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Lançada a edição de junho da Cadernos de Saúde Pública


14/06/2022

Fonte: Ensp/Fiocruz

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A edição de junho de 2022 de Cadernos de Saúde Pública está on-line. Desde 2015, CSP recebe mais de dois mil artigos por ano, sendo que, em 2021, foram submetidos 3.022 manuscritos. A proporção de recusas de artigos na entrada passou de 67,5%, em 2015, para 75,9%, no ano passado, acompanhando o volume de submissões. Vários são os fatores que contribuem para o elevado número de submissões à CSP: entre eles, os critérios de avaliação da produção científica que sobrevalorizam a quantidade em relação à inovação e à qualidade, segundo a editoria da revista.  Financiada, predominantemente, com recursos públicos da instituição mantenedora e de agências de fomento, CSP se destaca, no cenário nacional e internacional, como um dos poucos periódicos científicos da Saúde Coletiva que não cobra taxa de submissão e de publicação.

De acordo com o editorial da revista, houve um aumento expressivo de submissões em 2020, durante o momento inicial da pandemia da Covid-19. Entre abril e agosto de 2020, em regime de fast-track, CSP recebeu 644 trabalhos sobre o tema, dos quais 54 foram publicados. Nesse esforço para dar nossa contribuição ao enfrentamento da pandemia, a grande maioria dos artigos recusados receberam pareceres.

Além disso, as restrições associadas aos elevados preços das taxas de publicação praticados pelos principais publishers multinacionais impõem barreiras para a divulgação de resultados de pesquisa em acesso aberto. Na etapa de avaliação por pares entram em ação os 44 Editores Associados - alguns mais afeitos ao tema do artigo, outros mais especializados no método. Em CSP, os Editores Associados são, majoritariamente, pesquisadores sêniores de renomadas instituições brasileiras, situadas em diversas regiões do país e mesmo do exterior. Os Editores Associados indicam revisores (também denominados como consultores) e acompanham o processo de avaliação do artigo na revista; qualquer pesquisador doutor é potencialmente elegível para emitir parecer, respeitando a diversidade de abordagens, objetos e métodos de distintas perspectivas disciplinares que caracterizam a Saúde Coletiva. Recomendamos idealmente três e, no mínimo, dois pareceres para a tomada de decisão.

É importante observar que, no modelo de revisão por pares atualmente adotado pela revista, a avaliação é completamente anônima: a identidade dos avaliadores não é revelada para revisores e autores que participam desse processo. Esses três atores - Editoras-chefes, Editores Associados e consultores - estabelecem um diálogo com o autor.

Destaca-se que o artigo pode ser submetido a diversas rodadas de avaliação e reformulações. Os Editores Associados são os responsáveis por verificar as várias versões e recomendar às Editoras-chefes nova chance, aprovação ou recusa do artigo. A decisão editorial final é tomada pelas Editoras-chefes com base na análise conjunta dos pareceres e na avaliação do Editor Associado responsável. Em 2021, dos 729 artigos que seguiram para a etapa de avaliação por pares, 26,7% artigos foram recusados com parecer e 29,8% aprovados, sendo que 39,2% ainda se encontram em avaliação e 4,3% foram arquivados por falta de resposta dos autores.

As diversas etapas de um artigo submetido à CSP, até a decisão final, estão sistematizadas em fluxograma previamente publicado. Ao fim do processo, com a contribuição de editores e revisores, o artigo é aperfeiçoado. Frequentemente, essa etapa acontece com muita discussão, em que autores concordam ou não com os pareceres recebidos. A carta, detalhada ponto a ponto em resposta aos comentários e sugestões de revisores e editores, sistematiza o debate.

Enfim, artigo aceito! Momento da finalização: adequação dos artigos ao padrão CSP, revisão de idioma e tradução de resumos, até a aprovação da prova de prelo pelos autores. Cada uma dessas etapas tem seu tempo, e a mais lenta é a que se refere à obtenção de pareceres. Aí temos um imenso gargalo, problema que afeta de modo geral as revistas científicas, no mundo e no Brasil.

