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Atualizações sobre a infecção pelo vírus zika foram apresentadas em simpósio

Pesquisadoras na mesa de abertura ao lado do diretor da unidade

26/02/2019

Por: Everton Lima (IFF/Fiocruz)

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O Simpósio de atualizações sobre a infecção congênita pelo vírus Zika foi realizado em 18/2, no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), com o intuito de transmitir para os profissionais o conhecimento que foi construído nas pesquisas e no cuidado das crianças que foram acometidas pela doença. Diante de um auditório lotado, o diretor do IFF/Fiocruz, Fábio Russomano, foi o responsável pela saudação. “Como Instituto Nacional nossa missão é de promoção da saúde da mulher, da criança e do adolescente, com ferramentas de pesquisa e ensino. Eventos como esse permitem o compartilhamento de conhecimentos adquiridos na pesquisa, representam o retorno para a sociedade dos investimentos recebidos, consolida nossa missão e contribui para um melhor cuidado de nossos pacientes”, afirmou ele.

Iniciando a mesa de abertura, a coordenadora de Pesquisa do IFF/Fiocruz, Maria Elisabeth Lopes Moreira, ressaltou que a Zika tem tornado visível crianças que eram invisíveis. “Acredito claramente que a pesquisa melhora a assistência e traz benefícios devido à produção de conhecimento. Pouco se falava do desenvolvimento das crianças no nosso país e, hoje, possibilidades passaram a ser discutidas para facilitar a vida delas e melhorar a sociedade como um todo”, alegou ela. Com a palavra, o diretor do Centro de Estudos Olinto de Oliveira (CEOO), Antonio Flávio Meirelles, pontuou que há quatro anos esse assunto era completamente desconhecido. “Com o surto da doença em 2015, o Instituto se mobilizou para responder a uma emergência sanitária e atender as demandas que estavam surgindo. Então, temos muito orgulho de olhar para trás e ver tudo o que foi produzido, conquistas, avanços em direitos e acesso a formação e informação sobre esse cuidado”, completou ele.

A seguir, a infectologista pediátrica do IFF/Fiocruz Sheila Pone avaliou a trajetória do trabalho que vem sendo realizado. “É um ganho pessoal, pois desenvolvemos um relacionamento muito estreito com essas famílias, e profissional, por começar a dar respostas para uma doença que pouco se sabia a respeito, com isso, conquistamos publicações sobre o tema em revistas internacionais renomadas, além de poder atuar de maneira multiprofissional, com várias especialidades, com o objetivo final de um melhor tratamento”, contou ela. Finalizando a mesa de abertura, o coordenador do Ambulatório de Zika do IFF/Fiocruz, Marcos Pone, fez questão de mencionar o envolvimento da equipe desde o início do projeto. “São os responsáveis pelos avanços conquistados”, encerrou ele.


Plateia lotou o auditório do Centro de Estudos Olinto de Oliveira (Foto: IFF)

Na sequência, a infectologista pediátrica do IFF/Fiocruz Mitsue Aibe falou sobre os Aspectos clínicos e epidemiológicos da Zika. Mitsue explicou que o vírus Zika foi descoberto em Uganda, na África, em 1947, e que a doença pode ser transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, via sexual e vertical, quando a mãe transmite para o feto durante a gestação. O vírus Zika foi isolado pela primeira vez no Brasil no início de 2015, mas a doença era considerada, até então, como uma “dengue leve”. A infectologista informou que o quadro clínico é formado por febre baixa, manchas vermelhas pelo corpo inteiro, conjuntivite não purulenta (olho avermelhado, mas sem pus), inchaço nas extremidades, como mãos e pés, dor no corpo, nas articulações e ao redor dos olhos.

Em setembro de 2015, houve um aumento 20 vezes maior de notificação de microcefalia em Pernambuco, uma condição rara em que a cabeça da criança é menor que o normal. “Em agosto de 2015, os primeiros casos apresentaram investigação negativa para outras infecções congênitas, então era alguma infecção que dava manchas pelo corpo nas mães e que não eram as já conhecidas, coincidindo de ser seis meses antes do início do surto de Zika no Nordeste”, esclareceu Mitsue.

