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Ação Cidadania PcD na Maré une academia e movimentos sociais no território


25/09/2023

Barbara Souza (Informe Ensp)

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Promover união entre a academia e os movimentos sociais e efetivar a integração com o território em busca de uma saúde global. A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) fortaleceu essas duas prioridades institucionais durante a Ação Cidadania da PcD na Maré, realizada no última sábado (23/9) no Centro de Artes da Maré, complexo de favelas na zona Norte do Rio de Janeiro. A atividade celebrou o aniversário de 69 anos da Ensp/Fiocruz e o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência.

O evento reuniu moradores locais, profissionais de saúde, pesquisadores, militantes e membros da ONG Luta Pela Paz, do coletivo Especiais da Maré e do Acolhe PcD (foto: Informe Ensp)

 

“Essa pauta precisa ser desenvolvida em conjunto. Nós viemos aqui para ouvir relatos das pessoas que enfrentam no dia a dia as consequências de uma dívida que o Estado brasileiro tem com essa população invisibilizada. Por isso, estar aqui é um compromisso das instituições públicas como a Ensp, como a Fiocruz. Trata-se de um dever nosso e uma missão institucional. Se estamos falando de um momento para a construção e reconstrução de políticas públicas e de de um novo SUS, que ele seja mais diverso e mais inclusivo”, afirmou o diretor da Ensp/Fiocruz, Marco Menezes, que lembrou que o  Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, 21 de setembro, está no calendário oficial da Escola a fim de gerar mobilização em torno do tema. 

A pesquisadora da Ensp/Fiocruz Laís Costa, uma das principais lideranças da mobilização do evento, agradeceu o apoio institucional da Escola. “É uma alegria ter este evento incorporado a este aniversário da Escola. Pela primeira vez, em 69 anos, a imagem da celebração tem representação das pessoas com deficiência. Há uma importância histórica em sensibilizar, produzir conhecimento e formar trabalhadoras e trabalhadores de saúde para cuidar de todas as pessoas, sem deixar ninguém de fora”. 

O evento reuniu moradores locais, profissionais de saúde, pesquisadores, militantes e membros da ONG Luta Pela Paz, do coletivo Especiais da Maré e do Acolhe PcD. A ação foi promovida pela Ensp/Fiocruz com o apoio desses movimentos e em parceria com as secretarias municipal e nacional da Pessoa com Deficiência, o Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e o Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública (Asfoc-SN). Durante a roda de conversa ‘Escuta das Vivências de Pessoas com Deficiência em Favelas’, moradoras de favelas falaram sobre suas experiências e dificuldades para os gestores presentes, que ouviram atentos. 

“A maior dificuldade que temos é a falta de acessibilidade, que se estende a tudo e afeta todas as áreas de nossas vidas. O lugar onde eu moro me torna dependente da ajuda de outras pessoas. Há muitos que, assim como eu, chegam a ficar isolados em suas casas por morarem em locais inadequados dos quais não conseguem sair e se deslocar sozinhos. Nós podemos ser independentes desde que o local não prejudique. Se eu pudesse, não moraria aqui, pois essa falta de acessibilidade causa sofrimento, até mesmo psicológico, o que compromete também a saúde mental”, relatou a gestora do Especiais da Maré, Antônia Maria Pirangi. 

“Em nome do Estado brasileiro, a gente pede perdão por tanta invisibilidade”, declarou a secretária nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Anna Paula Feminella, após o desabafo de Antônia e de outras mães do Especiais da Maré que compartilharam as dificuldades das pessoas com deficiência que vivem em comunidades. A secretária ressaltou que a discriminação contra pessoas com deficiência, o capacistismo, mata assim como o racismo, por exemplo. “A deficiência não pode ser entendida como uma tragédia. Na história da humanidade sempre existiram pessoas com deficiência. É uma condição humana que precisa ser abarcada por todas as áreas”.

A atividade celebrou o aniversário de 69 anos da Ensp/Fiocruz e o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência (foto: Informe Ensp)

 

O coordenador da Assessoria de Relações Institucionais da Fiocruz, Valber Frutuoso, destacou a importância da presença da instituição na comunidade. “Estar aqui, institucionalmente, é muito representativo porque fortalece as ações de enfrentamento à falta de condição de saúde, a luta contra o capacitismo, mas principalmente a valorização e o reconhecimento da relevância dos territórios para a construção de uma saúde melhor, global e integrada”. A mensagem foi corroborada pelo coordenador de Gestão Estratégica da Cooperação Social da Fiocruz, Gabriel Simões, que disse que o evento na Maré é um exemplo contra o encastelamento da ciência. “Precisamos desse deslocamento da instituição até o território para agir junto com as pessoas numa simbiose”, defendeu. Na mesma linha, o vice-presidente da Asfoc-SN, Paulo Garrido, afirmou que “é sempre importante lembrar que a sabedoria está no território, na favela, com a população e com as pessoas com deficiência”. 

O coordenador-geral de Saúde da Pessoa com Deficiência do Ministério da Saúde, Arthur Medeiros, lembrou da elaboração do plano Viver Sem Limite, do governo federal, e reafirmou o compromisso com o simbolismo que marcou a posse do presidente Lula em seu terceiro mandato. “Temos que honrar as pessoas que subiram aquela rampa em 1º de janeiro. Precisamos pensar em políticas públicas que considerem de fato a interseccionalidade e todas as particularidades das pessoas com deficiência”. 

Durante a ação, o IFF/Fiocruz e a Rede Global de Bancos de Leite Humano ofereceram orientações sobre aleitamento materno para famílias com pessoas com deficiência e realizaram um bingo educativo sobre os direitos desta população. Após agradecer a participação das profissionais do Serviço Social e do Banco de Leite, o diretor do instituto, Tom Meirelles, afirmou que pensar na inclusão “o tempo todo” é uma missão no trabalho dos gestores públicos. “Também é preciso ter a preocupação permanente com quem cuida. A sociedade, que é machista, concentra toda a responsabilidade do cuidado com as crianças com deficiência nas mães”, lamentou. 

A programação de atividades realizadas na Ação Cidadania PcD estava recheada. A Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência do Rio realizou oficina de Tecnologia Assistiva de baixo custo, ação educativa Eu Me Protejo com crianças (prevenção contra violência), apresentação de ações de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) para alfabetização nas escolas públicas municipais, atendimento multidisciplinar com circuito funcional para crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, orientações sobre a Política de Assistência Social (empregabilidade, capacitação, emprego apoiado) e orientações sobre nutrição e de fisioterapia para cuidadoras de PcD. Teve ainda Oficina de Libras, com membros da Cooperação Social Fiocruz, apresentação de capoeira do Luta Pela Paz e muita brincadeira para as crianças, com pula-pula, oficina de balões e pintura. 

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