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Soluções para continuidade das ações educacionais na pandemia


06/07/2020

Isabela Schincariol (Campus Virtual Fiocruz)

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A comunidade Fiocruz está mobilizada para enfrentar mais um desafio imposto pelo coronavírus: alterações na área da educação devido ao isolamento social. Há quase 100 dias, a instituição – que oferece programas e cursos em 21 de suas unidades/escritórios, em diferentes níveis (Stricto sensuLato sensu, qualificação profissional, educação profissional técnica e especialização técnica) e conta com cerca de 6 mil alunos presenciais – vem trabalhando diuturnamente na busca e implementação de ações estratégicas de continuidade das atividades de ensino durante a pandemia. As novas regras de convívio e comportamento adotadas baseiam-se na segurança e na saúde do seu corpo docente, discente e trabalhadores. 

Desde que foi decretada a pandemia, a Fundação está com todos os seus setores mobilizados e vem atuando de maneira articulada às diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS). No campo da educação não foi diferente. Protocolos e medidas foram elaborados. Ações estratégias foram implementadas. E, num movimento ininterrupto, reflexões e debates em busca de novas soluções não param de acontecer. 

Por ter natureza tão ampla e diversificada, toda e qualquer decisão da Fiocruz leva em consideração o perfil das unidades, escritórios e serviços. A instituição está presente em 11 unidades federativas e isso exige cotidianamente um enorme esforço de adaptação das recomendações comuns às realidades locais, bem como a verificação das condições de infraestrutura, e das características dos cursos e alunos em cada contexto específico, com adoção de medidas complementares.

O “novo normal” ainda é desconhecido, portanto, as mudanças e adaptações estão acontecendo na medida em que esse fenômeno de saúde pública de longa duração avança no país e no mundo. Para saber mais sobre as iniciativas da área, o Campus Virtual Fiocruz entrevistou a coordenadora-geral adjunta de Educação, da Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Eduarda Cesse, que falou sobre as ações já adotadas, os protocolos em desenvolvimento e a retomada das atividades de ensino. Confira.  

Campus Virtual Fiocruz: O que já foi feito no campo da educação e quais estratégias estão sendo pensadas para adaptar as atividades de ensino ao distanciamento social e às novas regras de convívio?

Eduarda Cesse: Desde o início da pandemia, a Coordenação Geral de Educação (CGE), instância ligada à VPEIC, passou a orientar os programas e cursos da Fiocruz a seguirem o Plano de Contingência institucional* – documento base norteador para nossa comunidade na manutenção de um ambiente institucional seguro e saudável no contexto da Covid-19. Para assim adaptar as recomendações a suas diferentes realidades e, quando necessário, adotar novas medidas.  

Dentre as principais ações e protocolos já adotados podemos destacar:

  • Suspensão das qualificações de projetos e defesas finais de forma presencial (dissertações, teses, TTC) e recomendação para a realização de forma remota;
  • Suspensão das aulas presenciais, sendo substituídas, sempre que possível, por atividades remotas;
  • Suspensão ou adiamento, sempre que possível, de viagens internacionais e nacionais, especialmente para países e regiões com transmissão comunitária**; 
  • Levantamento de alunos e pesquisadores que estavam no exterior, bem como apoio para retorno ao Brasil;
  • Apoio aos alunos que residiam no alojamento da Fiocruz, localizado no Centro de Referência Professor Helio Fraga – no bairro de Jacarepaguá –, para retorno às suas cidades de origem, além de orientações aos alunos estrangeiros que lá permaneceram sobre a adoção de cuidados de saúde e medidas de isolamento; e apoio à testagem daqueles que apresentaram sinais e sintomas compatíveis com a Covid-19;
  • Apoio aos residentes que estão na linha de frente das ações de enfrentamento da pandemia, trabalhando na assistência aos doentes, alocando-os em hotéis adaptados para receber profissionais de saúde durante a pandemia;
  • Mapeamento das ações educacionais realizadas nas unidades frente à pandemia, identificando e colaborando com o planejamento para adoção de medidas compatíveis com a situação da pandemia.

