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Tuberculose: médica explica os sintomas, o diagnóstico e como se prevenir


26/06/2014

Por Annalu Pinto da Silva/ Território Escola Manguinhos (Teias/Fiocruz)

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A tuberculose é uma doença infecto-contagiosa muito antiga, também conhecida como “tísica pulmonar”. Os pulmões são os órgãos mais afetados, mas pode acometer ainda os rins, a pele, os ossos e os gânglios. O contágio ocorre pelo ar, através da tosse, espirro e fala da pessoa que está doente, que lança os bacilos no ambiente. Quem convive próximo ao doente aspira esses bacilos e pode também adoecer. Sabe-se que o bacilo pode permanecer no ambiente por um período de até 8 horas, ainda mais quando o domicílio não é ventilado e arejado. É isso que explica a médica Celina Boga*, que atua no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, em Manguinhos.

Em entrevista ao site do Teias, Celina aponta quais são os principais sintomas, as formas de diagnóstico e a prevenção da doença. Além disso, faz um alerta: "A situação da tuberculose em Manguinhos é preocupante e não difere muito de outros bairros pobres da cidade do Rio de Janeiro. Temos observado, ano a ano, o progressivo aumento no número de casos notificados da doença".

Quais os principais sintomas da doença?

Celina Boga - O principal sintoma é a tosse. A pessoa pode tossir meses, sem, contudo, pensar na tuberculose. Outros sintomas incluem falta de apetite, emagrecimento e suor noturno acompanhado de febre baixa, que é mais comum no final da tarde. Pode existir catarro esverdeado, amarelado ou com sangue. Nem sempre todos esses sintomas aparecem juntos. Devemos valorizar a tosse, principalmente quando ela dura mais de três semanas.

Como é feito o diagnóstico da tuberculose?

CB - O diagnóstico é feito pela história de adoecimento da pessoa e também pelo exame clínico. Deverá ser confirmado por exames específicos, como no caso da baciloscopia e a cultura do escarro e também pelo raio-X de tórax. Pode ser que sejam necessários outros exames, como a biópsia, dependendo do órgão afetado.

Há grupos de pessoas mais propensos a contrair a doença?

CB - Existem sim grupos mais vulneráveis. As pessoas portadoras do HIV, em função da diminuição da defesa do organismo, assim como os diabéticos, os fumantes, as pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas e aquelas privadas de liberdade. Os primeiros, de uma forma ou outra, têm defesas orgânicas reduzidas, e os últimos permanecem em condições nas quais a exposição ao bacilo é diariamente renovada.

É possível prevenir a tuberculose?

CB - A prevenção é feita através da vacina BCG, recomendada para aplicação no primeiro mês de vida da criança. A vacina diminui as chances de desenvolver formas graves da doença, como a meningite tuberculosa, mas não é eficaz contra a tuberculose pulmonar. Outra forma é através da prevenção secundária com isoniazida. A proteção é recomendada para as pessoas que convivem com a pessoa doente, seja na casa ou no trabalho. Essa proteção só é recomendada após a avaliação do teste PPD e do raio-X de tórax de todos os contatos próximos. Objetivamente, a forma mais eficaz é a descoberta das pessoas doentes e o início rápido do tratamento.

Qual o tratamento para pessoas com tuberculose?

CB - O tratamento é feito com quatro drogas que estão todas no mesmo comprimido – rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol. Nos primeiros dois meses - fase intensiva do tratamento -, a pessoa usa essas quatro drogas. Na fase de manutenção, que dura quatro meses, a pessoa usará apenas duas drogas - a rifampicina e a isoniazida. Quando esse tratamento de seis meses é bem feito, a maioria das pessoas ficam curadas da infecção. É importante que se divulgue que o tratamento pode e deve ser realizado nas unidades de saúde do bairro. Apenas alguns casos mais complexos e graves exigirão internação hospitalar.

Quais os principais riscos na interrupção do tratamento?

CB - Além do risco do agravamento da doença, existe o risco de se desenvolver uma bactéria resistente às drogas utilizadas no tratamento. O bacilo pode ficar resistente a um ou vários medicamentos. O tratamento nessa situação é mais longo e pode durar de 1 a 2 anos, além de exigir o uso de várias drogas associadas.

Que ações vêm sendo viabilizadas pelo Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria para combater a doença?

CB - A situação da tuberculose em Manguinhos é preocupante e não difere muito de outros bairros pobres da cidade do Rio de Janeiro. Temos observado, ano a ano, o progressivo aumento no número de casos notificados da doença.
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ANO | 2006 | 2007 | 2008 | 2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 |
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Nº DE CASOS| 65 | 81 | 107 | 109 | 97 | 126 | 168 | 183 |
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A maior capacidade de diagnóstico tem sido favorecida pelo trabalho das Equipes da Saúde da Família que, desde 2011, dão cobertura a 100% das famílias moradoras do bairro, facilitando o acesso aos serviços de saúde da região. Mas temos consciência que existem casos que ainda não foram identificados e não iniciaram tratamento adequado. Sabemos ainda que nem todas as pessoas que estão doentes fazem seu tratamento no CSEGSF ou na CFVV. Procuram tratamento em outras unidades de saúde temendo o preconceito de vizinhos, amigos e até de familiares.

Este é um aspecto da maior importância a ser trabalhado junto às comunidades. [É preciso] desmistificar a doença, reconhecer que ela incide com mais força onde existe pobreza, grandes aglomerações humanas em habitações insalubres onde convivem crianças, adultos, idosos. Onde a situação social e econômica é desfavorável, a tuberculose estará presente.

Do mesmo modo que o CSEGSF procura capacitar seus profissionais para o atendimento e acompanhamento qualificado de cada caso, também tem procurado agir de forma a garantir todos os recursos para o diagnóstico seguro da doença. Temos discutido muito sobre como enfrentar o abandono do tratamento, que é um grande problema em Manguinhos e as dificuldades para a avaliação dos contatos domiciliares de cada caso.

Apostamos que é necessário envolver a comunidade nessa discussão e identificar uma rede humana solidária que contribua para o enfrentamento do problema. Divulgar e esclarecer sobre a doença, identificar situações críticas e promover ações de apoio aos que estão mais vulneráveis e mais distantes dos serviços de saúde, requerer o cumprimento das diferentes políticas públicas – educação, trabalho, renda, direitos humanos e sociais - que, se efetivamente aplicadas, podem favorecer o desenvolvimento e o fortalecimento da comunidade de Manguinhos.

* Celina Boga possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, residência médica em Medicina Geral e Comunitária pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, especialização e mestrado profissional em Saúde Pública, na sub-área de Avaliação de Programas de Controle de Processos Endêmicos com ênfase em DST/HIV/AIDS, ambos pela Fundação Oswaldo Cruz. Atualmente é médica do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria/Ensp/Fiocruz e médica pediatra da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro.

É preciso desmistificar a doença, reconhecer que ela incide com mais força onde existe pobreza, grandes aglomerações humanas em habitações insalubres onde convivem crianças, adultos, idosos

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