Fiocruz

Fundação Oswaldo Cruz uma instituição a serviço da vida

Início do conteúdo

Lançamento do livro 'Roucos e Sufocados' acontece nesta quarta-feira


28/08/2018

Fonte: Ensp/Fiocruz

Compartilhar:

Em parceria, o Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde (Cetab) da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e a ACT Promoção da Saúde lançam, na próxima quarta-feira (29/8), o livro Roucos e Sufocados, escrito por João Peres e Moriti Neto, que aborda a indústria do tabaco. O lançamento, às 9h, no auditório da Fiotec (Avenida Brasil, 4.036), no Rio de Janeiro, ocorre no Dia Nacional de Combate ao Fumo.

Fruto de uma investigação jornalística, a publicação vai a fundo na análise da retórica que mistura os interesses de pequenos produtores rurais em busca da sobrevivência e das transnacionais do tabaco, interessadas em potencializar seus lucros. Os autores desvendam como esse discurso é utilizado para frear políticas de controle do tabagismo. Roucos e sufocados oferece, assim, um retrato singular do Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, coração da fumicultura nacional. É de lá que emana o discurso – e o lobby – em defesa do cigarro.

“A fundamentação argumentativa importa pouco. O que ganha relevância na estratégia da indústria são as frases de efeito, os chavões e a via discursiva que busca o constrangimento de quem faz oposição”, resume o livro. “Apesar de adaptada a uma ideia com ares de modernidade (o conceito de rede), a estratégia é velha: repetir mentiras incansavelmente para que se tornem ‘verdades’ para uma parcela da sociedade.”

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de tabaco, atividade que envolve mais de 150 mil famílias em cerca 700 municípios principalmente dos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.  A questão da diversificação da fumicultura é crucial para o país e um compromisso assumido na ratificação da CQCT, mas vem enfrentando resistência por parte da indústria do tabaco e seus aliados.

A implementação das medidas da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), da Organização Mundial de Saúde (OMS), adotada em 2005, trouxe como resultado a queda da prevalência de fumantes em 36%. O país passou de 15,7% para 10,1% entre 2006 e 2017, segundo dados do Ministério da Saúde, e é um dos modelos nacional e mundial na condução de uma política de saúde pública intersetorial e de sucesso nessa área.

Estratégia iniciada no século passado

O lançamento da Editora Elefante mostra que, por trás da cortina de fumaça, se entrelaçam políticos, meios de comunicação, sindicatos, organizações que dizem combater o contrabando e mesmo perfis falsos nas redes sociais. O centro da articulação são as 150 mil famílias rurais responsáveis pelo plantio de tabaco. Elas têm muitos votos, enquanto as empresas têm muito dinheiro. O resultado é a eleição da bancada do fumo, capaz de barulho e pressão nos órgãos municipais, estaduais e federais.

Os agricultores acabam sendo usados pelas corporações como um freio para políticas de combate ao tabagismo e de estímulo à migração para outras culturas graças à ideia de que o tabaco proporciona garantia de compra e boa renda. Uma história que remete ao começo do século 20, mas que irrompe com força total nas últimas décadas, já que as grandes empresas encontraram nos países de média e baixa rendas mercados menos regulados e, consequentemente, lucros mais altos. O Brasil ofereceu, então, a acolhida perfeita para essa operação. 

Deputados e senadores, prefeitos, ex-ministros, ex-integrantes do Supremo Tribunal Federal e ex-secretários da Receita Federal: uma vasta e poderosa rede de favorecimentos surge na defesa disfarçada de um setor econômico que mata metade de seus próprios usuários.

Autores

Moriti Neto é jornalista e professor universitário. Foi editor do site da Rede Brasil Atual, repórter e colunista da Revista Fórum e repórter da revista Caros Amigos. Foi editor e colunista do blog Nota de Rodapé, coletivo que venceu o prêmio Top Blog Brasil de 2012, na época, o prêmio mais importante dedicado a blogues brasileiros. Em 2015, ficou, com os parceiros João Peres e Thiago Domenici, em primeiro lugar na categoria Reportagem do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo pela série Como se absolve um policial, produzida para a Agência Pública. Um ano antes, em 2014, a reportagem Defeitos de Fábrica: as explosões da GM no Brasil, ficou em segundo lugar no mesmo prêmio. 

João Peres é jornalista. É autor de Corumbiara, caso enterrado, único livro-reportagem sobre o massacre ocorrido em 1995 em Rondônia, finalista do Prêmio Jabuti 2016 e segundo colocado no Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo 2015. Foi editor e repórter da Rede Brasil Atual entre abril de 2009 e novembro de 2014, após passagens pelas rádios Jovem Pan AM e BandNews FM. Nos últimos anos tem se dedicado a investigar o setor privado, culminando com o lançamento de Roucos e sufocados e da página O Joio e O Trigo, especializada em política alimentar.

Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde

Criado em março de 2012, o Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde (Cetab/Ensp/Fiocruz) está alinhado com as prioridades estabelecidas pelo Brasil como Estado-Parte da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT). 

A missão do Centro é gerar conhecimento, por meio de ensino, pesquisa e cooperação, que apontem alternativas efetivas àas políticas nacionais para o controle das doenças não transmissíveis, além de apoiar e a Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro no Brasil (Conicq) nas ações de controle do tabagismo.

Em 2016, o Cetab disponibilizou e mantém uma plataforma de livre acesso online - o Observatório sobre as Estratégias da Indústria do Tabaco - na qual são reunidos documentos sobre as táticas usadas pela indústria, que demonstram que ela se utiliza da parte mais vulnerável da cadeia produtiva, os fumicultores, como massa de manobra para fazer valer seus interesses, especialmente disseminando informações errôneas de que estes perderão seu ganha-pão com a implementação da CQCT. 

ACT Promoção da Saúde

A ACT Promoção da Saúde surgiu em 2006, chamando-se Aliança de Controle do Tabagismo, com a missão de monitorar a implementação e o cumprimento das medidas preconizadas pela Convenção-Quadro e seus protocolos, e desenvolver a capacidade de controle do tabagismo nas cinco regiões do país.

A experiência acumulada em advocacy para a elaboração e implantação de políticas de controle do tabagismo permitiu, em 2013, a expansão do escopo de atuação para apoiar a prevenção e o controle das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil. 

A organização tem formação em rede, com mais de mil intergrantes de cerca de 140 organizações e movimentos de todo o país.

Voltar ao topoVoltar