A varicela, mais conhecida como catapora, é uma doença infecciosa, altamente contagiosa, causada pelo vírus herpes zoster. A catapora acomete principalmente crianças, entre o fim do inverno e no início da primavera. Quando ocorre em adolescentes e adultos, a infecção tende a ser mais severa. A doença também representa risco para pacientes imunocomprometidos ou portadores de doenças crônicas, como neoplasias, Aids, dentre outras.
A principal característica clínica da varicela é o aparecimento de lesões na pele que se apresentam nas diversas formas evolutivas (máculas, pápulas, vesículas, pústulas e crostas), acompanhadas de coceira.
Os sintomas da catapora, em geral, começam entre 10 e 21 dias após o contágio da doença. Normalmente, o paciente desenvolve vesículas ou bolhas de conteúdo claro e com as bordas avermelhadas. Essas bolhas, que surgem na pele de todo o corpo, inclusive no couro cabeludo, boca e outras mucosas, aparecem em surtos (várias ao mesmo tempo) e vêm acompanhadas de coceira, febre baixa a moderada com duração média de quatro dias, além de mal estar, cansaço, dor de cabeça e perda de apetite. Outra característica da doença é que ela é polimórfica, ou seja, o paciente tem lesões de pele em vários estágios diferentes ao mesmo tempo: vesículas com conteúdo claro, às vezes um pouco mais turvo e já com crostas secas.
As infecções secundárias da pele são as complicações mais comuns associadas à catapora. A doença cria na pele uma porta de entrada para bactérias, que poderão causar infecções na pele e e até atingir a corrente sanguínea, provocando infecções sistêmicas e invasivas. A possibilidade de pneumonite viral, causada diretamente pela catapora, exige atenção. Crianças acima de 12 anos e adultos apresentam maior potencial para desenvolvimento dessa complicação grave. Além disso, pacientes imunossuprimidos podem apresentar a doença disseminada, ter acometimento do sistema nervoso central, encefalite por varicela, entre outras complicações.
O diagnóstico da doença é, basicamente, clínico, embora exista a possibilidade de confirmação sorológica em casos mais graves. Aos primeiros sintomas é necessário procurar um serviço de saúde para que um profissional possa orientar o tratamento e avaliar a gravidade da doença.
Para evitar o contágio, é necessário restringir a criança ou adulto com catapora de locais públicos até que todas as lesões de pele estejam cicatrizadas, o que acontece, em média, num período de duas semanas. Mãos, vestimentas e roupas de cama, além de outros objetos que possam estar contaminados, devem passar por higienização rigorosa.
Além disso, é importante destacar que já existe vacina para a doença. O imunizante entrou no Calendário Nacional de Vacinação do SUS em 2013, compondo a vacina tetra viral, que também protege contra sarampo, caxumba e rubéola. Na rede pública, a vacina está disponível apenas para crianças com até 15 meses de idade que já tenham recebido a primeira dose da tríplice viral, o que pode reduzir cerca de 80% das hospitalizações pela doença.
Além da dose que deve ser administrada ainda no primeiro ano de vida, a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam o reforço da vacina entre os quatro e seis anos de idade. O reforço é importante para prevenir completamente a doença, pois a dose única gera, em alguns casos, uma imunidade que não impede que a pessoa manifeste a doença, ainda que numa forma mais branda.
A vacina não tem qualquer efeito se dada em um paciente já infectado pelo vírus, pois não há risco de ter catapora mais de uma vez, salvo em raríssimas exceções. Nesses casos, após a manifestação da catapora, o vírus fica em estágio de latência, não sendo eliminado do organismo. Em razão disso, algumas pessoas, podem desenvolver, geralmente numa etapa mais avançada da vida, o herpes zoster, que é uma reativação do vírus numa outra manifestação clínica.
Não existem contraindicações para a vacina, a não ser em casos específicos, como em alguns pacientes com HIV ou outros déficits de imunidade e em mulheres grávidas. No entanto, cabe ressaltar que, se a mulher não contraiu doença na infância ou não tem certeza de sua situação imunológica, é recomendável a vacinação antes de engravidar.
Nas crianças pequenas, não é indicado qualquer tratamento, nem mesmo os conhecidos banhos de permanganato, que, quando mal diluído, pode causar queimaduras na pele e acrescentar morbidade à doença. O ideal é fazer a higiene adequada da pele, com água e sabão, durante o banho habitual, e cortar bem as unhas da criança para que ela não coce as vesículas, o que aumenta o risco de infeccioná-las.
O tratamento específico com a medicação aciclovir só é indicado em adultos ou pacientes acima dos 12 anos, pois a taxa de complicação da doença nessas faixas etárias costuma ser maior. Em algumas situações, pode-se lançar mão de medicações anti-histamínicas visando conter o prurido que acompanha as lesões de pele.
A catapora é transmitida de pessoa a pessoa, por meio de contato direto ou de secreções respiratórias (saliva, espirro, tosse etc) e, raramente, através de contato com lesões de pele ou por meio de objetos contaminados. O período de incubação do vírus é de 4 a 16 dias. A transmissão, por sua vez, se dá entre 1 a 2 dias antes do aparecimento das lesões de pele e até 6 dias depois da fase de crostas das lesões.
Existe, ainda, a possibilidade de transmissão materno-fetal da catapora, que pode levar a defeitos congênitos no bebê, especialmente no primeiro trimestre de gestação. A literatura especializada relata casos graves de varicela em recém-nascidos quando a mãe desenvolveu a doença cinco dias antes ou até dois dias depois do parto.
O Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) é referência de atendimento para casos graves da doença. Usuários da rede pública e privada de saúde, de serviços filantrópicos ou de outros municípios podem ser encaminhados ao IFF/Fiocruz.
Com base na assinatura de uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo com a GSK em 2003, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) passou a disponibilizar, em 2013, a vacina varicela ao Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. O imunizante compõe a vacina tetra viral, que previne crianças contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela.