29/10/2024
Alessandro Vieira (WMP Brasil)
Nos dias 30 e 31 de outubro, representantes de 11 municípios brasileiros contemplados pelo Método Wolbachia se reúnem no auditório do TecPar, na Cidade Industrial, em Curitiba, para um encontro que celebra dez anos de implementação da tecnologia no Brasil. O evento conta com a presença de representantes do Ministério da Saúde e Fiocruz.
O Método Wolbachia é uma iniciativa do World Mosquito Program (WMP), uma iniciativa internacional sem fins lucrativos. No Brasil, o trabalho é conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento do Ministério da Saúde, em parceria com os governos locais.
Na oportunidade, painéis serão realizados para promover uma troca de experiências sobre a tecnologia, os desafios e os resultados em pontos tão diferentes do país. Para se ter uma ideia, de 2014 a 2024, houve um salto de 5 mil para mais de 4 milhões de pessoas residentes nos municípios que foram beneficiados com a tecnologia. Este número deverá chegar a 5 milhões no início de 2025.
"Celebramos com grande satisfação os 10 anos do Projeto Wolbachia no Brasil. A Fiocruz em parceria com o WMP tem orgulho de ter participado ativamente na validação e ampliação do uso desta metodologia inovadora. Atualmente, com apoio do Ministério da Saúde, estamos empenhados em uma grande expansão do programa em todo o país, contribuindo significativamente para o esforço nacional no enfrentamento das arboviroses", afirma o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger.
Muitos avanços quanto aos processos de produção e liberação dos Wolbitos ao longo dos 10 anos de atividades no Brasil podem ser observados.
“Mudou muita coisa, a complexidade do processo, a gente nunca imaginava que ia chegar tão longe, era um projeto muito de pesquisa, mostrando os conceitos e hoje a gente conseguiu dar um salto muito grande, com evidências robustas, para uma política pública aqui no Brasil”, conta o Líder do Método Wolbachia no Brasil, Luciano Moreira.
Curitiba foi selecionada para sediar o evento porque, além de dois municípios do estado do Paraná serem beneficiados com a tecnologia (Foz do Iguaçu e Londrina), a maior fábrica de Wolbitos do mundo está em construção na capital paranaense.
Expansão do Método Wolbachia no Brasil
A Wolbito do Brasil, companhia criada pela parceria entre o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), vinculado à Fiocruz, e a World Mosquito Program Brasil já deu início à construção da maior fábrica do mundo de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia (Wolbitos) para controle de arboviroses, em especial a dengue, chikungunya e zika.
Com sede na cidade de Curitiba (PR), a biofábrica da Wolbito do Brasil está sendo construída na área do Parque Tecnológico da Saúde, onde já se encontram instituições que trabalham no setor saúde, como a Fiocruz, o Tecpar e o IBMP. A Biofábrica contará com uma área de aproximadamente 3.000 m² e equipamentos modernos para automação e produção em larga escala dos wolbitos. A previsão é que ao longo de 10 anos de atividade, aproximadamente 140 milhões de brasileiros possam ser beneficiados com a implementação do Método em diversos municípios do país, só com esta Fábrica.
“Nossa expectativa é que no começo do próximo ano a gente tenha a inauguração da biofábrica em Curitiba. A construção segue a todo vapor e dentro do cronograma esperado para que a gente possa inaugurar, começar a produzir e atender toda a demanda vinda do Ministério da Saúde de ter 100 milhões de ovos de Wolbitos em Curitiba, para levar mais saúde para os brasileiros. A gente também espera iniciar a construção de uma outra biofábrica no Ceará que será capaz de produzir semanalmente 50 milhões de ovos de Wolbitos. Dessa forma será possível expandir o Método para mais cidades do país.”, ressalta Luciano Moreira.
Histórico
A Wolbachia é uma bactéria presente em aproximadamente de 60% dos insetos no mundo. Em laboratório, os pesquisadores do WMP conseguiram introduzir esta bactéria, que foi retirada da mosca-da-fruta, dentro dos ovos de Ae. aegypti. Foi comprovado que, quando a bactéria está presente no mosquito, estes vírus não se desenvolvem bem, reduzindo a sua transmissão.