Nessa edição, estão disponíveis os artigos a seguir:

Contribuições das críticas pós-colonial e decolonial para a contextualização do conceito de cultura na Epidemiologia, de Gil Sevalho. O ensaio epistemológico objetiva informar sobre contribuições das críticas pós-colonial e decolonial para a contextualização do conceito de cultura na Epidemiologia. O pensamento pós-colonial, partindo do questionamento ao imperialismo britânico, e o decolonial, de origem latino-americana, dizem da persistência da colonialidade na cultura e na ciência. Com dimensão simbólica abrangendo sentidos diversos que vão da conservação à mudança e engendram hierarquizações sociais que favorecem a opressão, cultura é conceito polissêmico com trânsito interdisciplinar desde a Antropologia. Delineiam-se no texto perspectiva e forma do olhar, enfatizando-se a opção pelo ensaio; apresenta-se o conceito de cultura; indicam-se nos pensamentos pós-colonial e decolonial relações com a cultura relevantes para a Epidemiologia; aborda-se o uso do conceito na interdisciplinaridade entre Antropologia e Epidemiologia, resgatando-se propostas próximas da reflexão sobre colonização; sintetizam-se potenciais contribuições em apreciação epistêmica sobre Epidemiologia e o conceito de cultura. Amarras colonizadoras, como o sentido de dominação da natureza, a subordinação à biomedicina ocidental, o uso de classificações e variáveis forjadas segundo hierarquizações e oposições binarizadas, a desconsideração dos saberes populares, podem ser expostas pelas críticas pós-colonial e decolonial nas bases da Saúde Coletiva, e especialmente na ordenação teórico-conceitual epidemiológica hegemônica formulada segundo padrões culturais estranhos às realidades locais. As críticas pós-colonial e decolonial podem ser reveladoras da presença de racismos científicos e culturais invisibilizados na Epidemiologia.

O objetivo do artigo Prevalências e desigualdades no acesso aos medicamentos por usuários do Sistema Único de Saúde no Brasil em 2013 e 2019, de Alexandra Crispim Boing, Fabiola Bof de Andrade, Andréa Dâmaso Bertoldi, Karen Glazer de Anselmo Peres, Adriano Massuda e Antonio Fernando Boing, foi analisar e comparar a prevalência, a forma de obtenção e os fatores associados ao acesso a medicamentos entre usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Foram analisados os dados das edições 2013 e 2019 da Pesquisa Nacional de Saúde, estudo de abrangência nacional e representativo da população brasileira. Os desfechos foram: (1) a obtenção total, por meio do SUS, dos medicamentos prescritos em atendimentos em saúde realizados no próprio SUS nas duas semanas anteriores à entrevista, e (2) a obtenção total dos medicamentos independentemente da fonte. Características demográficas e socioeconômicas foram incluídas como variáveis independentes. Em 2019, observou-se que 29,7% dos entrevistados obtiveram no SUS todos os medicamentos prescritos, que 81,8% tiveram acesso total aos medicamentos quando consideradas todas as fontes de obtenção e que 56,4% pagaram algum valor pelos medicamentos. A proporção de pessoas que não obtiveram nenhum medicamento no SUS e que efetuaram algum desembolso direto aumentou entre 2013 e 2019. A probabilidade de obter todos os medicamentos no SUS foi maior entre os mais pobres, e de consegui-los, independentemente da fonte, foi maior entre os mais ricos. Dentre as pessoas que não conseguiram acesso a todos os medicamentos, aproximadamente duas em cada três indicaram como principal motivo dificuldades de obtenção encontradas em serviços financiados pelo setor público. Verificou-se ampliação do desembolso direto para compra de medicamentos no Brasil e redução de acesso pelo SUS entre usuários do sistema.

