14/11/2017
Por: Aline Câmera (Agência Fiocruz de Notícias)
O último dia da consulta internacional sobre Ciência, Tecnologia e Inovação na implementação da Agenda 2030 e no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) relacionados à saúde reuniu, no Museu da Vida, em Manguinhos (RJ), organismos internacionais, pesquisadores e representantes de movimentos sociais e da sociedade civil. No centro das discussões, a relevante contribuição das tecnologias sociais. O encontro foi marcado também pelo lançamento da Plataforma Ágora, que faz parte da estratégia da Fundação para a iniciativa global, e do aplicativo We App Heroes, desenvolvido pela Suncious e o Centro Rio+, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Ao longo do dia, uma mostra reuniu diversas iniciativas de tecnologias sociais na praça Pasteur, ao lado do Castelo Mourisco.
“Nossa intenção é estreitar os laços e dar visibilidade a essa gama de movimentos sociais e de organizações que acumularam ricas experiências ao longo dos últimos anos. As soluções desenvolvidas possuem um grande potencial no processo de produção de conhecimento, inovação e mobilização das pessoas em torno de questões relevantes da Agenda 2030 e dos ODS”, antecipou Paulo Gadelha, coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030.
Consenso entre as autoridades presentes na abertura do encontro - que além de Gadelha, contou com a presidente da Fundação, Nísia Trindade Lima, com o chefe do setor de análise de políticas da divisão para o desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, Shantanu Mukherjee, e com o diretor do Centro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável do Pnud, Romulo Paes - o sucesso da Agenda 2030 está diretamente ligado a um conjunto de fatores que incluem, entre outros aspectos, a Ágorinovação, seja em pequenas ações do dia a dia, seja na aplicação de tecnologias mais robustas, e, sobretudo, a capacidade de mobilização popular.
“O desenvolvimento sustentável nos remete, em geral, a um processo de transformação profundo, que exige a mobilização de grandes atores, como governos e grandes empresas. Na verdade, esta é apenas uma parte. Não podemos esquecer a importância do engajamento dos indivíduos, da sociedade civil como um todo e a necessidade de reunir conhecimentos pouco utilizados até então. Por isso a importância de hoje estarmos reunidos para compartilhar experiências no campo das tecnologias sociais”, destacou Romulo Paes.
O chefe do setor de análise de políticas da divisão para o desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, Shantanu Mukherjee, iniciou sua fala questionando os presentes: “vocês saberiam me dizer qual foi o primeiro objetivo global atingido pela ONU?”. Segundo ele e para surpresa das gerações mais novas, a primeira meta alcançada foi a erradicação da varíola. “Com o tempo, outros objetivos foram pactuados. O que podemos observar é que a melhoria da saúde das pessoas, em geral, está relacionada a barreiras sociais e condições que dificultam o acesso. A colaboração necessária para alcançarmos as metas é muito mais ampla, vai além do que é realizado pelos governos”, pontuou ele.
Na mesma linha, a presidente Nísia complementou: “Este é um exemplo muito apropriado, pois jamais teríamos chegado à erradicação, se não fosse a união entre pesquisa, tecnologia, política continuada de governos, a própria incorporação da vacina e as estratégias de mobilização”. A presidente enfatizou, ainda, que a integração de ações desses diversos campos representa um grande desafio no cenário atual. Ela ressaltou a importância da inclusão das tecnologias sociais no contexto das políticas públicas.
Ágora 2030 e We App Heroes: plataformas a serviço da Agenda 2030
Como parte da estratégia consolidada para a Agenda 2030, a Fundação lançou, durante o encontro, a Plataforma Ágora. O espaço virtual oferece acesso a uma rede que promove a possibilidade de interação entre diferentes atores sobre os temas relacionados à saúde e aos ODS. A frente do desenvolvimento da plataforma, coube a Claudia Martins apresentar as funcionalidades do instrumento, que inclui, entre outras características: um espaço para notícias e divulgação de eventos, um repositório de arquivos, possibilidade de criação de sub-redes para discussão de tópicos específicos e o desafio de curadoria de iniciativas para um mundo sustentável.
