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Resistências e Lutas dos povos e comunidades Tradicionais dos Cerrados Brasileiros é tema de seminário


26/05/2023

Suzane Durães - SAS/VPAAPS/Fiocruz

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“O ecocidio é a destruição da vida e, principalmente, da nossa memória ancestral”, afirmou a liderança quilombola, Emília Costa, do Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom) e representante da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, na abertura do seminário “Resistências e Lutas dos povos e comunidades Tradicionais dos Cerrados Brasileiros I”. 

A atividade coordenada por Guilherme Franco Netto, do Programa de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade (FioPROSAS/Fiocruz), foi realizada no dia 24 de maio, e engloba a primeira etapa da pesquisa “Ecocídio e Globalização dos Cerrados Brasileiros: resistências e lutas dos povos e comunidades originários e tradicionais pelos direitos à saúde e à vida”, desenvolvida pela cooperação internacional entre a Fiocruz e o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.

Emília vive no Quilombo Santo do Costa, no Município de São Luiz Gonzaga, no Maranhão e na avaliação dela, os povos e comunidades do Cerrado, com o apoio de instituições e organizações, têm resistido de várias formas às violações de direitos e ameaças sofridas no território. “Os povos do Cerrado estão vivos e possuem uma relação de cuidado com o território”, afirmou. 

Segundo Emília, a chegada dos grandes empreendimentos e a devastação ambiental, têm impactado na saúde das comunidades. “Há aumento de casos de diarreia; coceira que ‘não tem remédio que consiga passar’; e vômito devido a contaminação das águas e dos alimentos, quando as empresas pulverizam o veneno nas plantações, devido à proximidade, acabam atingindo os nossos alimentos”, ressaltou.

Já a liderança indígena Antônio Apinajé, da Associação União das Aldeias Apinajé (PEMPXÁ), que reside no município de Santo Bento, no Tocantins, pontuou sobre o modelo do agronegócio no país e a expansão das lavouras de eucalipto na região. Para ele, esse modelo de produção não contempla o respeito à natureza. 

Na opinião do Antônio, a destruição ambiental vai contra o modo de vida dos povos. “A cultura capitalista defende a lucratividade com violência. Não podemos ficar presos a um único modo de relacionamento perverso e que mata a natureza”, disse. 

Parte da pesquisa apresentada por Fernanda Savicki, presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e pesquisadora da Fiocruz, revela a exposição dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul, principalmente, as etnias Guarani Kaiowá e Guarani Nhandeva, à contaminação por agrotóxicos.

De acordo com a pesquisadora, foi encontrada alta concentração de agrotóxicos nas águas da região da aldeia. Além dos agrotóxicos, os indígenas enfrentam situações de confinamento, violência e insegurança alimentar. Segundo Fernanda, a produção agroecológica praticada nas aldeias está cercada pelo agronegócio no estado. 

“A agroecologia tem a premissa da transformação social a partir da transformação dos sistemas agroalimentares. Tem princípios que garantem a diversidade em todos os seus âmbitos - bioma, biodiversidade, modos de vida, cultura, pessoas, raças, etnias. Ela é avessa a qualquer sistema de dominação, violência e exploração”, ressaltou.

A pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, Aline Gurgel, apresentou dados da pesquisa-ação que analisou a contaminação das águas e o impacto dos agrotóxicos em comunidades de sete estados que fazem parte do Cerrado (Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Piauí e Tocantins). 

A partir de um mapeamento participativo foram identificados os impactos dos agrotóxicos na saúde das comunidades. “As próprias pessoas da comunidade fizeram toda a representação gráfica e apontaram como os impactos se materializam nos seus modos de vida. Elas também foram treinadas com as técnicas de pesquisas e participaram das tomadas de decisões”, explicou.

Foram oito pontos de coleta em cada município, divididas em dois ciclos distintos. No primeiro ciclo, 46,15% das amostras apresentaram pelo menos um resíduo de agrotóxico. Já no segundo ciclo, a porcentagem subiu para 52,38%. 

Aline destacou que na coleta foram encontrados 13 parâmetros de agrotóxicos diferentes. “Vários desses agrotóxicos não são autorizados pela comunidade europeia, mas são usados no Brasil. Não foi só uma diversidade de agrotóxicos encontrados. Numa única amostra de água chegamos a encontrar nove agrotóxicos diferentes, sendo um verdadeiro coquetel de veneno”, considerou.

Também participaram do seminário o professor João Arriscado, do Centro de Estudos Sociais (CES), e o professor Marcelo Rasga Moreira, do Departamento de Ciências Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) e integrante da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030).

No dia 7 de junho de 2023, das 10h às 13h, será realizado o último seminário da série, com o tema “Resistências e Lutas dos povos e comunidades Tradicionais dos Cerrados Brasileiros II”. A transmissão será pelo canal do YouTube da ENSP.

Assista também o seminário do dia 24 de maio.
 

 

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