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Serviço de Estomaterapia do IFF completa 18 anos

Profissionais de saúde do setor

19/03/2021

Por: Suely Amarante (IFF/Fiocruz)

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A história do Ambulatório de Estomaterapia do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) nasceu do sonho, do desejo e da necessidade de atender as demandas de cuidados e promoção à saúde das crianças com estomias. Um misto de solidariedade e profissionalismo que, desde 2003, vem prestando um atendimento especializado a esses pequenos pacientes. Estomia é um designativo genérico de uma condição orgânica resultante de intervenção cirúrgica, com o objetivo de restabelecer a comunicação entre uma víscera/órgão e o meio externo, compensando seu funcionamento afetado por alguma doença. Esta designação é especificada com um prefixo da topografia correspondente, por exemplo: traqueostomia, gastrostomia, ileostomia, colostomia, nefrostomia, ureterostomia, vesicostomia e cistostomia. Em pediatria está geralmente associado à cirurgia para correções de malformações congênitas.

Pensando na melhor forma de oferecer um cuidado humanizado e qualificado aos familiares e pacientes com estomias, foi que a enfermeira estomaterapeuta do IFF/Fiocruz Noélia Leite verificou a necessidade desse cuidado assistencial no Instituto e vislumbrou que poderia ser prestado pela equipe de enfermagem. “O embrião dessa conquista começou em 2001, quando iniciei os meus estudos de mestrado e, posteriormente o doutorado, acerca do assunto. Na época, ainda era uma especialidade muito nova no Brasil. O primeiro curso surgiu na Universidade de São Paulo, porém, Estomaterapia Pediátrica e Neonatal não existia, foi aí que comecei uma busca incessante pelo tema. Ver as complicações que tínhamos com os pacientes com estomas e não saber o que fazer, me angustiava muito”, relembrou a enfermeira.

O sonho foi ganhando força e o desejo da concretização do trabalho foi abraçado por todos os profissionais envolvidos no cuidado aos pequenos pacientes, que necessitavam dessa assistência especializada. “Foi uma construção apoiada por gestores e colegas que compraram a ideia e acreditaram na sua efetividade. Os primeiros procedimentos eram realizados em uma “salinha”, na Cirurgia Pediátrica. Alguns anos depois, começamos a atender em uma sala do Ambulatório especializado. Devido à expansão do trabalho e demanda pelo atendimento, o serviço foi ampliado e passou a ser realizado em outras áreas de assistência pediátrica do Instituto. Isso foi possível devido à demonstração dos resultados e a aplicação desses conhecimentos e tecnologias na melhoria e qualidade de vidas das crianças e suas famílias”, descreveu a enfermeira e idealizadora da iniciativa Noélia Leite, também ex-vice-diretora de Assistência à Saúde do IFF/Fiocruz.

Resultados gerando conhecimento

Referência na produção de conhecimento, gestão participativa e atenção integral para a saúde da mulher, da criança e do adolescente, o IFF/Fiocruz viu a necessidade de ampliar a assistência aos pacientes com estomias, através da formação de novos profissionais. Isso só foi possível devido aos resultados na melhoria da qualidade de vida de crianças e adolescentes atendidos pelo Ambulatório de Estomaterapia, que foi crescendo e se consolidando dentro do Instituto e hoje perpassa todas as áreas de assistência pediátrica. Gerenciado por um profissional de Enfermagem, o Ambulatório conta com o suporte técnico de uma equipe multidisciplinar.

A formação de profissionais se tornou regular em 2015, com a criação do Curso de Estomaterapia Pediátrica e Neonatal, que possibilita o conhecimento na atenção às crianças com estomias, feridas e incontinência. O curso de capacitação, desde a sua criação, abre turmas anualmente. Além disso, com objetivo de fazer atualizações sobre temas relacionados ao cuidado especializado de crianças e neonatos com estomias, feridas e incontinências, realiza-se anual ou bianualmente a Jornada de Estomaterapia Neonatal e Pediátrica, destaca-se que a jornada já está em sua oitava edição. O evento reúne profissionais de enfermagem e outras áreas assistenciais de todas as regiões do Brasil.  

O ambulatório reinventa o cuidado durante a pandemia

O Ambulatório de Estomaterapia, que nasceu da necessidade de implementação de uma atenção assistencial e das dificuldades das famílias na realização de um cuidado, a princípio, complexo e doloroso, foi ganhando força em sua trajetória e hoje é considerado primordial no cuidado dos pacientes pediátricos com estomias. “Além das estomias, atendemos crianças no pré-operatório e pós-operatório; cuidados com feridas agudas, crônicas; incontinência urinária e fecal. O nosso trabalho não se restringe aos Ambulatórios de Pediatria, atuamos também nas Áreas de Atenção Clínica ao Recém-nascido e Atenção Cirúrgica à Criança e Adolescente”, explicou a enfermeira estomaterapeuta e atual coordenadora do Ambulatório de Estomaterapia, Andréa Rodrigues.

Mesmo com a pandemia da Covid-19, o ambulatório não parou com os serviços, organizou toda uma dinâmica para que esses pacientes não tivessem os atendimentos interrompidos. “Durante esse período, permanecemos atendendo no ambulatório e nas áreas de internação. Também foram acrescidas as consultas de telessaúde, com vídeochamadas, não somente com os pacientes, mas também com as Clínicas da Família. Isso evitou a vinda do paciente ao Instituto, pois através das nossas orientações, ele era acolhido na atenção primária mais próxima à sua residência. Essa parceria foi muito importante, pois proporcionou aos nossos usuários e familiares um deslocamento desnecessário e arriscado, além de nos tranquilizar, pois sabíamos que a assistência estava sendo prestada. Esse é o nosso compromisso”, acrescentou Andréa.

