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Cadernos de Saúde Pública tem nova edição


21/05/2021

Fonte: Ensp/Fiocruz

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A revista Cadernos de Saúde Pública de maio destaca a importância da pergunta de pesquisa na análise de dados epidemiológicos. As editoras da publicação, Cláudia Medina Coeli, Marilia Sá Carvalho e Luciana Dias de Lima, classificam essa etapa da pesquisa como essencial na elaboração de um manuscrito. “Ela deve ser relevante, precisa e objetiva, orientando a estratégia analítica, assim como a interpretação dos resultados alcançados.” Para elas, em artigos que se apoiam em modelos estatísticos para análise de dados epidemiológicos é fundamental ter clareza quanto aos objetivos de descrever, explicar ou predizer os fenômenos estudados.

No editorial do fascículo, as autoras explicam que a modelagem descritiva, em Epidemiologia, é utilizada quando o interesse é explorar a associação entre vários fatores de risco e um desfecho. São construídos modelos estatísticos com seleção de variáveis baseada em significância estatística e avaliação de ajuste do modelo. Esse tipo de estratégia ainda é frequentemente adotada em artigos submetidos à CSP. É usada mesmo em tópicos para os quais já existem muitos artigos empregando a mesma abordagem. Outra limitação encontrada é a interpretação causal das associações observadas, inadequada para esse tipo de estudo.

Já a modelagem explicativa, em Epidemiologia, é usada para testar hipóteses causais entre um fator de risco e um desfecho. Na análise, também são empregados modelos estatísticos. Um modelo teórico-operacional deve ser proposto identificando, além da exposição e do desfecho, as variáveis de confusão e mediadoras. O modelo estatístico é, então, aplicado aos dados para testar a hipótese causal, tendo como referência o modelo teórico-operacional. Alguns manuscritos submetidos à CSP que testam uma hipótese causal não orientam a análise segundo um modelo teórico-operacional. Entre outros problemas, isso pode levar à inclusão indevida de covariáveis no modelo estatístico, introduzindo viés de seleção. Em outros casos, são apresentados e discutidos resultados de medida de efeito tanto para a variável de exposição como para todas as covariáveis incluídas no modelo estatístico. Essa estratégia é inadequada, uma vez que pode levar à interpretação incorreta do efeito das covariáveis.

O texto também explica que na Epidemiologia há maior ênfase na explicação causal do que na predição. A modelagem preditiva objetiva predizer observações novas ou futuras, sendo empregados tanto algoritmos de mineração de dados quanto modelos estatísticos. Mesmo quando se opta pelos últimos, a estratégia analítica é diferente da que seria empregada quando o objetivo é a explicação. Uma questão central na modelagem preditiva é a validação cruzada, que permite avaliar a acurácia do modelo em um conjunto de dados diferente daquele em que foi treinado.Por um lado, um modelo preditivo, mesmo que não represente adequadamente a realidade, pode apresentar um bom poder de predição. Por outro, um modelo explicativo com pequeno viés pode não apresentar um bom poder preditivo. Um problema encontrado nos manuscritos submetidos à CSP é o emprego da modelagem descritiva ou explicativa com o objetivo de predição. Outro problema observado é a utilização de toda a amostra tanto para treinar o modelo como para avaliar a acurácia das predições.

Dentre os artigos publicados neste mês, Nexo Técnico Epidemiológico de la Seguridad Social (NTEP): riesgo de siete actividades económicas y condiciones incapacitantes más frecuentes, Brasil, 2000-2016, com participação da pesquisadora da Ensp, Margareth Crisóstomo Portela, entre outros articulistas, visou a identificar os principais riscos desse tipo nas empresas brasileiras. Foi realizado um estudo de coorte censitária dinâmica, com dados nacionais secundários: o Sistema Único de Benefício (SUB) e o Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS). O número de identificação do trabalhador (NIT) permitiu vincular a ocorrência de condições incapacitantes (Classificação Internacional de Doenças, 10ª revisão - CID-10) com as atividades econômicas (Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE). O NTEP foi estabelecido com os maiores riscos entre as sete classes CNAE mais populosas e sete maiores grupos CID-10 entre os benefícios previdenciários de 2000 a 2016. O Brasil teve no período uma população de empregados segurados de 30.815.310,06 vínculos-médios ao ano com 512.967.233,15 vínculos-dias. As CNAE mais populosas foram: “comércio varejista - hipermercados”, “transporte rodoviário coletivo de passageiros”, “bancos múltiplos, com carteira comercial”, “abate de suínos e aves”, “seleção e agenciamento de mão de obra”, “coleta de resíduos não perigosos” e “fabricação de automóveis, camionetas e utilitários”. As condições incapacitantes mais prevalentes foram: dorsopatias, traumatismos do punho e da mão, traumatismos do joelho e da perna, transtornos dos tecidos moles, transtornos do humor, artropatias e transtornos neuróticos. Entre as 49 combinações de CID-10 e CNAE estabeleceu-se o NTEP para 27 (55,1%). O estudo ratifica a acurácia e consistência do NTEP para identificar riscos e frações etiológicas.

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