Ingestão alta de cálcio na dieta e adiposidade baixa: achados de um estudo longitudinal em adolescentes brasileiros, artigo de Anelise Bezerra de Vasconcelos de Moraes, Glória Valéria de Veiga, Vilma Blondet de Azeredo, Rosely Sichieri e Rosangela Alves Pereira, visou estimar a associação entre ingestão de cálcio e indicadores de adiposidade durante a adolescência. O estudo de coorte analisou adolescentes do Ensino Médio (n = 962) de escolas selecionadas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, acompanhados entre 2010 e 2012. A ingestão de cálcio foi avaliada com um questionário validado de autorrelato de frequência alimentar. Foram realizadas análises transversais e longitudinais de ingestão de cálcio em relação ao índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura (CC), percentual de gordura corporal (%GC), massa gorda (MG), massa magra (MM), índice de massa gorda (IMG) e índice de massa magra (IMM). A análise transversal usou ANOVA com dados da linha de base, e modelos mistos lineares foram aplicados para avaliar as mudanças ao longo do seguimento. Na linha de base, foram observados valores médios mais baixos para IMC, %GC, MG e IMG (p para tendência < 0,05) no quintil mais alto de ingestão de cálcio, em que foram estimados valores médios mais altos de massa magra e índice de massa magra (p para tendência < 0,05), principalmente em meninos. Durante o seguimento, os meninos mostraram uma redução no IMG no quarto e quinto quintis de ingestão de cálcio comparado com o primeiro quintil (p < 0,05), enquanto nas meninas, apenas a CC foi significativamente mais baixa no quarto quintil de ingestão de cálcio comparado com o primeiro quintil. Os resultados corroboram a hipótese do papel da baixa ingestão de cálcio no aumento da adiposidade em adolescentes.

Cardiomiopatia chagásica crônica: caracterização de casos e possibilidades para ação na atenção primária à saúde, de Tiago Augusto Fernandes Peres, Stefan Vilges de Oliveira, Denner Custódio Gomes, Isabella Guzmán Núñez del Prado, Gabryella Londina Ribeiro Lima, Layanne Cintra Soares e Jean Ezequiel Limongi, avaliou que, apesar da diminuição importante na incidência da doença de Chagas no Brasil, as infecções ocorridas no passado ainda têm um impacto grande sobre os serviços de saúde no país. Portanto, o estudo buscou caracterizar os casos de doença de Chagas quanto ao estadiamento cardíaco e prognóstico de morte, e com base nisso, propor o seguimento dos casos na atenção primária à saúde (APS). O estudo transversal usou dados secundários dos prontuários de pacientes com cardiomiopatia chagásica crônica (CCC). Foi aplicada a regressão logística para estimar os odds ratios (OR) brutos e ajustados. Foram avaliados 433 prontuários médicos. Casos mais graves de CCC estavam associados com número maior de hospitalizações (OR = 3,41; IC95%: 1,59-7,30) e tempo de internação (OR = 3,15; IC95%: 1,79-5,53). Os casos com risco maior de morte estavam associados com número maior de hospitalizações (OR = 1,92; IC95%: 1,09-3,37), tempo de internação (OR = 2,04; IC95%: 1,30-3,18) e visitas aos ambulatórios (OR = 2,18; IC95%: 1,39-3,41) e serviços de emergência (OR = 3,12; IC95%: 1,27-7,66). Ao analisar os prontuários em dois momentos, 72,9% dos casos permaneceram nos estágios inicialmente avaliados. No total, 44,4% dos casos foram classificados como formas leves a moderadas e 68,3% como risco baixo de morte. Os casos classificados nos estágios mais graves de CCC e com risco de morte alto ou intermediário estavam associados com maior dependência hospitalar. Entretanto, a maioria dos casos foram classificados como formas mais leves da doença, clinicamente estáveis e com baixo risco de morte. Os achados apoiam a promoção do papel da APS como protagonista no seguimento longitudinal dos casos de CCC no Brasil.

A edição de junho de 2022 de CSP pode ser acessada na íntegra aqui.

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