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Vacinação infantil sofre queda brusca no Brasil

Médico aplicando vacina no braço de uma menina

19/10/2022

Maria Luiza La Porta (IFF/Fiocruz) e Everton Lima (IFF/Fiocruz)

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No dia 17 de outubro é comemorado o Dia Nacional da Vacinação, e os dados divulgados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostram que a taxa de vacinação infantil no Brasil vem sofrendo uma queda brusca: a taxa caiu de 93,1% para 71,49%. De acordo com a pesquisa, realizada em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse número coloca o Brasil entre os dez países com menor cobertura vacinal do mundo.

A baixa cobertura vacinal no país deixa a população infantil exposta a doenças que antes não eram mais uma preocupação, como o sarampo, que foi erradicado no país em 2016 e em 2018 voltou para a lista de doenças no Brasil. Além do sarampo, outras doenças que correm o risco de voltar a acometer as crianças são a poliomielite, meningite, rubéola e a difteria.

A pandemia de Covid-19 agravou as baixas coberturas. Segundo a Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde, "as recomendações das autoridades sanitárias de distanciamento social e outras medidas não farmacológicas afastaram a população das unidades de saúde para se vacinarem".

Nesse contexto, o Projeto Reconquista das Altas Coberturas Vacinais, coordenado pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), ao lado da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), visa implementar ações de apoio estratégico ao Programa Nacional de Imunização (PNI) para reverter a trajetória de queda nas coberturas vacinais dos Calendários Nacionais de Vacinação – da Criança, do Adolescente, do Adulto e Idoso, da Gestante e dos Povos Indígenas e, assim, assegurar o controle de doenças imunopreveníveis, cujas vacinas são disponibilizadas gratuitamente para a população, nos postos de saúde, através do Sistema Único de Saúde (SUS).

Para falar sobre a importância da vacinação, convidamos o infectologista pediátrico do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e membro do Projeto Reconquista das Altas Coberturas Vacinais, Marcio Nehab, e a coordenadora de Ações Nacionais e de Cooperação do IFF/Fiocruz, Maria Gomes.

Entrevista

Quais os riscos que correm as crianças que não estão com o Programa Nacional de Imunização (PNI) em dia?

Marcio: Os riscos são de terem uma chance maior de contraírem as doenças das quais as vacinas existentes no PNI as protegem. E, assim, terem sequelas, óbito e transmitirem para outros indivíduos. Mesmo que os outros indivíduos sejam vacinados, eles podem ainda não terem completado o esquema indicado para aquele imunobiológico ou terem algum tipo de imunodeficiência que levem a um risco maior de pegar a doença e ter um desfecho desfavorável. Afinal, nenhuma vacina dá 100% de proteção e se você estiver sob maior risco de contrair aquela doença por grande circulação do agente infeccioso ou por baixas coberturas vacinais da população seu risco também é maior. Vacina é compromisso coletivo!

Quais os efeitos colaterais mais comuns após a vacinação e por que não são uma preocupação?

Marcio: Os efeitos mais comuns são os de reações locais da aplicação do imunobiológico, como dor, vermelhidão local, além de sintomas, como febre, dores musculares, dores de cabeça e mal-estar. Geralmente são autolimitados e fugazes, não passando de 1-2 dias.

O surgimento da hepatite misteriosa tem gerado preocupação. A vacina contra a Hepatite previne esta nova variante?

Marcio: Não, foram descritos alguns casos dessa hepatite de causa desconhecida na Inglaterra e nos Estados Unidos. Há uma associação, em alguns casos, com o Adenovírus-41F (comumente associado a infecções respiratórias) e/ou com o Sars-CoV-2. Porém, ainda estão em investigação tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra. No Brasil, qualquer caso suspeito de hepatite de causa indeterminada e que preencha os critérios da nota técnica devem ser notificados – leia mais.

Como os pais podem se informar sobre o calendário vacinal e as campanhas de vacinação vigentes?

Marcio: Através do site do Ministério da Saúde, da Sociedade Brasileira de Imunizações e de Pediatria.

Qual o papel do SUS para reverter essa situação e retomar os bons índices da vacinação infantil?

Maria: O Sistema Único de Saúde fortaleceu, investiu e aprimorou as iniciativas voltadas para garantia da cobertura vacinal. Nessas últimas décadas, o Brasil foi adquirindo uma grande respeitabilidade internacional pelo seu Programa Nacional de Imunização (PNI), garantindo coberturas vacinais em contextos muito diferentes desde as regiões urbanas até as regiões definidas, inclusive, como vazios sanitários e regiões de baixa densidade populacional.

Retomar os bons índices de vacinação infantil vai exigir pensar em toda a cadeia que garante a “vacina no braço” de cada pessoa no nosso país. Isso envolve todo um papel de produção e distribuição, papel no qual o Ministério da Saúde, as instituições de Ciência e Tecnologia e os gestores e equipes das Secretárias Estaduais e Municipais de Saúde são protagonistas. Envolve também, de maneira direta, um compromisso e uma atuação muito incisivos e vigilante das unidades, da nossa atenção primária.

A atenção primária no Brasil tem nos agentes comunitários uma capilaridade, uma proximidade com as famílias, com os territórios, com as pessoas. Portanto, o mapeamento de crianças nas respectivas idades para receber as diferentes vacinas e o mapeamento de adolescentes, de gestantes, de idosos e de adultos é algo central para a retomada da cobertura vacinal. A gente só vai retomar bons índices de vacinação tendo esse mapeamento, que a nossa atenção primária é completamente capaz de fazer.

É importante lembrar que os profissionais de saúde na rede de urgência e emergência e na rede de atenção especializada também precisam estar engajados nessa vigilância de atualização da imunização das crianças. Essa não é uma tarefa apenas da atenção primária.

Da mesma forma, o SUS precisa avançar na comunicação com as famílias, informando, esclarecendo e derrubando as Fake News (notícias falsas). Então, trabalhar com a comunicação é algo absolutamente indispensável e a Fiocruz tem um orgulho enorme de sempre ter atuado em iniciativas tanto no campo dos estudos epidemiológicos e na produção quanto em ações clínicas de formação de profissionais para garantir aquilo que é um direito de toda criança brasileira, que é estar imunizada contra doenças que são preveníveis pela vacinação e que trazem prejuízos absurdos para a condição da saúde da criança, inclusive, com sequelas de longo prazo.

Quais iniciativas o IFF/Fiocruz, enquanto Instituto Nacional e órgão auxiliar do Ministério da Saúde, vem adotando para contribuir com a reconquista das altas coberturas vacinais?

Maria: O IFF/Fiocruz é um Instituto Nacional, órgão auxiliar do Ministério da Saúde no planejamento, na definição de estratégias prioritárias, e não é diferente em relação a imunização. Nesse sentido, trabalha em parceria com as Secretarias de todos os estados, atuação que temos hoje também por meio de duas estratégias, a Estratégia da Redução da Mortalidade Materna e a Estratégia QualiNeo.

Nos espaços de trabalho com os 26 estados do Brasil e o Distrito Federal discutimos o fortalecimento da rede para a garantia da imunização desde os primeiros dias de vida do bebê nas maternidades, assim como outras etapas. Esse tema tem sido pautado também por meio do Portal de Boas Práticas, um veículo coordenado pelo IFF/Fiocruz que tem cerca de 200 mil acessos por mês, com o objetivo de alcançarmos profissionais de saúde de todo país nesse grande alerta e debate sobre a responsabilidade de cada instância do SUS e de cada profissional de saúde que lida com crianças.

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