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Radis destaca importância do cuidado em liberdade na saúde mental


27/02/2024

Glauber Tiburtino (Revista Radis)

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Em tratamento para esquizofrenia há mais de 20 anos, Evani passou por seis internações psiquiátricas compulsórias que lhe deixaram marcas no corpo e na alma. Kleidson teve uma infância difícil, sofreu abusos e negligências, que mais tarde refletiram em seus relacionamentos e culminaram em seis anos vivendo pelas ruas. Vanete tinha onde morar. Mas em uma difícil decisão, teve que renunciar ao seu teto e passou uma década sem endereço fixo. Foi quando passou a ser usuária de álcool e drogas.

Três histórias que se revelaram em momentos distintos da 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental Domingos Sávio (5ª CNSM), realizada em Brasília, de 11 a 14 de dezembro de 2023, e que se encontram nas páginas de Radis. Três trajetórias de luta, cada qual a seu modo, que demonstram na prática a importância do cuidado em liberdade na saúde mental e o poder transformador de estratégias no Sistema Único de Saúde (SUS), como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), para a recuperação dessas e de tantas outras vidas.

Os três personagens reais dessa história marcaram presença na 5ª CNSM, deixaram seus recados junto aos mais de 2,2 mil participantes e traduzem de maneira inequívoca a importância dos principais objetivos da Conferência: o fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) e da política nacional de saúde mental.

Negligenciada desde 2016, a política de saúde mental praticamente se resumiu nesses últimos anos ao financiamento de instituições de isolamento e com viés religioso (evangélico), as chamadas comunidades terapêuticas (CT). Incentivadas especialmente pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que logo no primeiro ano de seu mandato elevou o orçamento destinado a essas entidades em quase 170%. Entre as críticas, as CT são tidas por defensores dos direitos humanos e integrantes da Reforma Psiquiátrica como “novos manicômios” (Radis 220).

Os métodos adotados nessas instituições têm sido frequentemente questionados e denunciados pela imprensa e movimentos sociais voltados à luta antimanicomial em relação a violações de direitos e até mesmo morte de internos. Não por acaso, foram justamente elas os principais alvos de protestos durante os quatro dias da 5ª CNSM, sob gritos de “Fora CT” entoados em diversas ocasiões. Vanete denuncia que essas instituições não têm nada a oferecer em suas internações: “A não ser aleluia e oração”, critica, em referência à falta de cuidado especializado nas unidades.

“Essas comunidades nem são comunitárias nem terapêuticas”, alertou a deputada federal Erika Kokay (PT-DF) no discurso de relançamento da Frente Parlamentar Mista pela Reforma Psiquiátrica e Defesa da Luta Antimanicomial. Uma das primeiras privações impostas pelas CTs é justamente a da liberdade. Direito humano e requisito fundamental para o tratamento psíquico, como destacou a diretora do Departamento de Saúde Mental, Álcool e outros Drogas, Sônia Barros, em sua fala na primeira mesa da 5ª CNSM [leia a entrevista].

Foi em busca dessa liberdade e de um tratamento humanizado, digno e eficaz que Evani, Kleidson e Vanete mudaram o rumo de suas jornadas. Mas até encontrarem com siglas poderosas — como o SUS, a Raps e o Caps — a vida dos três não foi nada fácil.

Confira a reportagem na íntegra no site da Radis

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