevitável e incurável.
Para esclarecer dúvidas sobre diagnóstico precoce, sinais e sintomas da doença e manifestações de alerta, convidamos a médica mastologista do Serviço de Mastologia do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Viviane Esteves.
Como as mulheres podem perceber os sinais e sintomas da doença? É indicado o autoexame?
Viviane Esteves: Atualmente não indicamos o autoexame para identificação precoce do câncer de mama, os estudos demonstraram que essa estratégia não reduzia a mortalidade. A recomendação é que a mulher tenha consciência da saúde das mamas, saiba reconhecer os sinais e sintomas suspeitos e tenha acesso rápido aos serviços de saúde para investigação. A palpação das mamas pode ocorrer sempre que a mulher se sentir confortável. Segundo o INCA, são sinais e sintomas de alerta: qualquer nódulo em mulheres com mais de 50 anos; nódulos persistentes por mais de um ciclo menstrual em mulheres com mais de 30 anos; nódulo endurecido ou fixo ou que vem aumentando de tamanho; secreção sanguinolenta pelo mamilo; lesões na aréola ou no mamilo que não respondem ao tratamento tópico.
Qualquer lesão mamária (cistos, nódulos, calcificações) é fator de risco para o desenvolvimento de um câncer de mama?
Viviane Esteves: A maioria das patologias mamárias é benigna, mas para excluir o câncer de mama, é preciso que a mulher, com sinais e sintomas suspeitos, procure orientação médica para ser examinada. A classificação radiológica das lesões mamárias é baseada no BI-RADS. O Sistema de Laudos e Registro de Dados de Imagem da Mama (BI-RADS) é uma ferramenta de garantia de qualidade destinada a padronizar os laudos radiológicos das mamas, recomendações de conduta e facilitador do monitoramento dos resultados. O Bi-RADS categoriza as imagens de acordo com o seu risco de neoplasia maligna. Assim, um cisto simples é categorizado com BI-RADS 2 e não apresenta risco para câncer de mama. As lesões BI-RADS 3 devem ser acompanhadas em intervalos mais curtos, enquanto as BI-RADS 4 e 5 são suspeitas e devem ser biopsiadas.
Qual a orientação para a realização dos exames de rotina (ultrassonografia das mamas e /ou mamografia)? Os exames são eficazes e indicados para qualquer faixa etária?
Viviane Esteves: Conforme as Diretrizes para Detecção Precoce do Câncer de Mama, a mamografia de rotina, em mulheres assintomáticas, é recomendada de 50 a 69 anos, uma vez a cada dois anos. A ultrassonografia mamária não deve ser solicitada de rotina como rastreamento, e sua indicação é feita em casos selecionados, como mulheres com alterações na mamografia que necessitam de um esclarecimento. Para mulheres de alto risco o rastreamento deve ser individualizado.
Toda mulher tem risco elevado para a doença? Explique.
Viviane Esteves: O alto risco está relacionado a uma predisposição hereditária forte, relacionada a mutações genéticas. Também são consideradas mulheres de alto risco, aquelas com diagnóstico de lesões proliferativas com atipias e o histórico de radioterapia supra diafragmática, antes dos 36 anos de idade para tratamento de linfomas. Mulheres a partir dos 50 anos são mais propensas a desenvolver a doença.
Só as mulheres têm câncer de mama?
Viviane Esteves: Não. Homens também podem ter câncer de mama, mas isso é raro (apenas 1% dos casos). Os sinais de alerta envolvem: tumorações mamárias; presença de gânglios axilares alterados; mudanças no formato das mamas, como edemas, aumento de tamanho ou retração e mudança no formato dos mamilos.
Qual a importância do acolhimento às mulheres que procuram o serviço de saúde com nódulos ou lesões suspeitas de câncer de mama?
Viviane Esteves: Sempre que a mulher perceber sinais ou sintomas suspeitos, deve procurar esclarecimento. A equipe de saúde precisa estar preparada para acolher, informar e realizar os exames diagnósticos em tempo hábil, visando o diagnóstico precoce do câncer de mama.
Qual a sua opinião sobre a iniciativa “outubro rosa”?
Viviane Esteves: O “outubro rosa” foi criado no início da década de 1990, pela Fundação Susan G. Komen for the Cure. A data é celebrada, anualmente, com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre o câncer de mama, proporcionando maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento e contribuindo para a redução da mortalidade. Devemos aproveitar a oportunidade para divulgar a importância do diagnóstico precoce, conscientizar as mulheres e os profissionais de saúde. A detecção precoce e o rastreamento diminuem a mortalidade, e o nosso trabalho nessa ação deve ser diário.
A
mastologista Viviane Esteves analisa exames de rastreamento (Foto: Mayra Malave)
Para reforçar a importância da prevenção do câncer de mama, a mastologista do IFF/Fiocruz, Viviane Esteves, gravou um vídeo. Clique aqui e acesse.
Nota de Serviço:
Ainda no contexto do “outubro rosa”, a Área de Atenção Clínico-cirúrgica à Mulher do IFF/Fiocruz convida para o lançamento do livro: “180° Minhas reviravoltas com o câncer de mama”, da autora Dulce Ferraz.
Dia: 27 de outubro de 2022
Horário: às 12h
Local: Centro de Estudos Olinto de Oliveira (CEOO) – Anfiteatro A
Mais em outros sítios da Fiocruz