Os últimos três meses foram de incessantes reuniões e debates virtuais em busca de novas adaptações na medida em que dados e orientações oficiais também foram sendo alterados. A CGE mantém constante diálogo com as coordenações dos programas e cursos da Fiocruz, o Centro de Apoio ao Discente (CAD), a Associação de Pós-Graduandos (APG), por meio de importantes espaços de discussões, como a Câmara Técnica de Educação (CTE) e outros fóruns específicos das modalidades de nossas ofertas educacionais, e da participação em reuniões de planejamento das nossas Unidades, mediante convite. A Coordenação está ainda em estreito contato com o comitê de especialistas responsáveis pela implementação do Plano de Contingência da Fiocruz. Acompanhamos de perto cada nova questão ou necessidade dos nossos alunos e professores. 

CVF: Sabemos que o uso de tecnologias digitais na mediação do processo de ensino-aprendizagem será necessário. Como está sendo pensado o ensino remoto na Fiocruz?

Eduarda Cesse: Nesse momento de pandemia, entendemos Educação Remota como uma possibilidade de oferta emergencial. 

O uso de tecnologias digitais tem sido visto pela CGE (VPEIC/Fiocruz) como uma alternativa de retorno às atividades durante esse período que estamos chamando de "convivência com a pandemia", sempre preocupados em atender às regulamentações vigentes do Ministério da Educação (MEC) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), essa última mais voltada à pós-graduação stricto sensu, além de garantir acesso e conectividade a todos os alunos. 

Não devemos confundir Educação Remota com Educação a Distância (EAD) ou Educação Online. A Fiocruz tem larga experiência em EAD com a formação de milhares de alunos, e segue lançando mão dessa estratégia, inclusive, para novas iniciativas de capacitação profissional no que se refere ao enfrentamento da Covid-19. No entanto, para diversos níveis de formação, é necessário estarmos atentos às regulamentações dos órgãos pertinentes e às características dos cursos/programas. 

Uma nova frente são as Disciplinas Transversais. A ideia é articular iniciativas relacionadas a temas estratégicos para a Fiocruz entre as unidades. São temas que perpassam todos os programas, unidades ou, em alguns casos, grupos de unidades que possuem atuação na área a que tais disciplinas se refiram. Muitas são as questões comuns a grande área da saúde pública e inúmeras as nossas possibilidades. Neste momento, temos ofertas prontas de disciplinas transversais sobre Metodologia científica, Biossegurança e Divulgação Científica. Além disso, já em fase de elaboração, temos Ética e integridade em pesquisa e Ciência Aberta. Outros temas transversais como História da saúde pública e Introdução ao Sistema Único de Saúde também estão em discussão.

CVF: Além da adaptação da capacidade institucional, algum suporte está sendo pensado aos docentes e discentes?

Eduarda Cesse: Claro! É preciso também instrumentalizar nossos alunos e professores.  

A CGE (VPEIC/Fiocruz) adquiriu licenças de ferramenta de webconferência (Zoom) e identificou outras (RNP e Teams) que facilitam atividades educacionais remotas emergenciais. Além disso, ofereceu treinamentos ao corpo docente sobre a utilização de tais ferramentas.

Outra iniciativa nessa vertente é o Guia de utilização de tecnologias digitais na Educação, lançado pelo Campus Virtual Fiocruz. Ele traz uma série de informações didáticas sobre como criar e manter algumas atividades de ensino durante o período da pandemia. 

Vimos incentivando também a participação dos docentes nos diversos cursos gratuitos e online oferecidos por instituições públicas, como a Escola Nacional de Administração Pública (Enap), por exemplo. 

