30/01/2018
Fonte: COC/Fiocruz
A Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) lembra os 150 anos de nascimento de Luiz Moraes Júnior, engenheiro-arquiteto responsável por projetar o Pavilhão Mourisco, o Castelo, símbolo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Nascido em Portugal, em 28 de janeiro de 1868, filho do comerciante Luiz Moraes e de Eugênia Amélia da Fonseca Moraes, Luiz Moraes Júnior passou infância e adolescência na cidade de Faro, Algarve. Formou-se pela Universidade de Lisboa, iniciando carreira como engenheiro ferroviário. Casou e teve duas filhas.
Em 1900, deixou a família em Portugal e veio para o Brasil. No Rio de Janeiro, deu início às obras de restauração da fachada da Igreja da Penha, concluída em 1902. Foi durante o trajeto de trem para o trabalho que conheceu Oswaldo Cruz, que fazia o mesmo percurso até Manguinhos. Entre idas e vindas, começaram uma amizade. A partir daí, a trajetória profissional de Moraes Júnior foi impulsionada: de engenheiro ferroviário, em Portugal, seria, anos mais tarde, reconhecido por seus projetos e obras relacionadas à saúde pública no Brasil.
“A história do Luiz Moraes Júnior tem uma relação muito estreita com a própria história da Fiocruz, uma vez que ele foi responsável pela construção do prédio símbolo da instituição. Neste sentido, lembrar os 150 anos deste arquiteto é destacar sua enorme contribuição para a formação de uma base sólida para a sede da Fiocruz em Manguinhos, em que se perpetuou uma das maiores instituições de saúde pública do mundo”, ressaltou o arquiteto, urbanista e pesquisador da COC/Fiocruz, Renato Gama-Rosa.
Arquitetura para ciência e a saúde
Chefe da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), Oswaldo Cruz convidou Luiz Moraes Júnior para um ousado projeto. Tendo como inspiração um desenho feito pelo próprio cientista, ele ficaria responsável por projetar e construir, em Manguinhos, o que anos mais tarde seria reconhecido como um local de referência para ciência e a saúde: o Castelo Mourisco, que em 2018 completa 100 anos. Além do Castelo da Fiocruz, Moraes Júnior também executou os projetos de instalações que, atualmente, formam o Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos (NAHM), composto pelo Pavilhão do Relógio ou da Peste; a Cavalariça; o Quinino ou Pavilhão Figueiredo Vasconcellos; o Pombal ou Biotério para Pequenos Animais; o Hospital Evandro Chagas; e a Casa de Chá.
“Oswaldo Cruz demandou a ele uma estrutura muito sólida, que pudesse demarcar o nascimento da ciência no Brasil Republicano, e Moraes respondeu com maestria. Acredita-se que eles tenham conversado e estudado muito para entender quais eram as particularidades de uma arquitetura própria para saúde”, ressaltou Renato Gama-Rosa. “O fato de ter nascido em Faro, região que possui muitas construções em estilo neomourisco, fez como que ele contribuísse de maneira relevante na construção do Castelo, já que estas características faziam parte da sua cultura arquitetônica, e este conjunto arquitetônico de Manguinhos foi o projeto de maior destaque de Moraes Júnior, o que faz as pessoas lembra-lo como grande arquiteto”, completou o pesquisador da COC.
Com a experiência na área, adquirida por sua dedicação a Manguinhos, Luiz Moraes Júnior acumulou projetos e obras nos campos da arquitetura hospitalar, sanitária e médico-experimental: foram quase vinte empreendimentos desenvolvidos. Entre os principais trabalhos realizados estão a sede da Policlínica do Rio de Janeiro, na antiga Avenida Central, hoje Rio Branco, a conclusão das obras do Desinfectório de Botafogo, na Rua General Severiano, o atual Hospital Rocha Maia; os Dispensários da Fundação Gaffré Guinle; e a reforma do Hospital do Engenho de Dentro e da Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro. No entanto, Moraes Júnior não se limitou a arquitetura hospitalar e executou diversos projetos em outras áreas, como na reforma do Mosteiro de São Bento, na construção da residência da família Oswaldo Cruz, localizada na Praia de Botafogo, já demolida; o Grande Hotel e o prédio do jornal Tribuna de Petrópolis, ambos em Petrópolis; e o túmulo de Oswaldo Cruz no Cemitério São João Batista. Na Alemanha, atuou na montagem e decoração de uma exposição em Berlim, e no projeto de construção e decoração do Pavilhão de Exposição de Dresden.
Preso às tradições de sua época, segundo Gama-Rosa, Luiz Moraes Júnior possuía um tipo de projetar característico da arquitetura tradicional: era eclético e historicista. “Ele era um homem do século 19. Seus projetos valorizavam a decoração e os detalhes, possuíam referências e, de certa forma, seguiam caraterísticas rebuscadas. No entanto, isso não é um demérito, era apenas uma questão de formação”, explicou Gama-Rosa. “Estas características, no entanto, não o impediram de projetar instalações práticas e de forma racional no uso dos materiais. Foi capaz de adaptar e transformar projetos em espaços arquitetônicos utilizáveis e simples, como o Pombal, que possui simplicidade geométrica, sem muitos arabescos e sem decoração, pois na concepção dele, precisava ser uma construção funcional”, completou.
Arquiteto respeitado e participante do Clube do Bandeirantes
Engenheiro-arquiteto atuante, respeitado profissionalmente, Luiz Moraes Júnior passou a ter forte influência entre a colônia portuguesa do Brasil. Foi consultado por seus membros sobre uma obra que seria realizada em Coimbra. “Ele foi convidado para opinar sobre o projeto de adaptação de um antigo mosteiro em um abrigo para crianças órfãs da Primeira Guerra. Sua influência era tão notória que o projeto só seguiu a diante, só foi permitido, depois que ele deu o aval. Esse mesmo edifício seria depois transformado em Hospital-Sanatório, até hoje em funcionamento”, destacou Renato Gama-Rosa.
Fora do ambiente profissional, Luiz Moraes Júnior era participante assíduo do Clube dos Bandeirantes: grupo de intelectuais e profissionais, entre médicos, engenheiros, jornalistas, escritores e advogados, que se reunia semanalmente para defender os ideais brasileiros da época. “Mesmo sendo ele um português, pertencia a este respeitado grupo. Esta sociedade, por exemplo, foi contra a vinda do engenheiro francês Alfred Agache, que em meados dos anos 30, foi convidado a elaborar projetos urbanos para a então Capital Federal. Isto porque acreditavam que sua chegada poderia significar a perda de mercado e clientes para os arquitetos que viviam aqui”, finalizou Renato Gama-Rosa. Luiz Moraes Júnior faleceu em 15 de julho de 1955, aos 87 anos, no Rio de Janeiro.
Imagens: Casa de Oswaldo Cruz
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