14/05/2020
Fonte: Informe Ensp
A antecipação da formatura de médicos, a convocação compulsória de profissionais da Saúde, a pouca ou nenhuma prática em determinadas áreas e o grande número de acometimento e mortes desses profissionais por coronavírus são os principais temas abordados no artigo O exercício da medicina no enfrentamento da Covid-19 – vulnerabilidades e necessidades protetivas. Publicado no âmbito do Grupo de Trabalho sobre Bioética do Observatório Covid-19 - Informação para ação da Fiocruz, o texto evidencia a urgente necessidade da incorporação de pessoal no enfrentamento da pandemia; entretanto, questiona o suporte aos profissionais da Saúde e seus familiares durante a crise que o país está vivendo, bem como no cenário pós-pandemia.
“Qual amparo está sendo/será dado aos que adoecerem? Como será reestabelecida a saúde mental dos que vierem a sofrer com o ritmo de trabalho excessivo (Burnout) ou o peso de receber a alcunha de herói e, assim, sofrer por achar que não pode sucumbir? Caso sofram com o contágio, o adoecimento e as formas graves da doença, que resultem em óbito, como serão assistidas suas famílias? A grande questão aqui é: os 'guerreiros e guerreiras' da Saúde poderão contar com o Brasil de que forma?”, questionam os autores.
A partir de tanto questionamentos e acontecimentos, os pesquisadores argumentam que tais aspectos precisam ser considerados, assim como medidas protetivas aos profissionais da Saúde devem ser implementadas. Dessa forma, o documento recomenda que: entidades sindicais e o Ministério Público do Trabalho devem estar empenhados na busca pela ampla garantia de direitos trabalhistas; gestores sejam responsáveis - e responsabilizados - pelo fornecimento de EPI adequado para o atendimento seguro à população; profissionais comuniquem a falta de EPI e más condições de trabalho aos órgãos competentes; apoio psicológico seja oferecido aos profissionais; problemas éticos ao redor do dever de cuidar sejam amplamente discutidos com a sociedade; processos de formação dos trabalhadores da Saúde precisam contemplar os conhecimentos relacionados com as interações entre humanos, animais não humanos e ambiente (“One Health”), conhecendo o equilíbrio necessário entre as três dimensões, de forma a atuarmos adequadamente; processos de formação dos trabalhadores da Saúde devem proporcionar um leque de saberes e campos de prática que possibilitem efetivamente a formação de indivíduos críticos.
O artigo é de autoria de Luciana Narciso, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) - que escreveu a primeira versão do texto e a apresentou para ser debatida com os demais autores até chegarem conjuntamente à versão final -, em parceria com os pesquisadores Marisa Palácios (UFRJ), Sônia Beatriz dos Santos (Uerj), Sergio Rego (Ensp/Fiocruz), Andreia Patrícia Gomes (UFV), Suely Marinho (UFRJ), Beatriz Thomé (Unifesp) e Fermin Roland Schramm (Ensp/Fiocruz).
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