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IFF/Fiocruz divulga contribuições de pesquisa sobre sequelas urológicas do Zika vírus


01/06/2023

Maria Luiza La Porta e Everton Lima (IFF/Fiocruz)

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O Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), através das pesquisadoras do Ambulatório de Urodinâmica Pediátrica, Lucia Monteiro e Grace Araújo, promoveu, em 18/5, um evento para divulgar o Relatório de Avaliação do Centro Colaborador IFF/Fiocruz referente a pesquisa: Fortalecimento do cuidado às crianças com sequelas urológicas relacionadas à Síndrome Congênita Associada ao Vírus Zika (SCVZ).

A pesquisa avaliou e tratou nos seis centros colaboradores mais de 400 crianças que tiveram alguma sequela urológica relacionada a Síndrome Congênita Associada ao Vírus da Zika, 100 delas no IFF/Fiocruz, o que resultou em importantes produtos, como a criação do Protocolo de Investigação de Sequelas Urológicas e Intestinais, Consulta de Enfermagem em Crianças com SCVZ e a capacitação de profissionais e cuidadores em seis estados brasileiros com o objetivo de fortalecer e qualificar o cuidado a crianças com SCVZ. Outro importante produto é um banco de dados único, que foi criado na plataforma REDCap em parceria com o Laboratório de Pesquisa em Imunização e Vigilância em Saúde (LIVS) do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).

O projeto é uma iniciativa do Laboratório de Urodinâmica do Instituto que se expandiu para as seguintes instituições brasileiras: o Instituto Santos Dumont, em Macaíba/RN, o Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (IPESQ), em Campina Grande/PB, a Universidade de Pernambuco, a Universidade Federal do Maranhão e a Faculdade de Medicina de Jundiaí, em SP.


Equipe multiprofissional da pesquisa compartilha e comemora os resultados – Foto: Maria Luiza La Porta (IFF/Fiocruz)

Entenda mais sobre a pesquisa

A pesquisa é a segunda parte de um artigo publicado em 2016, pela pesquisadora do Laboratório de Urodinâmica do IFF/Fiocruz, Lucia Monteiro, que constatou a Bexiga Neurogênica (BN) como uma das complicações de crianças afetadas pelo Zika Vírus. Este estudo foi pioneiro no mundo, pois foi o primeiro a associar as internações desses pacientes com febre e sintomas de infecção à Bexiga Neurogênica.

Confira a entrevista com as pesquisadoras do Instituto, Lucia Monteiro e Grace Araújo.

Qual o papel do IFF/Fiocruz nesta segunda fase do projeto?

L.M: O IFF/Fiocruz exerce um duplo papel. A primeira é a de instituição executora e de coordenação geral do projeto, que envolve seis centros colaboradores. A segunda é a de centro colaborador, avaliando pacientes e capacitando profissionais e cuidadores, o que permitiu replicar nossa experiência para outras regiões do país. Eu sou a coordenadora geral do projeto, e a Grace Araújo é a coordenadora do Centro Colaborador IFF/Fiocruz.

O que é a Bexiga Neurogênica?

L.M: É uma disfunção da bexiga causada por dano neurológico, diagnosticada através do estudo urodinâmico. Os sintomas mais comuns são a infecção urinária e a incontinência ou a retenção urinária, que nem sempre são percebidos em crianças pequenas, mas o risco de complicações graves é alto (infecções recorrentes, entre outros, que podem, inclusive, chegar ao comprometimento dos rins). Por isso, é importante estar atento porque o diagnóstico precoce e o início oportuno do tratamento podem mitigar o impacto da doença e promover, a longo prazo, a saúde do paciente.

Como surgiu a pesquisa que relacionou a condição de Bexiga Neurogênica com a Síndrome Congênita do Zika Vírus?

L.M: Nós fomos os primeiros no mundo a descobrir que esses pacientes tinham bexiga neurogênica, e isso só foi possível porque no IFF/Fiocruz já havia uma equipe multidisciplinar, coordenada pela pesquisadora Maria Elizabeth Lopes Moreira, que vinha investigando os pacientes com SCZV quando a síndrome era nova. Quando nossa equipe do Ambulatório de Urodinâmica Pediátrica viu as alterações neurológicas encontradas nas ressonâncias magnéticas realizadas para o controle da microcefalia destes pacientes, observamos que as áreas que controlam o sistema urinário inferior também estavam afetadas e suspeitamos que esses pacientes poderiam desenvolver bexiga neurogênica.

Então, escrevemos o projeto para investigar as sequelas urológicas e passamos a integrar as coortes nacionais para a Prevenção e Combate ao vírus Zika. Na primeira fase da pesquisa, avaliamos 20 pacientes e todos (100%) tinham bexiga neurogênica de alto risco. Temos uma vasta experiência, de cerca de 30 anos, tratando pacientes com esta disfunção miccional, e isso nos ajudou a concluir que todos os pacientes com SCZV poderiam estar afetados e precisavam ser investigados.

Confirmada a sequela urológica, e seguindo a missão do IFF/Fiocruz de Instituto Nacional, observamos a necessidade de ampliar a investigação e tratamento para outras regiões do Brasil. Assim nasceu o projeto “Fortalecimento do cuidado às crianças com sequelas urológicas relacionadas à Síndrome Congênita Associada ao Vírus Zika (SCVZ)”, que obteve apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) do Ministério da Saúde.

Para um paciente sem tratamento, qual é o maior risco de ter uma infecção urinária? 

L.M: É lesar o rim. Cada episódio de infecção urinária grave tem potencial para gerar uma cicatriz no rim, que ficará para sempre. Um rim continuamente agredido por infecções pode evoluir para insuficiência renal, o que gera ainda mais complicações, como necessitar de hemodiálise e transplante. Além disso, a bexiga neurogênica pode gerar graves problemas sociais, relacionados à incontinência urinária crônica e as visitas recorrentes ao hospital e internações para o tratamento de infecção urinária, entre outros. Tudo isso pode ser evitado com a realização do exame para comprovar o diagnóstico e iniciar o tratamento.

Qual é a importância do exame urodinâmico em pacientes com SCZV?

L.M: A urodinâmica é o único exame que diagnostica com certeza, tido como o padrão ouro na Bexiga Neurogênica, além de ajudar a orientar e a avaliar o tratamento. Por isso, repetir o exame é muito importante. Como analisa o enchimento e o esvaziamento da bexiga, a urodinâmica é capaz de evidenciar situações de risco, como bexigas muito pequenas, com pressões muito elevadas ou que não se esvaziam completamente durante a micção, um problema constantemente observado em pacientes com SCZV e que causa infecção urinária. Com a segunda publicação nós mostramos isso.

O ideal é que estes pacientes façam o exame ainda no primeiro ano de vida. Temos que lembrar que a bexiga neurogênica é uma das sequelas que podem ser tratadas e normalizadas no âmbito da SCZV, e que quanto mais cedo começamos a tratar, maior a probabilidade de melhorar a resposta do rim.

O que representa para você integrar a equipe deste projeto?

G.A: Todas nós que fazemos parte dessa equipe temos muitas histórias para contar durante a trajetória no cuidado com essas crianças nesses 3 anos de projeto. E, assim, construímos uma história única. Cada vitória conquistada por uma criança é nossa também. Fazemos nosso trabalho com competência, coerência e, acima de tudo, respeitamos cada família com a sua história de vida. Por isso, sou muito grata por fazer parte dessa equipe.

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