Segundo a enfermeira, mesmo na pandemia, os atendimentos no Ambulatório superam a marca de 100 pacientes por mês. Isso demonstra o compromisso e o acolhimento de uma equipe preocupada com o bem-estar do usuário. “Eu me lembro quando cheguei ao hospital, estava nervosa e chorava muito, pois a pele do meu filho estava muito ferida, e eles vieram com cuidado e muito carinho e me tranquilizaram. Desde 2007, quando o meu filho Arthur começou o tratamento, venho recebendo, dessa equipe maravilhosa, muita ajuda e ensinamentos. Cuidadosamente, me ensinaram os procedimentos primários e atenção com o meu filho. O trabalho da Estomaterapia foi fundamental para que eu pudesse aceitar e conviver com a enfermidade do Arthur e administrar esse cuidado com segurança e muito amor. Gratidão a todos dessa equipe tão carinhosa”, recordou Aline, mãe do Arthur.

“O cuidado da Estomaterapia é único, converso com muitas mães e não tenho conhecimento desse serviço em outras instituições de saúde. É um cuidado minucioso, que acompanha desde a troca dos botons até a dispensa de materiais. Essa equipe representa um socorro para a minha família. O Ambulatório de Estomaterapia é o melhor do IFF, pois prestam um atendimento de excelência”, complementou Vanilda, mão do paciente João Pedro, que se trata no Instituto desde 2012.

A ampliação de um serviço

Para brindar e coroar essa trajetória de 18 anos de caminhada, no último dia 4 de março, aconteceu a inauguração da nova sala do Ambulatório de Estomaterapia. Por conta das medidas de distanciamento, a cerimônia foi restrita à participação de alguns representantes das áreas assistenciais do Instituto, além das presenças dos coordenadores de Atenção à Saúde, Dolores Vidal e Marcelo Barbosa,  gestoras da área da Atenção Cirúrgica da Criança e do Adolescente, Maria Alcina B. Paula e Patrícia Marques,  gestora da área da Atenção Clínica à Criança e Adolescente, Cláudia Dayube,  gestor da UP Ambulatórios, José Augusto,  gestoras  da UP Ambulatório de Cirurgia, Maria Lucia Augusto e Paloma Acioly,  coordenador de Manutenção do IFF/Fiocruz, Carlos Augusto Meirelles, da enfermeira Noélia Leite, que está aposentada, mas esteve à frente do Ambulatório de Estomaterapia por vários anos, da enfermeira estomaterapeuta e coordenadora do Ambulatório, Andréa Rodrigues e demais membros que compõem a equipe, além do Diretor do Instituto, Fábio Russomano.  

O momento foi de reconhecimento de um serviço que, há mais de 18 anos, vem demonstrando resultados e humanização. “Esse novo espaço é uma conquista do Instituto destinada aos nossos usuários, com os quais temos o compromisso de manter o acolhimento e a qualidade do serviço prestado. A nossa equipe assume, todos os dias, esse comprometimento, fazendo com que cada família atendida por nós entenda que a colocação de um estoma pode ser, inicialmente, um sofrimento, um momento de dor, mas, aos poucos, ela percebe que o procedimento possibilita à criança viver. Com o tempo, esses cuidados vão sendo adequados à rotina familiar, pois percebem que o paciente com estomias pode ter uma rotina semelhante à de outras crianças. Ver esse processo de maturidade crescendo nesses cenários familiares é muito gratificante e compensador”, observou Andréa.

“O nosso foco sempre foi no usuário, nossa missão, nosso motivo de estarmos aqui hoje. Tudo que fazemos tem um caminho a ser percorrido, nós pagamos o preço e percorremos essa estrada e estamos colhendo os frutos. Agradeço às minhas colegas que se uniram a mim e aceitaram esse desafio. Andréa, Kátia, Irani e Munique, obrigada pela entrega a esse trabalho que tanto nos gratifica”, agradeceu, emocionada, Noélia Leite.

“Essa sala nasceu da união dos esforços. Foi uma construção coletiva e uma entrega de todos os envolvidos (Estomaterapia, NAP, Manutenção, gestores de Áreas e Ups, Coordenação da Atenção e Direção) que não mediram esforços para que esse projeto fosse concretizado. É uma sala que, fisicamente, está neste local, mas o seu trabalho perpassa todo o Instituto. Gerenciada, exclusivamente, pela Enfermagem, presta um serviço com cuidados complexos e humanizado”, complementou Dolores Vidal.

“Esse novo espaço representa reconhecimento, valorização das condições de trabalho, mostra que a instituição é mais forte que os espaços e que podemos olhar para o nosso usuário e ver a sua necessidade, que neste momento, foi agravada pela pandemia e encontrar as melhores condições para ajudá-lo. Isso significa o rompimento de barreiras, para que possamos melhorar a cada dia o nosso atendimento. Ver o sorriso no rosto de vocês e a possibilidade da melhoria nas condições de trabalho nos gratifica. Vocês trabalharam, não mediram esforços e atuam em todo o hospital, nada mais justo que tenham condições adequadas de trabalho”, finalizou o diretor do IFF/Fiocruz, Fábio Russomano.

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