Com o objetivo de operacionalizar os desafios de curadoria de soluções para os ODS dentro da ferramenta, a equipe responsável desenvolveu o aplicativo Ágora 2030, em que os participantes são convidados a desenvolverem inovações tendo como pano de fundo o Castelo da Fiocruz. A cada fase, novos desafios são propostos, colocando em prática as metas dos ODS na Agenda 2030.
Fruto de uma parceria entre a empresa Suncious, representada no evento por Valentina Hernandez, e o Centro Rio+, do Pnud, também foi apresentado, na ocasião, o aplicativo We App Heroes. Por meio da tecnologia georeferencial, a ferramenta pretende reunir usuários que residam na mesma localidade e que possam, juntos, buscar soluções para os problemas comuns. Ao reunir pessoas dispostas a oferecer ajuda voluntária, o aplicativo propõe os pilares para uma economia colaborativa que reduz custos ambientais, sociais e econômicos na realidade urbana.
Para Gadelha, as iniciativas representam um importante componente para o desenvolvimento da atitude cooperativa em prol do alcance dos ODS. “O lançamento dessas plataformas são instrumentos fundamentais para a capacidade de constituição de redes colaborativas, trocas de experiências, de debates e mecanismos de facilitação para que essas tecnologias possam ser ampliadas”, sinalizou o ex-presidente da Fundação.
Rodas de conversa estimularam a troca de experiências
A primeira roda de conversa, intitulada Lições das Plataformas Online: Facilitando o Uso e Oferecendo Exemplos de Melhores Práticas, teve como moderador o secretário executivo da Estratégia Fiocruz na Agenda 2030, Guilherme Franco Netto. O painel reuniu experiências que já estão em curso como o caso da plataforma do Pnud focada na proteção social global; das cisternas e outras iniciativas de articulação do semiárido brasileiro; do Programa de Computação Científica da Fiocruz, responsável por desenvolver as ferramentas de notificação e monitorização de casos de gripe e arboviroses; do trabalho desenvolvido pela Fundação Banco do Brasil que atualmente possui quase mil tecnologias sociais certificadas, dentre as quais, seis têm a cooperação da Fiocruz; além das iniciativas da ONU no uso da tecnologia a favor da Agenda 2030.
Convidada para comentar as apresentações, em companhia da pesquisadora da Fiocruz, Teresa Campello, a presidente do Centro de Autonomia e Desenvolvimento da População Indígena da Nicarágua, Mirna Cunningham, enfatizou a importância da construção de alianças por um mundo mais equânime. “Precisamos estimular cada vez mais a associação entre a academia e os movimentos populares, pois desta forma multiplicamos a capacidade de inovação e criação de novas tecnologias. A tecnologia, associada à inovação social, permite recuperar a dignidade e os valores de uma sociedade. Esse é o caminho para alcançarmos os ODS”.
Já à tarde, as discussões giraram em torno da relação das tecnologias sociais com a saúde. O vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Marco Menezes foi o responsável por coordenar as explanações, ao lado do coordenador do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), Edmundo Gallo. “A riqueza das apresentações nos mostram o potencial de transformação que temos nas mãos. Precisamos agora pensar juntos a melhor forma de articular todas essas ações na perspectiva de trabalhar em rede e, assim, contribuir para a Agenda 2030”, pontuou o vice-presidente da Fundação.
A roda que fechou as atividades do encontro contou com a participação dos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Claudio Cordovil e Marcelo Firpo; do representante do Sebrae, Aly Ndiaye, que está a frente do programa de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais/Sebrae); do coordenador do Fórum de Comunidades Tradicionais do OTSS, Vagner do Nascimento; de Francisco Menezes, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase); e de Carmen Lúcia Luís, representante do Conselho Nacional de Saúde.
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