19/07/2021
Divulgação da equipe de coordenação da pesquisa
O objetivo da pesquisa é conhecer como a vida e a saúde das mulheres foram afetadas pela pandemia da Covid-19, com ênfase nos aspectos reprodutivos. Epidemias anteriores, crises sanitárias e humanitárias mostraram como os serviços de saúde, especialmente os serviços de assistência à saúde integral das mulheres foram muito afetados, com restrição de funcionamento e interrupções. Em outros países, já se tem um registro de aumento de gravidezes indesejadas, de complicações de aborto, dificuldades de acesso à contracepção, e aumento da mortalidade materna, como já estamos vendo no Brasil. Também há relatos de mulheres com dificuldade de acesso a ações preventivas ou ao tratamento de doenças de mama e ginecológicas, incluindo tratamento de infecções sexualmente transmissíveis. Então, nossa pesquisa tem o sentido de identificar como essas questões estão ocorrendo no Brasil.
A pandemia tem impactos em muitas dimensões da vida das mulheres que também afetam a saúde reprodutiva das mulheres: a situação do trabalho, a sobrecarga doméstica, os cuidados com os filhos, com pais, sogros e outros parentes com necessidades ou doentes, a saúde mental. Esses são tópicos importantíssimos que merecem ser aprofundados. Nesse primeiro momento da pesquisa, estamos concentradas na saúde reprodutiva, mas já cotejando esses outros aspectos, incluindo algumas questões em nosso questionário.
Nesta etapa primeira da pesquisa estamos fazendo um inquérito, utilizando um questionário autoaplicável, um formulário online com perguntas fechadas. Porém, temos a expectativa de, em um futuro próximo, aprofundar as questões que se destaquem a partir da análise das respostas desse questionário, realizando um estudo qualitativo, com entrevistas individuais e grupos focais com as mulheres.
Esperamos com a pesquisa traçar um panorama dos efeitos globais da pandemia no Brasil sobre a saúde reprodutiva das mulheres, à luz do contexto atual das políticas públicas, e, ao mesmo tempo, mostrar a imensa diversidade desses efeitos, dependendo de muitos fatores: classe social, raça/cor e etnia, região de residência das mulheres – grandes centros urbanos, cidades pequenas, zonas rurais, ribeirinhas e florestas, quilombos, territórios indígenas – entre outros marcadores sociais da diferença. Nós gostaríamos de conferir visibilidade a grupos minoritários e mulheres que nem sempre estão muito representados na pesquisa. Queremos pensar sobre aqueles segmentos que sabidamente estão em situação de maior vulnerabilidade social. Pensando que a pandemia não é democrática, ela pode ter afetado de forma mais significativa essas mulheres. O universo de mulheres que vivem no Brasil é extremamente heterogêneo, complexo e desigual, então esperamos que o estudo possa contribuir para evidenciar esta multiplicidade das experiencias.
Acreditamos que os conhecimentos que forem produzidos poderão subsidiar formuladores de políticas públicas para fortalecimento de ações, programas e estratégias que assegurem os direitos reprodutivos e à saúde integral das mulheres, enfrentem as iniquidades estruturais e promovam a justiça reprodutiva. E além, disso, queremos que esses conhecimentos possam ser úteis para as próprias mulheres, as redes e os grupos ativistas, apoiando suas lutas por direitos e justiça e seus processos de produção de conhecimento.
Nós procuramos construir um instrumento fácil de ser respondido, com questões objetivas, com uma linguagem acessível e de rápido preenchimento. Tivemos colaborações importantes das mulheres que participaram da fase de teste do questionário – demonstrando um grande interesse delas em falar sobre suas experiências e em participar da produção de conhecimentos. Mesmo reconhecendo que parcela das mulheres brasileiras não têm acesso à internet, buscamos garantir que o link gerado para resposta ao questionário fosse possível de ser compartilhado em diferentes ambientes virtuais (instagram, facebook, whastapp).