Além disso, até o final do mês de julho, lançaremos um curso de capacitação autoinstrucional para a utilização de ferramentas voltadas à educação remota emergencial. A iniciativa é desenvolvida por um grupo de trabalho, formado no âmbito do Fórum de Qualificação Profissional e EAD da Fiocruz, sob a coordenação da CGE.

CVF: Sabemos que a realidade de infraestrutura domiciliar das pessoas é muito diferente. O incentivo e uso de ferramentas digitais e capacitações online estão sendo pensado de forma inclusiva pela Fiocruz? 

Eduarda Cesse: A inclusão digital é uma de nossas maiores preocupações no momento. Precisamos ter garantias que nenhum aluno ficará para trás. Nessa perspectiva, há cerca de dois meses, a Fiocruz, por meio da Coordenação Geral de Educação (CGE/VPEIC), vem participando de debates virtuais com um conjunto de instituições de ensino superior do Rio de Janeiro – UFRJ, UFRRJ, UFF, Uerj, Unirio, Uenf, Uezo, Cefet e IFRJ –, com vistas a encontrar, conjuntamente, alternativas e possibilidades de enfrentamento da pandemia no que se refere a ações educacionais remotas. 

A partir disso, foi realizado um diagnóstico junto às unidades sobre a necessidade de equipamentos de informática e acesso à rede de internet dos alunos dos programas e cursos da Fiocruz. O levantamento apontou que cerca de 1.800 alunos precisam ser apoiados, como forma de possibilitar a retomada das atividades acadêmica de forma remota.

As discussões no coletivo das instituições e o diagnóstico realizado nas Unidades culminam com a elaboração de um Programa de Inclusão Digital da Educação na Fiocruz. O esforço tem como objetivo fundamentar a aquisição de equipamentos e rede de internet para os alunos e, assim, contribuir com a diminuição das desigualdades de acesso identificadas no levantamento. A iniciativa prevê a aquisição de tablets e chips banda larga. Para a aquisição de tablets, ouvimos a opinião da APG e do CVF buscando especificações que possibilitem conforto e condições aos estudantes de acompanhar as atividades remotas. A perspectiva de conectividade para esses alunos pode ser facilitada pela parceria com as instituições federais e articulações com o MEC e a Rede Nacional de Pesquisa (RNP).

CVF: Com a adoção do ensino remoto emergencial, como estão previstas as avaliações dos alunos?

Eduarda Cesse: Não podemos esperar que a avaliação dos cursos e programas não sofra com o que estamos vivendo. Principalmente, porque o ano letivo já está comprometido. Os órgãos reguladores ainda não definiram todos os aspectos e o calendário escolar está suspenso. Na perspectiva de retomar o ano letivo em agosto, o MEC publicou a Portaria 544/2020, de 16/6/20, admitindo, até 31/12/2020, em caráter excepcional, a substituição das disciplinas presenciais, em cursos regularmente autorizados, por atividades letivas que utilizem recursos educacionais digitais, tecnologias de informação e comunicação ou outros meios convencionais. Com isso, estamos buscando a logística necessária para adaptação. 

No que se refere aos cursos de pós-graduação stricto sensu, a CGE, no âmbito do Fórum de Pró-Reitores (Foprop), vem acompanhando e discutindo as deliberações e normatizações da Capes. Junto às Áreas de Avaliações da Capes, estamos buscando equacionar prazos para preenchimento de dados do processo de avaliação quadrienal. 

Quanto aos cursos de especializações e residências, a estratégia é o diálogo com as coordenações e fóruns da área. Sabemos que muitos residentes estão envolvidos com a assistência, na linha de frente de enfrentamento à pandemia. Para eles existe todo um trabalho de apoio, que envolve a aquisição e distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), e hospedagem em locais adequados, inclusive como forma de facilitar o translado para o lugares de atuação e afastá-los de familiares, evitando contágio. 

No que se refere ao ensino médio, oferecido pela Escola Politécnica em Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), estamos acompanhando as discussões e os esforços da direção, que busca a melhor estratégia para enfrentar esse momento. 

