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Brasil sedia seminário internacional sobre criptococose


25/08/2016

Por: Antonio Fuchs e Juana Portugal (INI/Fiocruz)

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De 26 a 30 de março de 2017 ocorrerá, em Foz do Iguaçu, no Paraná, a 10ª Conferência Internacional sobre Cryptococcus e Criptococose (ICCC-10). O evento, organizado pelo Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz), tem como presidente a chefe do Laboratório de Micologia, Márcia dos Santos Lazéra, e deve reunir cerca de 250 especialistas e estudantes de todo o mundo para debater os desafios e avanços no combate à criptococose. Somente no Brasil, a mortalidade por esta doença pode chegar a 60% dos casos notificados. O prazo de submissão de trabalhos científicos está aberto até 20 de outubro de 2016.

A programação da ICCC-10 abrange 13 atividades, sendo a última delas com a participação da Organização Mundial da Saúde, na qual vai ser discutida a questão do acesso ao diagnóstico rápido e a disponibilização de medicação para tratamento da meningite criptocócica para países em desenvolvimento. Márcia Lazéra destaca que a organização espera receber microbiologistas, médicos e cientistas para discutir as últimas descobertas sobre os agentes de criptococose, sua epidemiologia, genética populacional, nova taxonomia, bem como as perspectivas clínicas nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, gestão da doença, tratamento, novos meios de diagnóstico, imunologia, fisiopatologia e biologia molecular, incluindo genômica, transcriptômica, proteômica.

Os trabalhos podem ser enviados para cada uma das nove categorias estabelecidas: Pesquisa clínica; Tratamento e Resistência; Patogênese; Genética e biologia molecular; Interação hospedeiro-patógeno; Taxonomia; Virulência; Epidemiologia; e Imunologia.

Além do INI, fazem parte do comitê organizador da ICCC-10 a Vice-Presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência (VPPLR/Fiocruz), o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Conheça a página da 10ª Conferência Internacional sobre Cryptococcus e Criptococose (ICCC-10).

Primeira edição na América do Sul
No oitavo congresso, em Chalerston (EUA) cogitou-se, pela primeira vez, trazer o evento para algum país em desenvolvimento, uma vez que ele só ocorria em cidades desenvolvidas. “Em países como Brasil ou outros em desenvolvimento, os índices de mortalidade por conta da criptococose variam entre 40 e 60%, muitas vezes por conta do diagnóstico tardio da doença, impedindo assim o tratamento adequado. Nos países desenvolvidos, essa taxa fica abaixo de 10% e, por esse motivo, decidimos trazê-lo para o Brasil, onde os indicadores da doença são extremamente altos e sua notificação, baixa”, explicou Márcia.

A International Conference on Crytoccoccus and Cryptoccoccosis (ICCC) começou em Jerusalém, no ano de 1989, com 98 participantes e 51 resumos de trabalhos. Após 28 anos, a cada três anos, um fórum único de micólogos continua interagindo e trocando dados de pesquisa dedicadas ao estudo do Cryptococcus e da criptococose. A conferência já passou por Milão, Paris, Londres, Adelaide, Boston, Nagasaki, Charleston e Amsterdam, sendo realizada agora, pela primeira vez, na América do Sul.

Entendendo a criptococose
A criptococose é uma micose causada pelo fungo cryptococcus, que apresenta duas variedades: neoformans e gattii. A primeira acomete com frequência pacientes com Aids, entre os quais 6% dos casos notificados, de 1980 a 2012, apresentava a doença, segundo dados do Ministério da Saúde. A segunda variedade, gattii, é endêmico nas regiões Norte e Nordeste e apresenta alta letalidade, entre 35% a 40% dos casos detectados. A doença não é de notificação compulsória e, por este motivo os dados são dispersos e pouco confiáveis, o que impossibilita estabelecer a magnitude real da criptococose no Brasil.

Este fungo possui tropismo, ou seja, movimentos de mudança de direção de crescimento que ocorrem em organismos vivos, ou suas partes, devido ao estímulo de um fator externo. Em geral, este crescimento acontece no sistema nervoso central, manifestando-se, normalmente, como meningite criptococócica nos seres humanos, sendo a principal responsável pelo seu surgimento a queda da imunidade celular.

“São chocantes os índices que temos no Brasil. Estamos brigando para que a doença passe a ser notificada e para que haja um posicionamento da Saúde Pública, especialmente no que se refere ao diagnóstico precoce da criptococose nas pessoas vivendo com Aids, pois é fundamental para que possamos minimizar os riscos de morte. O diagnóstico precoce nos pacientes com contagem de células CD4 abaixo de 100, e nas áreas endêmicas onde ocorrem outros tipos de criptococoses, vai colaborar para um melhor direcionamento da Saúde Pública na informação e no treinamento de equipes técnicas e, com isso, reduzir ou acabar com qualquer sequela proveniente da doença”, encerrou Márcia, que é também coordenadora da Rede Criptococose do Brasil (RCB).

A RCB é uma rede de estudo interdisciplinar sobre a criptococose, composta por vários centros brasileiros de pesquisa e diagnóstico da doença envolvendo, além do Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Ceará, Piauí, Pará, Roraima e Minas Gerais. Universidades, institutos de pesquisa, hospitais, laboratórios de saúde pública, entre outras instituições, também integram a Rede.

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