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Entrevista: Laís Fonseca explica sobre testes de equivalência e bioequivalência

Imagem de rosto de mulher sorrindo

05/09/2014

Por Clarisse Castro/Portal Fiocruz

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A coordenadora do Serviço de Equivalência e Farmacocinética, ligado à Vice-presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Laís Fonseca*, explica nesta entrevista a importância do serviço prestado pelo laboratório, sobretudo no que se refere à bioequivalência, que envolve um maior investimento em tecnologia.

Em que momentos os testes de equivalência e bioequivalência são requeridos?
Os dois testes são requeridos na hora em que um medicamento é submetido ao registro ou renovação de registro na Anvisa. Qualquer medicamento hoje, genérico ou similar, para obter o registro aprovado na Anvisa tem que apresentar os ensaios de equivalência farmacêutica e de bioequivalência.

Apenas os medicamentos produzidos no Brasil ou aqueles que serão comercializados aqui?
Todos os que que serão comercializados, pois, para isso, precisam do registro da Anvisa, mesmo que sejam medicamentos importados.

No Brasil, os testes de equivalência e bioequivalência podem ser realizados por quem?
Por laboratórios habilitados pela Anvisa para realizar este tipo de serviço. Os laboratórios de equivalência existem em quantidade maior. Há laboratórios públicos, vinculados às universidades e centros de pesquisas públicos, e também os laboratórios privados.  Já quanto aos de bioequivalência, só há cinco públicos: o Sefar, um vinculado à Universidade Federal do Ceará, outro à Universidade Federal de Pernambuco, o quarto associado à Universidade Federal de Minas Gerais, e um vinculado à Universidade Federal de São Paulo. Todos os demais são privados.

Quando esses testes custam para a rede pública?
Isso varia muito de medicamento para medicamento e da complexidade da análise. Se é um medicamento com um fármaco, se são dois fármacos no mesmo produto...

Por exemplo?
Para um medicamento comum usado para diabetes, o ensaio de equivalência custaria na faixa de uns R$12 mil, pois são só testes físico-químicos. Já os de bioequivalência sairiam na faixa de uns R$250 mil, porque aí você envolve voluntários na etapa clínica, precisa alugar uma ala de hospital para fazer a internação deles e realizar os testes. Os valores não são diferentes para uma empresa pública ou privada, porque trabalhamos sobre o nosso orçamento de pesquisa.

Quanto tempo é necessário para a realização dos testes, entre a solicitação e o fim dos testes?
Geralmente, um mês para a equivalência, e depois seis meses para a bioequivalência. Este é o tempo médio. Se o medicamente tiver vários princípios ativos dentro dele, aí o ensaio pode ser mais demorado.

Sobre o espectrômetro de massas, que propriedades fazem dele um equipamento especial?
Em relação aos outros equipamentos, ele tem uma sensibilidade muito maior. Hoje em dia toda a parte dos imunobiológicos, os biotecnológicos e os biofármacos, por exemplo, são analisáveis em equipamentos que têm sensibilidade para detectar este tipo de medicamento, o que os cromatógrafos convencionais, com detector de UV, não têm. Os equipamentos mais novos que recebemos no Sefar pegam fentogramas, parte muito ínfima, então se tiver aquela substância no organismo, mesmo que numa quantidade muito pequena, a gente capta. Aqui fazemos análise de plasma e de sangue total, mas já fizemos análise de urina, e podemos analisar outras secreções do organismo pelas quais o medicamento possa ser excretado. A vantagem disso é, por exemplo, quando a gente trabalha com hormônios (por exemplo, os anticoncepcionais), que têm dosagens muito pequenas, e geralmente são da ordem de microgramas ingeridos oralmente, e isso na circulação é uma quantidade muito pequena, e os equipamentos são capazes de detectar.

Qual o custo do equipamento em média?
Em torno de R$ 1 milhão cada um.

Qual a importância do Sefar no que concerne à população?
O serviço que a gente presta está vinculado à Política Nacional de Medicamentos, que ajuda a fortalecer o cenário nacional de compromisso com o acesso da população aos medicamentos e a fabricação de genéricos, que precisam passar por esses ensaios. Realizamos muitos ensaios aqui dentro para os laboratórios farmacêuticos oficiais – antirretrovirais, antituberculostáticos, antimaláricos.  Temos grande experiência com todos esses medicamentos, que muitos centros não têm, justamente porque trabalhamos com esses laboratórios que atendem às demandas do SUS.

No contexto Fiocruz, temos prestado muitos serviços de farmacocinética para alguns projetos de moléculas novas, de fármacos novos que ainda estão sendo testados para virarem medicamentos.  Temos participado bastante desses projetos de pesquisa com novos fármacos, através de estudos em animais, sobretudo ratos e agora macacos. Muitos projetos são fármacos que já estão patenteados tanto no Brasil quanto no exterior, e já têm resultados bem promissores, com interesse apontado por algumas empresas multinacionais.

Fale sobre as expectativas para os próximos anos.
Queremos aumentar o nosso escopo de atividades. Vamos fazer parte do CDTS, que já tem essa proposta de desenvolvimento e inovação tecnológica. Queremos ampliar nosso trabalho nesta questão de experimentação animal, que é uma área um pouco diferenciada, assim como a parte de investigação da atividade de metabólitos. Muitas vezes, ao administrar um fármaco, percebemos que não é aquela molécula que faz a ação. Ela é metabolizada, se transforma numa outra molécula, o metabólito, e, às vezes, é esse metabólito que tem atividade. Estamos nos especializando cada vez mais em identificar isso.

*Laís Fonsêca é farmacêutica industrial (UFRJ), com mestrado em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia e doutorado em Engenharia Química pela COPPE (ambos da UFRJ).

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