Editora Fiocruz lança segunda edição de clássico da epidemiologia nutricional brasileira

Quinze anos depois do sucesso da coletânia Epidemiologia Nutricional, a Editora Fiocruz lançou, nesta quarta-feira, a segunda edição, revista e ampliada, do livro que se tornou leitura fundamental para a área da nutrição e epidemiologia.

A importância da alimentação na saúde humana é incontestável. Segundo escreve Cesar Victora no prefácio deste volume, o relatório publicado em 2002 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) avaliou que seis dos vinte principais fatores de risco para mortes e doenças em nível global estão ligados à alimentação: desnutrição infantil, sobrepeso e obesidade, baixo consumo de frutas e verduras e deficiência de vitaminas e minerais (especificamente, ferro, zinco e vitamina A) estão entre eles. “A epidemiologia nutricional é (...) um campo cada vez mais importante para o controle de doenças em âmbito mundial”, relata Cesar.

Nesta coletânea de fôlego, disponível em formato digital pela plataforma SciElo Livros, os organizadores e autores oferecem uma poderosa ferramenta de trabalho aos interessados na epidemiologia nutricional brasileira. Ampliando os horizontes tradicionais desse campo de estudo, o livro vai além de avaliar dietas e relacionar alimentação e doenças crônicas. Os 38 capítulos desta edição contemplam antigos e atuais problemas nutricionais brasileiros, propondo tópicos, metodologias e soluções inovadoras.

Enfoque amplo e multidisciplinar

Na primeira parte do livro, são apresentados e analisados métodos de avaliação nutricional em diferentes grupos populacionais, de gestantes a idosos. A complexidade da avaliação nesta área de pesquisa exige um enfoque rigoroso e criativo em suas metodologias. Além do desafio de se aferir o consumo alimentar em grandes amostras de população, com todas suas variáveis subjetivas e temporais, entram em cena outros indicadores relacionados ao estilo de vida, como a prática de atividade física, as composições corporais e as necessidades fisiológicas de cada grupo.

Entre as muitas metodologias propostas estão procedimentos estatísticos para definir padrões de consumo alimentar considerados saudáveis, interesse crescente de estudos atuais, em um momento em que vemos a inserção cada vez mais agressiva de ultraprocessados na alimentação. “Análises sobre o padrão de consumo são interessantes porque podem configurar-se como forma efetiva de prevenção [de doenças]”, atestam os organizadores no texto de introdução desta edição.

A segunda parte da obra contém estudos sobre a epidemiologia dos principais problemas nutricionais brasileiros, justamente à luz das transições demográficas, epidemiológicas e nutricionais por que o país vem passando nos últimos anos, como a mencionada troca da alimentação tradicional pela industrializada. As várias formas de malnutrição, que incluem desnutrição, deficiências de vitaminas e minerais e Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DNCT) relacionadas com alimentação, como as doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e câncer, coexistem na população brasileira. Neste contexto, por exemplo, grupos populacionais são acometidos ao mesmo tempo por problemas de saúde relativos à desnutrição e à obesidade. 

A última divisão do livro espelha o conceito amplo de epidemiologia nutricional, com abordagem de tópicos da atualidade. São consideradas a epidemiologia da amamentação no Brasil, a transição nutricional, a atividade física e a obesidade, a origem fetal de doenças e os transtornos alimentares. Dois capítulos são destinados à discussão do conceito de segurança alimentar em povos indígenas no Brasil. Tópicos sobre temas não incluídos na primeira edição abrangem a sindemia global, metabolômica e microbiota, ambientes alimentares, desenvolvimento infantil e indicadores de equidade e genética em estudos epidemiológicos.

Simultaneamente, manual técnico da complexa área da avaliação nutricional e rigorosa enciclopédia nutricional brasileira, este compêndio de enfoque amplo e multidisciplinar reúne oitenta dos principais investigadores na área de nutrição e saúde pública no Brasil e oferece rica contribuição para a melhora do estado nutricional de nossa população.

Sobre os organizadores

Gilberto Kac é nutricionista, doutor em saúde pública pela Universidade de São Paulo e professor titular do Instituto Nacional Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Rosely Sichieri é médica, doutora em nutrição em saúde pública pela Universidade de São Paulo e professora titular do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Denise Petrucci Gigante é nutricionista, doutora em epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia e do Programa de Pós-graduação em Nutrição e Alimentos da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Pelotas.