O WMP iniciou os estudos no Brasil em 2012 através da Fiocruz. Em 2014 tiveram início as liberações nas áreas piloto, Jurujuba, em Niterói, e Tubiacanga, bairro da cidade do Rio de Janeiro. As últimas liberações de mosquito nesses locais foram realizadas em janeiro de 2016 e, desde então, o monitoramento tem revelado o estabelecimento da Wolbachia superior a 90% em relação ao Aedes transmissor da dengue.
Em abril de 2019, o Ministério da Saúde anunciou uma 1a fase de expansão nacional do Programa através do aporte de recursos para a implementação do programa para três novos municípios brasileiros: Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE). As liberações nestes três municípios foram encerradas no final de 2023. A implementação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia no município de Belo Horizonte vem sendo realizada como parte do estudo controlado randomizado (RCT, sigla em inglês) em parceria com o Professor Mauro Teixeira da Universidade Federal de Minas Gerais. No ano passado, Niterói foi o primeiro município brasileiro a ter seu território totalmente coberto pela tecnologia, com impacto significativo na redução dos casos de dengue na cidade.
Novos municípios
O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, anunciou a implementação do Método Wolbachia em seis novos municípios de acordo com indicadores epidemiológicos e entomológicos que já estão com atividades em andamento: Joinville (SC), Foz do Iguaçu (PR), Londrina (PR), Presidente Prudente (SP), Uberlândia (MG) e Natal (RN). Ao todo, 1.7 milhão de pessoas nestes municípios serão protegidas.
Custo-efetividade da tecnologia
Um artigo publicado em 2024, liderado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UNB) e Fiocruz, na revista The Lancet Regional Health estima com modelos matemáticos os custos e consequências da incorporação do Método Wolbachia para o controle da dengue em sete cidades brasileiras.
A avaliação econômica inclui cenários de simulações representativos da população total de São Paulo (SP), Fortaleza (CE), Campo Grande (MS), Goiânia (GO), Belo Horizonte (MG), Manaus (AM) e Niterói (RJ). Esses são alguns dos municípios identificados como de alta prioridade para receber o Método Wolbachia, com base no tamanho populacional e na carga da doença da dengue. Outro ponto em destaque é que as cidades escolhidas estão situadas em diferentes regiões geográficas do país e, além disso, possuem características sociais e demográficas variadas.
A pesquisa utilizou um modelo matemático chamado de microssimulação. O trabalho acompanhou quase 23 milhões de habitantes em um período de 20 anos, considerando as transições entre cinco diferentes estados de saúde (suscetível, caso inaparente, caso ambulatorial, hospitalização e óbito).
É importante ressaltar que os custos diretos incluíram recursos dos programas locais de controle da dengue, implantação do Método Wolbachia e atendimento médico (ambulatorial e hospitalar) à dengue. Também foram considerados os custos indiretos relacionados à morte e à perda de produtividade, contabilizando os chamados anos de vida ajustados por incapacidade (Daly).
O modelo projetou que, com a implementação do método Wolbachia, seriam evitados pelo menos 1.295.566 casos de dengue, resultando em menores custos e maiores ganhos em termos de expectativa e qualidade de vida em todos os municípios simulados.
Em média, para cada 1.000 habitantes acompanhados por 20 anos, o Método Wolbachia gerou uma diferença de custo de US$ 538.233,68 (R$ 2.691.168,40) e evitou 5,56 anos de vida perdidos por incapacidade.
O saldo final (chamado de benefício monetário líquido) foi positivo em todas as sete cidades, variando de US$ 110,72 (R$ 553,59) a US$ 1399,19 (R$ 6.995,95) por habitante, o que sugere um cenário favorável à incorporação do método. Os cenários alternativos também mostraram um retorno favorável do investimento com uma relação custo-benefício positiva.