Corroboramos com a ideia de que o retorno às aulas presenciais só deve acontecer sendo resguardada a segurança dos alunos e docentes.

Campus Virtual Fiocruz: Como a Capes e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) estão lidando com a questão das bolsas durante este período? 

Eduarda Cesse: Já vínhamos sofrendo com cortes de bolsas para a pós-graduação quando fomos surpreendidos pela pandemia. É importante destacar que a presidência da Fiocruz vem imprimindo esforços para subsidiar cotas de bolsas para programas menos consolidados ou naqueles em que os cortes históricos vêm prejudicando os programas e desassistido os alunos.

Vale salientar que alguns de nossos Programas de Pós-graduação (PPG) realizaram processos seletivos emergenciais para aplicar bolsas concedidas pela Capes, para projetos voltados ao enfrentamento da Covid-19. Também incentivamos os PPG a participarem de editais, tal como o Programa Estratégico Emergencial de Prevenção e Combate a Surtos, Endemias, Epidemias e Pandemias, uma iniciativa também da Capes, para o desenvolvimento de projetos que induzam a geração de conhecimento relacionado especialmente à prevenção e ao combate da atual pandemia. 

Em 30 de abril, a Capes publicou a Portaria Nº 55, que dispõe sobre a prorrogação excepcional dos prazos de vigência de bolsas de mestrado e doutorado no país, bem como a exclusão da variável tempo de titulação em indicadores relativos à avaliação dos programas no quadriênio 2017-2020. Estivemos em contato direto com os coordenadores ajudando a avaliar caso a caso.

CVF: Sobre o ensino médio, serão adotadas ações específicas para esse grupo na volta às aulas?

Eduarda Cesse: O ensino médio precisa ser tratado com bastante cuidado. Nossa Escola Politécnica (EPSJV) trabalha com a filosofia da universalidade do direito à educação e com ênfase na educação presencial. Sendo assim, a unidade mantém aberto diálogo e comunicação com os pais e alunos, realizando atividades educativas e discussões acerca do momento da pandemia por meio das suas redes sociais. Eles também fornecem kits de alimentação às famílias em substituição à merenda escolar. 

Outra iniciativa é o mapeamento de espaços físicos no sentido de planejar o retorno das aulas presenciais, atendendo às medidas de segurança na manutenção do distanciamento. A maioria dos alunos vive nas comunidades próximas à Fiocruz, numa situação de vulnerabilidade social relevante. Estamos acompanhando as discussões de planejamento da EPSJV, que por sua vez mantém diálogo com outras escolas técnicas do SUS e da educação básica, como forma de buscar soluções para o conjunto dos alunos. Mais uma vez, a educação remota deve ser adotada de forma emergencial e complementar. 

CVF: Existe consenso das unidades sobre a realização de processos seletivos para o segundo semestre de 2020?

Eduarda Cesse: Infelizmente, não temos elementos para definições, nesse momento, que sejam comuns a todas realidades de oferta educacional na Fiocruz. Nem mesmo temos condições de saber quando o ano letivo corrente será finalizado. Nesse contexto, cada Unidade deverá planejar a abertura de processos seletivos de seus cursos e programas. Além disso, há a necessidade de realizar as seleções à luz das medidas de distanciamento. Pode-se buscar, por exemplo, a realização de etapas possíveis à distância, como análise de currículos e entrevistas, de forma que, quando as provas forem aplicadas, sejam realizadas com um contingente menor de candidatos. Todas são estratégias possíveis e estão em avaliação. 

*O Plano de Contingência da Fiocruz e as Orientações para o Ensino — complementares ao Plano —, seguem em constante atualização, de acordo com a evolução da doença no país e no mundo. 

**Em relação a viagens de pesquisadores e alunos ao exterior, deve-se levar em consideração também as orientações gerais da Capes.

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