02/10/2019
Por Juliana Xavier* (CST/Cogepe/Fiocruz)
Foi realizado no dia 24 de setembro, no auditório térreo da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), o 3º Encontro do Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência. O evento teve o objetivo de apresentar a Política da Fiocruz para Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência, debater os desafios em torno da educação inclusiva e aprimorar as ações institucionais em torno do tema. O encontrou contou com medidas de acessibilidade, como a presença de intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras), e fez parte das comemorações do Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, celebrado no dia 21 de setembro.
Marcelo Cunha, trabalhador vinculado ao Projeto Empregabilidade da Pessoa Surda, coordenado pela Cooperação Social da Presidência em parceria com a Coordenação- Geral de Gestão de Pessoas (Cogepe) e a ONG Centro de Vida Independente (CVI-Rio), entregou uma carta à presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, também presente na mesa de abertura. O documento, elaborado por profissionais surdos da Fundação, reivindica acessibilidade e pontua que ainda há muito a ser feito na instituição.
Na ocasião, a presidente Nísia salientou a importância da educação e participação das pessoas que sentem os limites existentes na instituição para a definição das políticas. “Desde 2016, de maneira mais sistemática com a criação do comitê, a Fiocruz busca avançar na questão da acessibilidade, pensando na mobilidade física, no fortalecimento da integração de trabalhadores surdos, que é um projeto anterior, e nos outros tipos de deficiência, apresentando propostas concretas de inclusão”.
Andrea da Luz, Nísia Trindade Lima e Isabela Delgado na mesa de abertura (Foto: Peter Ilicciev)
Isabela Delgado, representando a Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), reforçou a relevância de eventos como o terceiro encontro. “Para nós é urgente discussões como essa, para que possamos trocar experiências e ter, de fato, uma educação com uma prática inclusiva, rompendo barreiras e traduzindo na prática as diretrizes que temos de Congresso Interno, de documentos como a Política da Fiocruz para Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência e dos marcos legais do Ministério da Educação”.
A vice-diretora de Ensino da Ensp, Lúcia Dupret, ressaltou que a mudança, além de física, precisa ser cultural, pois só assim será possível ter uma educação inclusiva. “Apesar do tema estar muito focado na questão da acessibilidade, de promover igualdade de acesso à educação, a ideia de inclusão está se ampliando muito nos tempos atuais. E esse é um momento de reflexão em nossa instituição sobre como lidamos com a diferença, questionamento este enfrentado com frequência quando produzimos os editais dos cursos, por exemplo, e isso pressupõe transformação de cultura, da forma de saber e fazer”.
A coordenadora-geral de Gestão de Pessoas, Andréa da Luz, reafirmou o compromisso da Fundação com a inclusão de profissionais com deficiência. “A Fiocruz não tem como retroceder nesse caminho de ampliar os espaços de inclusão, seja na área da educação, infraestrutura ou gestão de pessoas. É um compromisso institucional e por parte da área de gestão de pessoas é uma responsabilidade pessoal minha e, por isso, coloco-me à disposição para sempre ouvir as demandas, não só deles, mas de todos os profissionais”, enfatizou.
Após a mesa de abertura, Tatiane Nunes, integrante do Comitê e assessora pedagógica da Coordenação de Desenvolvimento Educacional a Distância da Ensp, apresentou a Política da Fiocruz para Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência, que visa estabelecer princípios, diretrizes, orientações e responsabilidades no âmbito da instituição, tornando-a um ambiente mais inclusivo e acessível. Tatiane destacou que, embora diversas iniciativas pela inclusão e acessibilidade das pessoas com deficiência já existissem espalhadas pela Fundação, foi a partir de uma provocação, em 2016, do pesquisador da Ensp Luiz Carlos Fadel que se buscou integrá-las em um grupo de trabalho.
Leia a Política da Fiocruz para Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência
Mesas redondas
O encontro contou com duas mesas redondas com o tema Diálogos sobre experiências em educação na perspectiva da inclusão. Na primeira mesa, a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Pesquisa, Estudos e Apoio à Participação e à Diversidade em Educação (LaPEADE), Mônica Pereira dos Santos, apresentou o histórico da Política de Acessibilidade da UFRJ, bem como os desafios enfrentados até a implementação da portaria que garantisse os direitos das pessoas com deficiência na universidade.
A jornalista e presidente da Comissão Permanente de Acessibilidade e Inclusão da Universidade Federal Fluminense (UFF), Lucília Machado, falou da sua experiência como cadeirante, que contribuiu para que ações de acessibilidade fossem implantadas na instituição, como o Projeto Sensibiliza UFF e a Política de Acessibilidade. “É importante que nossos direitos estejam regulamentados. A presença das pessoas com deficiência ainda é um desafio para a educação, pois é preciso mudança de práticas nas salas de aula, envolvendo os gestores, investindo em ações de acessibilidade e implementando políticas públicas”, destacou.
Na segunda mesa, Laís Silveira, sanitarista, professora da Ensp e cofundadora do Acolhe Down, destacou desafios para a educação inclusiva que passam pelos preconceitos evidentes não só na escola, mas na sociedade em geral, sobretudo para pessoas com deficiência intelectual. Laís compartilhou sua vivência como mãe de uma criança com Síndrome de Down. “Sempre que as pessoas veem a minha filha e o amor que tenho por ela e comentam algo como ‘sorte a dela de ter uma mãe como você’, elas reafirmam que a sociedade acha que aquela criança é pior que as outras e confirmam a ideia de que aquela pessoa é uma coitadinha, que depende de caridade e da sorte, que para ela não valem os direitos humanos previstos nas convenções internacionais ratificadas em nossa Constituição Federal. Isso não é inclusão! Inclusão de verdade é parar de achar que tem pessoa diferente de outro tipo de pessoa, é saber que pessoa é pessoa. Se não conseguimos incluir essas pessoas na sociedade, como vamos inclui-la na educação e na escola?”, questionou.
Ivã Habib Ferreira, graduando em Pedagogia e estagiário do Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural da Ensp, abordou em sua apresentação algumas questões, entre elas como diagnosticar uma pessoa com deficiência intelectual. Ivã é autista, tem síndrome de Asperger, e trouxe reflexões a partir da sua vida e das relações construídas no seu cotidiano de ensino na universidade para discutir educação e inclusão.
O 3º Encontro do Comitê ainda teve a participação do diretor do Centro de Atenção a Universitários com Deficiência da Universidade Nacional de Educação a Distância da Espanha, Tiberio Feliz Murias, que participou por web conferência, compartilhando sua experiência no atendimento a estudantes universitários com deficiência.
Acesse a apresentação de Tiberio Feliz Murias
Além das mesas redondas, o evento contou com um laboratório de experimentação de tecnologias assistivas, onde os participantes tiveram a oportunidade de conhecer softwares e ferramentas que ajudem nos processos educativos de pessoas com deficiência.
Participantes do laboratório de experimentação de tecnologias assistivas (Foto: Peter Ilicciev)
O Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência reúne trabalhadores de diferentes unidades e escritórios da instituição e conta com o apoio do Programa Fiocruz Saudável, que integra as dimensões de saúde do trabalhador, biossegurança e gestão ambiental para desenvolver ações concretas que resultem na melhoria da qualidade de vida e de trabalho na Fundação.
*Edição: Leonardo Azevedo (CCS) e Marina Maria (Icict)