15/03/2019
Por: Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)*
Um estudo publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz detalha a ocorrência de um surto de chikungunya com 50 casos em um bairro de Salvador, na Bahia, sendo 45 em uma única rua. Liderada pelo Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), a pesquisa foi realizada no bairro de Coutos, localizado no subúrbio ferroviário, em uma área de construções informais, sem abastecimento de água e com esgoto a céu aberto.
Após a identificação de casos suspeitos em maio de 2017, os pesquisadores visitaram todas as 230 casas da localidade. Entre 50 casos suspeitos identificados, 35 foram confirmados por testes laboratoriais, incluindo duas ocorrências de co-infecção com chikungunya e dengue. Um caso isolado de dengue também foi diagnosticado. A decodificação do genoma do vírus chikungunya em sete amostras confirmou a presença de sequências genéticas idênticas e apontou semelhança de 99% com microrganismos detectados na Bahia em 2014 e 2015, sugerindo a continuidade da transmissão viral no estado. Analisando a distribuição espacial e temporal dos casos, os pesquisadores verificaram a rápida disseminação da doença “de casa a casa” entre abril e junho.
Para os autores, as más condições socioeconômicas no bairro, com serviços de abastecimento de água e coleta de lixo irregulares e acúmulo de recipientes que servem de criadouro para as larvas do Aedes, podem ter facilitado o surto. “Após 2,5 anos da primeira detecção no Brasil e da disseminação do vírus em todo o país, descobrimos que o chikungunya mantém seu potencial para causar surtos altamente localizados”, dizem os cientistas no artigo.
Fabricação nacional
Um ensaio clínico que confirma a imunogenicidade – capacidade de estimular a produção de anticorpos – e a segurança da vacina contra sarampo, caxumba e rubéola produzida pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) também está entre os trabalhos recentes publicados nas ‘Memórias’. O estudo marca a conclusão do processo de transferência de tecnologia da farmacêutica internacional GlaxoSmithKline (GSK) para a unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), nacionalizando a fabricação da vacina tríplice viral, que integra o Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. “Esta é uma conquista tecnológica significativa com implicações para os programas de imunização”, afirmam os autores no artigo.
Caracterizado como um ensaio clínico de fase 3, o estudo incluiu cerca de 1,5 mil bebês, vacinados em unidade de saúde do Pará entre 2015 e 2016. A vacinação seguiu o calendário nacional de imunizações: com a primeira dose aplicada por volta de 12 meses e, três meses depois, o reforço realizado com a tetra viral, que inclui a catapora. O alto índice de produção de anticorpos e o baixo nível de reações adversas demonstraram a consistência de três lotes consecutivos do imunizante produzido por Bio-Manguinhos/Fiocruz e a não inferioridade em relação à vacina fabricada com ingredientes farmacêuticos da GSK. A pesquisa foi realizada por Bio-Manguinhos/Fiocruz em colaboração com Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e Instituto Evandro Chagas (IEC).
A revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz pode ser acessada gratuitamente online.
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