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Abertura do Congresso RedPOP trouxe o líder indígena Idjahure Kadiwel

Mesa de abertura do congresso redpop

11/07/2023

Por Leonardo Minardi, Vanessa Brasil e Renata Fontanetto (COC/Fiocruz)

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De 10 a 16 de julho, o Museu da Vida Fiocruz abriga o 18º Congresso da RedPOP. Centenas de participantes da América Latina e de outras regiões estão presentes no campus da Fiocruz em Manguinhos para atividades acadêmicas, educativas e culturais no maior congresso de divulgação científica latino-americano.

Nesta segunda (10), o evento de abertura no Museu do Amanhã trouxe o pesquisador, antropólogo e escritor Idjahure Kadiwel, em um bate-papo especial sobre ciência, conhecimento e meio ambiente, mediado pelo professor e chefe do departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fabio Scarano. Pela manhã, 13 minicursos foram realizados de forma simultânea, reunindo cerca de 300 pessoas em Manguinhos e no Museu do Amanhã.

Um dia de aprendizado


Embalado pelo tema “Vozes Diversas: diálogo entre saberes e inclusão na popularização da ciência”, o primeiro dia teve grande foco nos minicursos, que aconteceram de forma simultânea entre as 9h e 17h. Ao todo, foram 13 módulos, que reuniram instrutores e congressistas, entre pesquisadores, jornalistas, divulgadores da ciência e membros da comunidade cultural.

Dando o pontapé inicial do evento, o Centro de Documentação em História da Saúde (CDHS) recebeu o módulo "Fake news, ciência e saúde: conhecer para analisar e se proteger", ministrado pela jornalista e pesquisadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) Vanessa Brasil. 

De acordo com a paraense, o tema é fundamental para a divulgação científica e a sociedade. “Estamos em um contexto de muita crítica à ciência e muita polarização política que também reverbera no cenário científico. Então, é cada vez mais importante termos uma informação bem escrita e bem divulgada”, afirmou.

Na sala ao lado, ainda no CDHS, aconteceu o minicurso “CienciArte, Inovação e Divulgação Científica nos espaços de ensino não formal e formal”. As organizadoras aproveitaram a experiência das coleções temáticas dos fascículos “CienciArte no Ensino”, publicados pelo Setor de Inovações Educacionais do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do Instituto Oswaldo Cruz.

“A relação ciência-arte ainda está em processo permanente de construção. Ao trocarmos experiências, todos têm a ganhar. Podemos aprender uns com os outros, compartilhando ideias e identificando interlocutores. A maior dificuldade é respeitar a especificidade de cada campo sem empobrecê-lo”, pontuou uma das palestrantes. 

Já no minicurso “Acessibilidade a pessoas com deficiência em atividades museais e de divulgação científica on-line”, os participantes puderam conhecer iniciativas que estão buscando refletir sobre a acessibilidade em espaços de conhecimento da sociedade. Segundo Jéssica Norberto Rocha, pesquisadora da Fundação Centro de Ciências e de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Fundação Cecierj), um dos desafios é justamente conceber uma atividade de forma inclusiva.

“Nos museus, temos diferentes públicos e eles não são estanques. Estão conectados e são diversos ou uma única pessoa pode trazer diferentes marcadores sociais. Essas pessoas são dinâmicas, assim como a sociedade é. Num museu, em atividades presenciais ou on-line, precisamos pensar as atividades para todas essas pessoas”, explicou.

Já o módulo “Técnicas e métodos de pesquisa em percepção pública da ciência”, ministrado pelo professor do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH), Yurij Castelfranchi, abriu o debate sobre pensar “fora da caixinha”. De acordo com Rafael Araújo, estudante de biologia e pesquisador de educação ambiental, “o minicurso trouxe um olhar que não vemos tanto no bacharelado, que é a pesquisa em educação".

O pós-graduando em física e monitor no Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC), Aurélio Pena, acrescentou ainda que “muitas pesquisas são feitas de forma enviesada e precisamos ser críticos na forma que a gente lê as pesquisas que saem na mídia”. Ele também reafirma a importância do congresso: “encontramos os mesmos problemas, porém com diferentes soluções, abordagens únicas em espaços semelhantes. Isso nos faz sair um pouco do cercadinho e entender o que vem sendo feito, de forma científica, no Brasil e na América Latina".

Cerimônia de abertura com vozes diversas

No Museu do Amanhã, a cerimônia de abertura contou a participação do líder indígena, pesquisador, escritor e antropólogo Idjahure Kadiwel, que discorreu sobre o tema “Ciência, Conhecimento e Meio Ambiente”, em conferência mediada pelo professor e chefe do departamento de Ecologia da UFRJ, Fabio Scarano.

"A RedPOP tem um alcance regional no continente, e esse tema da popularização da ciência é essencial. Estamos particularmente felizes em abrir esse evento no Museu do Amanhã,  porque já passou do tempo de falar de ciência e de ciências. O evento deste ano tem muito esse olhar do diálogo, do conhecimento científico com outros saberes, e a gente vai poder compartilhar um pouco disso, compartilhar os conhecimentos que temos de sobra no nosso continente", disse Scarano.
Um dos principais assuntos abordados foi a representatividade do saber indígena na sociedade. "A partir desse lugar de fala, já que sou doutorando em antropologia da Universidade de São Paulo (USP) e indígena dos povos Terena e Kadiwéu (do Mato Grosso do Sul), acho que é uma grande oportunidade para que as vozes dos povos originários possam estar na mesma mesa, na mesma roda de conversa com pesquisadores e cientistas de vários campos do saber. Acredito que os saberes indígenas têm muito a ensinar, fazendo intercâmbio com vários campos como a arqueologia, ecologia, entre tantos outros", explicou o palestrante da noite, Idjahure Kadiwel.

Apresentação do bloco de carnaval Bésame Mucho no Museu da Vida
Apresentação do bloco Bésame Mucho no Museu da Vida (Foto: Rogério Villar)

O antropólogo também mencionou a importância de popularizar a ciência e dialogar com todas as línguas. "Acho que todas as transformações sociais possuem uma base na ciência e no campo científico. O Brasil tem muito a amadurecer nesse sentido, tanto por parte da comunidade científica, da educação e da tecnologia, para conseguir se popularizar e falar mais a língua do povo, avançar o investimento em pesquisa e tornar a ciência algo mais popular, mais comum", concluiu.

O conferencista também convidou um grupo flaustista do povo baniwa, do Alto Rio Negro. A apresentação levou a voz e a musicalidade dos povos originários para o palco. 

Completando a cerimônia de abertura, compuseram a mesa oficial do evento: Ernesto Polcuch, diretor regional da Unesco Montevidéu; Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda, Secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social; Karina Miranda Gama, diretora de Promoção da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura;  Maria de Lourdes Patiño Barba, diretora executiva da RedPOP; Cristina Araripe, da Coordenação de Divulgação Científica da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz; e Marcos José de Araújo Pinheiro, diretor da Casa do Oswaldo Cruz.

Finalizando a noite, o bloco de carnaval Bésame Mucho reuniu a banda e transformou os congressistas em foliantes, em um verdadeiro carnaval da ciência.

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