Em novembro de 2015, o governo declarou “emergência em saúde pública nacional”, com cerca de quatro mil crianças em investigação no país, e lançou a primeira cartilha como plano de enfrentamento. No final deste ano e início de 2016, após acompanhamentos e publicações de artigos, foi comprovado que o vírus do Zika pode causar microcefalia nos fetos. Com esse cenário, em fevereiro de 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou “emergência de saúde pública de interesse mundial”, pois o vírus estava se espalhando rapidamente, principalmente pelas Américas do Sul, Norte e Central, com relatos de alterações neurológicas nos bebês nascidos em surtos de Zika em outros países. “A Microcefalia não é uma doença, é um sinal de alerta para alterações do sistema nervoso central que indica a necessidade de avaliação clínica e exames de imagem do crânio (ultrassom, tomografia computadorizada ou ressonância). Mas, não é obrigatória e nem a única forma grave, a Síndrome de Zika congênita inclui outras alterações do sistema nervoso central, alterações oculares e alterações articulares”, ponderou a infectologista.

Mitsue listou que a microcefalia e alterações neurológicas podem causar irritabilidade, alterações de tônus muscular, paralisia cerebral, atraso global do desenvolvimento e epilepsia. Como orientações para gestantes, ela indicou a proteção contra o mosquito, evitar água parada, principalmente nas épocas de chuva, usar repelentes, roupas claras, evitar perfumes e usar mosquiteiros (telas nas janelas de casa), fazer acompanhamento pré-natal e procurar atendimento médico em caso de suspeita de Zika. “No momento, não há tratamento para o vírus da Zika, mas vacinas estão em desenvolvimento e existem estudos sobre medicações que podem evitar o efeito do vírus nos fetos”, concluiu ela.

Em seguida, a biomédica do IFF/Fiocruz Daniela Prado Cunha abordou os Desafios do diagnóstico laboratorial da infecção pelo Zika vírus. Sobre persistência viral, a biomédica mencionou que na urina o vírus persiste por mais tempo, por até 30 dias após o início dos sintomas. Já no sangue, ele permanece após até sete dias do início dos sintomas, o mesmo acontece na saliva e no leite materno, além de também ter uma ampla persistência viral no sêmen. Daniela comentou que a maioria dos casos de infecção são confirmados durante a gravidez, no pré-natal, e que o líquido amniótico é disparado a amostra que tem a maior carga viral, mas o acesso a ele nem sempre é possível, por isso, é utilizada a urina, pois ela é uma amostra mais adequada, com mais chances de detectar o vírus. “O diagnóstico laboratorial para o Zika vírus é muito importante, mas permanece desafiador devido à janela de tempo limitada para a detecção do vírus e a dificuldade de diagnosticar em regiões de circulação de outras doenças pela reação cruzada. Sendo assim, ter um teste rápido de Zika é fundamental, visto que, somente 20% dos casos têm manifestação clínica”, ressaltou ela.

Durante o encontro, foram discutidos também os temas Alterações neurológicas, oftalmológicas e ortopédicas nas crianças com infecção congênita pelo vírus Zika, A interdisciplinaridade no acompanhamento e na estimulação das crianças com infecção congênita pelo vírus Zika, o papel da fisioterapia, da fonoaudiologia e da terapia ocupacional e os Aspectos psicológicos e sociais envolvidos no cuidado das crianças com infecção congênita pelo vírus Zika. Por fim, o evento contou com depoimentos de mães de crianças com infecção congênita pelo vírus Zika que são acompanhadas no Instituto. “Está faltando diálogo e respeito, pois é fácil falar que eles são deficientes, difícil é apoiar e incluir eles”, disse Aline Amorim. “A sociedade fica julgando sem conhecer e veem nossos filhos como doentes, mas não, eles são portadores de necessidades especiais e a sociedade tem que mudar a visão em relação a isso. Precisamos nos unir para lutar e acredito que no coletivo vamos conseguir avanços para as nossas crianças”, finalizou Amanda Mota.

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