06/11/2020
Por Melissa Cannabrava
Zumbi, Dandara, Marighella, Maria Quitéria, Luiz Gama - e muitos outros que doaram suas vidas a causas e lutas políticas - são os responsáveis por deixar um legado às atividades e lutas do Movimento Negro. No mês que marca essa resistência e apresenta as esferas da sociedade historicamente racistas em diversos âmbitos, o Museu da Vida compartilha mais detalhes do projeto Meninas Negras na Ciência - ainda em construção -, que irá trabalhar com a divulgação científica como estratégia de promoção da saúde e cidadania.
“Estamos muito animadas para iniciar a seleção das 25 meninas que vão fazer parte dessa primeira turma. Serão utilizadas estratégias diversas, como rodas de conversa, cine-debates, palestras, dinâmicas e apresentações artísticas no diálogo e mediação, sempre com uma rede de trabalho colaborativa, que será construída com a participação de cientistas e movimentos sociais”, comenta Hilda Gomes, Coordenadora da Seção de Formação do Museu da Vida.
O projeto pretende organizar atividades educativo-culturais para meninas negras estudantes de ensino médio de escolas públicas dos territórios de Manguinhos, Maré, Jacarezinho e Complexo do Alemão. Esse público foi escolhido por ser socialmente vulnerabilizado e sistematicamente invisibilizado nas carreiras de ciência e tecnologia.
Aline Pessoa, que integra a equipe do Núcleo de Desenvolvimento de Público do Museu da Vida, conta que a ideia de criar o projeto surgiu em 2018 e, quando aprovado, se surpreendeu com a quantidade de currículos recebidos. A profissional reflete sobre a natureza que fomenta as atividades e debates desse projeto:
“Foram dois anos apostando nessa iniciativa e, quando soubemos da aprovação, ficamos muito felizes! Diante da pandemia, o primeiro desafio foi readequar todo o escopo ao formato on-line, a começar pelo processo seletivo da equipe. Bem animadas, lançamos mão dos recursos tecnológicos e tocamos adiante. Definimos três perfis, recebemos mais de 400 currículos e entrevistamos muitas candidatas para, enfim, chegarmos às três mulheres negras que integram nossa equipe de trabalho hoje. Já nesta fase, percebemos a diferença no número de currículos recebidos entre os perfis de assistente administrativa e os perfis de estudante de jornalismo e profissional de designer. Para estes últimos, recebemos poucos currículos, o que nos leva a pensar se, de fato, mulheres negras se presentificam nessas carreiras”.
As profissionais selecionadas para a equipe de trabalho
Amanda Sarmento. Crédito: acervo pessoal
A cientista social Amanda Sarmento, a designer Danielle Cristini e a estudante de jornalismo Carina de Castro foram as selecionadas para compor a equipe do projeto Meninas Negras na Ciência, junto com Hilda e Aline, e compartilham suas expectativas com a chegada das estudantes de ensino médio e - quem sabe! - futuras cientistas.
Vinda de uma família bem grande, composta majoritariamente por mulheres negras, Amanda mergulha na ciência que estuda a sociedade, a política e a cultura, e comenta sobre a sua expectativa para o programa. “Eu espero que o programa dê uma nova perspectiva de vida para essas meninas. Que elas possam enxergar que existe um mundo de possibilidades para o futuro delas. Que elas possam entender qual é o papel social que preenchem na nossa sociedade brasileira e como superar os obstáculos que nos são impostos por causa da nossa classe ou da nossa cor. Espero que elas possam se inspirar e que, futuramente, possam ser grandes mulheres cientistas (de todas as ciências), fazendo diferença na nossa política, tecnologia, saúde... e que se lembrem desse programa como um divisor de águas em suas vidas. Espero ensinar, mas, além de tudo, aprender muito sobre cada vivência."
Danielle Cristini. Foto: acervo pessoal
Danielle é formada em contabilidade, mas percebeu o amor pela comunicação e decidiu se aventurar em publicidade e propaganda, onde descobriu o que realmente queria fazer da vida. Para aumentar o conhecimento e aperfeiçoamento, fez a segunda graduação, dessa vez em design gráfico. “Acredito que o projeto traga mais meninas como eu a espaços pouco ocupados por nós. Frequentar esses espaços mostra como vivemos em uma sociedade desigual, e acredito que a forma de combater essa desigualdade é mostrando a essas meninas que somos capazes de nos tornarmos grandes cientistas."
Carina de Castro. Crédito: acervo pessoal
Cursando o 6º período de Jornalismo pela UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), Carina acredita em uma comunicação mais horizontal, de nós por nós, e, além disso, tem como pautas de vida a luta preta, LGBTQ+ e diz que pretende empoderar as meninas da nova turma do projeto. “Eu espero que através da cultura e educação a gente possa impactar a forma das meninas de ver o mundo e a ciência, que essa troca possa contribuir para o empoderamento e autoestima de todas, gerando identificações. Conseguir trabalhar com elas as diferentes formas de ver e fazer ciência, construir esses debates de forma coletiva e mostrar o mundo de uma perspectiva descolonizada e preta, onde nós nos enxergamos como potência! Além disso, também espero poder aprender com toda essa troca que estejamos planejando."
A seleção das meninas estudantes ocorrerá nos próximos dias, por meio do envio de vídeos e realização de entrevistas, e a programação é que os encontros com o grupo selecionado aconteçam a partir de dezembro, sempre no contraturno escolar. Durante o período de distanciamento social, a mediação dos encontros ocorrerá através das plataformas digitais, considerando dois encontros síncronos por semana, de no máximo duas horas de duração, e a realização de atividades complementares assíncronas que serão explicadas previamente.
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