01/04/2014
Fonte: Fiocruz Minas
Pesquisadores do Centro de Pesquisas René Rachou (Fiocruz Minas) depositaram no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) pedido de patente para o kit de diagnóstico diferencial de meningites. O kit é resultado do trabalho liderado pelo pesquisador em Ciências Médicas (Microbiologia, Universidade René Descartes) Roney Coimbra, com potencial para mudar o panorama dos diagnósticos e tratamentos das meningites no Brasil. Segundo a coordenadora do Núcleo de Inovação Tecnológica da Fiocruz Minas, Cristina Carrara, a invenção possibilita, por meio da “detecção combinada e análise sequencial de biomarcadores específicos”, um diagnóstico preciso e eficiente das meningites. Na entrevista, Coimbra esclarece os passos da pesquisa.
Na prática, como funcionará a invenção?
Por meio da análise do líquido cefalorraquidiano, ou líquor (fluido corporal que fica entre as membranas aracnoide e pia-máter das meninges e que também preenche as cavidades intracisternais do cérebro), verificamos a presença de biomarcadores, proteínas da resposta inflamatória dos hospedeiros humanos de meningite. Estudando esses biomarcadores, conseguimos estabelecer, com precisão, qual agente etiológico da meningite infectou o paciente. Essa informação é fundamental para a decisão clínica pela abordagem terapêutica correta.
E essa análise é feita em laboratório?
Estamos padronizando um teste imunológico do tipo ELISA (enzyme-linked imune assay) para validação do método preditivo em um painel amplo de amostras de líquor de pacientes. Com essa versão do teste, o exame será realizado em laboratório. Além disso, estabelecemos uma parceria com uma empresa de biotecnologia brasileira para o desenvolvimento de um teste empregando aptâmeros (anticorpos artificiais) e leitura dos resultados em sistema de eletroforese capilar, o que possibilitará que o diagnóstico seja feito em poucos minutos e no próprio hospital.
Por que a velocidade é tão importante no diagnóstico?
O indivíduo, ao buscar ajuda para uma suspeita de meningite, normalmente está em um estágio avançado da doença, por isso a janela temporal de tratamento já está pequena. O médico tem que decidir sem demora o que fazer, e os testes para meningite atuais são imprecisos e inexatos. O clínico precisa de um teste point-of-care (testes realizados perto de onde o paciente está) que seja acurado e rápido.
Mas é possível realizar um teste 100% eficiente?
Nenhum exame tem 100% de sensibilidade e especificidade (medidas usadas em testes de laboratório que medem, respectivamente, a capacidade do teste em identificar corretamente a doença entre aqueles que a possuem e de excluir corretamente aqueles que não possuem a doença). Mas queremos chegar tão perto disso quanto possível.
Quais as principais vantagens do novo kit de diagnóstico em relação ao método antigo?
O método antigo, por ser lento e impreciso, tem como consequência um grande número de internações preventivas e o uso desnecessário de antibióticos. O diagnóstico rápido evita essas circunstâncias e possibilita o tratamento adequado e imediato. Além disso, o novo teste aumenta a janela temporal de diagnóstico, tornando possível o diagnóstico correto mesmo após a eliminação dos patógenos. Por fim, os resultados não são influenciados pela presença de material genético ou resquícios de patógenos já eliminados, o que é extremamente importante porque a resposta inflamatória exacerbada do paciente pode levá-lo a óbito ou causar lesões mesmo depois da eliminação dos patógenos.
Que parcerias influenciaram no desenvolvimento do trabalho?
Além da Dra. Rosiane Pereira, pesquisadora do CPqRR e coproponente deste projeto junto ao CNPq, tivemos a colaboração das equipes das Plataformas PDTIS de eletroforese 2D (BH), da plataforma PDTIS de Bioinformática (BH) e de espectrometria de massas (RJ), de uma aluna de iniciação científica e uma de mestrado e de colaboradores do Hospital João Paulo II – FHEMIG, que será coproprietário da patente.
Seus estudos sobre o tema estarão encerrados após a finalização da invenção ou pretende se aprofundar mais?
Obtivemos outro resultado importante com o projeto: a identificação de alvos terapêuticos, moléculas cruciais da resposta inflamatória aos patógenos das meningites cujas atividades biológicas podem ser moduladas com fármacos. A partir desta descoberta, iniciamos novos estudos, já em progresso, utilizando modelos experimentais de meningites malignas, visando prevenir a mortalidade e as sequelas decorrentes da doença.
Roney Coimbra é mestre em Microbiologia pela UFMG (1993), doutor em Ciências Médicas - Microbiologia pela Universidade René Descartes, Paris 5 e pós-doutor em Bioinformática/ Genética/ Neurociências no mesmo instituto, seguido de três anos de pós-doutorado em Bioinformática/ Doenças Infecciosas, como Project Leader , no Instituto de Doenças Infecciosas da Universidade de Berna, Suissa. Entre 2005 e 2007, foi Principal Scientist no departamento de Molecular Discovery Research Informatics da GlaxoSmithKline, na Grã-Bretanha, onde atuou na pesquisa de novos medicamentos usando estratégias de Bioinformática e Quimioinformática. Desde 2012 é pesquisador em Saúde Pública da FIOCRUZ, perfil Genômica Funcional.
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