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Wellcome Trust apresenta oportunidades para cientistas sociais na Fiocruz

Pessoas sentadas no auditório durante o encontro

29/03/2019

Por: Julia Dias (Agência Fiocruz de Notícias)

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Representantes da Wellcome Trust estiveram na Fiocruz, no dia 21 de março, para apresentar linhas de financiamento e oportunidades para pesquisadores de ciências sociais e humanidades na área de saúde. A Wellcome foi fundada em 1936, com o objetivo de promover o avanço da pesquisa médica e científica para melhorar o bem-estar da humanidade. Até 2007, o fundo era ligado à farmacêutica fundada por Henry Wellcome. No entanto, para evitar conflitos de interesse e se estabelecer como um fundo totalmente independente, a Wellcome vendeu a companhia, permanecendo apenas com o fundo de financiamento. Hoje a instituição é um dos principais atores na Saúde Global, financiando ideias inovadoras e disruptivas em diversos campos da saúde.

O apoio às ciências sociais e humanas é mais recente e teve início com o incentivo a pesquisas sobre história da ciência, logo expandindo-se para todas as áreas. Nos últimos seis anos, a Wellcome ofereceu mais de mil bolsas para cientistas sociais em mais de 400 organizações no Reino Unido, Irlanda e em países de renda baixa e média. “Não apoiamos projetos pequenos, mas ideias que revolucionam”, explicou o representante da Wellcome para a área de Ciências Sociais, João Rangel de Almeida. Para ele, a dica para um projeto bem-sucedido é ter uma grande ideia e um projeto bem elaborado, que seja trabalhada com os colegas antes de ser submetida. “Não aceitamos ressubmissão, por isso nosso conselho é que os projetos passem por avaliações com os colegas antes de ser apresentados. Pelos dados que temos, sabemos que os projetos aceitos costumam passar por um processo de seis meses de elaboração. É importante ter um projeto consistente e uma ideia ambiciosa com potencial transformador”, completou.

A presidente da Fiocruz saudou a iniciativa. Nísia Trindade Lima explicou que para a Fiocruz as ciências sociais não constituem um nicho e sim representam uma contribuição para uma visão mais abrangente da área de saúde. “Eu não sou apenas a primeira mulher a presidir a Fiocruz, mas também a primeira cientista social a ocupar o cargo”, afirmou. 

O financiamento pode ser recebido em diversos momentos da carreira dos cientistas, através das bolsas e programas fixos, ou de editais temáticos para temas considerados estratégicos pela Wellcome. Entre as linhas fixas, estão disponíveis para o Brasil as bolsas de doutorado e pós-doutorado e os financiamentos para grupos de pesquisa como Investigator Award, que aceita projetos com um pesquisador-chefe, e o Collaborative Award, que premia equipes de até seis pesquisadores principais, com especial interesse em cooperações internacionais e dinâmicas de equipes horizontais.

Projetos já financiados

Entre os projetos da Fiocruz que já receberam financiamento da Wellcome está a transformação da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (HCSM) em uma publicação bilingue, visando aumentar o diálogo entre historiadores da medicina do sul e do norte global. O projeto foi liderado pelo pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Marcos Cueto, que recebeu financiamento pela Small Grants in Humanities and Social Science em 2017.

O projeto de pesquisa sobre a saúde das populações indígenas, do pesquisador Ricardo Ventura Santos, recebeu o Investigator Awards in Humanities and Social Science, em 2016, e o o Coorte do 100 milhões de brasileiros, do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (Cidacs), coordenador pelo pesquisador Maurício Barreto, foi agraciado pelo com recursos do Biomedical Resource and Technology Development Grants, também em 2016.

Os pesquisadores Davide Rasella e Federico Costa receberam bolsas de pós-doutorado pelo programa International Training Fellowships, com projetos sobre o impacto do bolsa família e dos determinantes sociais de Saúde na morbi-mortalidade por HIV/Aids e tuberculose e sobre determinantes multifatoriais da leptospirose urbana, respectivamente. 

Picadas de cobras

Os representantes da Wellcome também se reuniram com pesquisadores da Fiocruz nos dias 19 e 20 de março para tratar de outras aproximações entre as duas instituições. Um possível fundo estratégico para picadas de cobras e outros animais peçonhentos foi um dos principais tópicos discutidos, com a participação de representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

Esta é considerada uma área de pesquisa prioritária para a Saúde Global, em que ainda existem poucas pesquisas. “Apesar de parecer um problema de nicho e de termos uma falsa perspectiva de que este é um problema muito específico e pequeno, ele não é. Pois não podemos medi-lo só em números, mas também em impactos em pessoas que estão em desvantagem social e de acesso a cuidados de saúde”, explicou o responsável pelo projeto na Wellcome, Diogo Martins.

A escolha do Brasil para apresentação do projeto também foi estratégica. “Escolhemos o Brasil como um estudo de caso. Nesta área de doenças tropicais negligenciadas e de picadas de cobras e animais peçonhentos, o Brasil está na liderança. É um país que um histórico fantástico de pesquisas nesta área de antivenenos (antiofídicos), mas também em termos de sistema de saúde. Vocês aqui têm o SUS e, portanto, um sistema público de saúde que distribui os produtos de forma gratuita. Isso é uma coisa que não existe em muitos países do mundo e quisemos ver como funciona”, afirmou Martins.

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