21/09/2021
Everton Lima (IFF/Fiocruz)
O Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) divulga os resultados de pesquisa on-line para avaliar a intenção dos brasileiros em se vacinar contra a Covid-19. Chamada de Estudo Trend, a amostra, conduzida de 22 a 29 de janeiro de 2021, contou com 173.178 participações voluntárias e anônimas de adultos residentes no Brasil, com análise de dados sociodemográficos e epidemiológicos. Apesar do contexto político, do movimento antivacina e da proliferação de opiniões polêmicas nas redes sociais, um número expressivo de participantes da pesquisa pretendia se vacinar (150.845 = 89,5%) ou já havia sido vacinada (4.083).
O estudo definiu indivíduos hesitantes com a vacina como aqueles que não pretendiam ser vacinados, aqueles que não tinham certeza e aqueles que apenas concordariam em ser vacinados dependendo da vacina usada. O formulário foi composto por 27 questões fechadas e 3 questões abertas, elaboradas após revisão da literatura e discussão com o grupo multiprofissional de especialistas da equipe de pesquisa.
Como vivenciamos o segundo ano de pandemia, o desafio de atingir um limiar de imunidade de rebanho parecia improvável devido a fatores como hesitação vacinal, o surgimento de novas variantes e o atraso na chegada da vacinação para crianças. “A Covid-19 afetou o mundo inteiro e a vacina surgiu como uma fonte de esperança para o retorno à vida normal. Ainda assim, vários países relataram altas taxas de hesitação à vacina. Por isso, é importante conhecer o perfil de hesitação vacinal no Brasil para auxiliar no desenho de estratégias de comunicação adequadas”, avalia a coordenadora do estudo, a imunologista e pesquisadora clínica da Unidade de Pacientes Graves (UPG) do IFF/Fiocruz, Daniella Moore.
Resultados
A hesitação vacinal foi observada em 10,5% (18.250), e destes, 6,7% (11.575) apenas concordariam em ser vacinados dependendo da vacina que estava disponível, 2,5% (4.401) não pretendiam ser vacinados, e 1,3% (2.274) estavam inseguros, demonstrando um potencial ainda maior de adesão à conscientização. Todos os 26 estados do Brasil e o Distrito Federal estiveram representados na amostra do estudo, tendo a maior taxa de hesitação vacinal observada na região Centro-Oeste, seguida do Sul.
Mesmo com essas baixas taxas de hesitação vacinal quando comparada a outros países, a identificação do medo de reações adversas (11,23 vezes maior no grupo de hesitação vacinal) pode ajudar a orientar campanhas de conscientização sobre a segurança da vacina, aumentando ainda mais a adesão à vacinação. “A confiança vacinal (ou a falta dela) não depende exclusivamente de conhecimento ou desinformação, mas de um ecossistema de cultura, política, experiências pessoais, crenças e histórias de vida”, destaca a pesquisadora.
Da população da pesquisa, 24.196 participantes (14%) relataram ter tido diagnóstico positivo para Covid-19 e 103.225 (59,6%) relataram que um membro da família havia falecido ou sido internado na UTI por conta do Coronavírus, refletindo o impacto direto da doença na população de estudo.
O país de origem da vacina foi relatado como fator na decisão de vacinação por 33.333 participantes, evidenciando 27,3% de hesitação vacinal neste grupo. A eficácia da vacina foi relatada como um fator importante na decisão de vacinação por 13.407 participantes. A hesitação vacinal também foi alta em pessoas que pensaram que a vacina era desnecessária para indivíduos que já tiveram a doença, e 460 entrevistados afirmaram ser contra todas as vacinas tradicionalmente usadas. “O grupo com esse perfil pode representar uma parcela da população que tem dificuldade em aceitar ou compreender os dados sobre a pandemia, comportando-se como um negador da ciência. É uma questão importante para ser abordada”, aponta Daniella.
Mais de dois terços dos participantes do estudo eram mulheres (67,1%), o que também foi visto em outros estudos. No entanto, a hesitação da vacina foi maior em homens. “Isso é relevante no contexto da Covid-19, uma vez que os homens apresentam maior risco de evolução clínica grave, indicando que as campanhas também devem focar nesse gênero mais hesitante à vacina”, reflete a pesquisadora.
As vacinas com maior confiança foram Covishield (AZD1222, Oxford-AstraZeneca/Fiocruz), com 80,13%, CoronaVac (Sinovac Life Sciences, Pequim, China/Butantan Institute), com 76,36%, Pfizer/BioNTech (70,6%), Moderna (59,58%), Sputnik (45,86%) e Covaxin (42,34%). “A confiança e o respeito a essas vacinas provavelmente se explicam pelo fato de se tratar das vacinas atualmente fornecidas à população brasileira e produzidas em parceria com institutos de pesquisa de renome nacional, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantan”, analisa Daniella.
Sobre o diferencial e contribuições da pesquisa, a pesquisadora declara. “A pesquisa on-line confirma o baixo índice de hesitação vacinal entre os brasileiros e permitiu a identificação de um perfil que pode auxiliar na elaboração de estratégias de comunicação para aumentar a adesão vacinal”.
Dados na íntegra
Confira os resultados do estudo na íntegra, disponíveis na conceituada revista científica internacional Vaccine. O estudo foi idealizado pelos seguintes profissionais de várias áreas do IFF/Fiocruz: Daniella Moore, Karla Gonçalves Camacho, Zina Maria Almeida de Azevedo, Saint Clair Gomes Junior, Dimitri Marques Abramov, Maria de Fátima Junqueira Marinho, Adriana Teixeira Reis, Livia Almeida de Menezes, Marcio Fernandes Nehab, Margarida dos Santos Salú, Carlos Eduardo da Silva Figueiredo, Maria Elisabeth Lopes Moreira, Zilton Farias Meira e Vasconcelos, Flavia Amendola Anisio de Carvalho, Livia Mello e Roberta Fernandes Correia.
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