25/11/2019
Por: Guilherme Costa
Pesquisadores do World Mosquito Program (WMP) apresentaram na quinta-feira (21/11), novas evidências de redução de arboviroses em áreas onde foi feita a liberação de Aedes aegypti com Wolbachia no Brasil, Indonésia, Vietnã e Austrália. A Wolbachia é uma bactéria intracelular que, quando presente nos mosquitos, impede que os vírus da dengue, zika e chikungunya se desenvolvam bem dentro destes insetos, reduzindo assim a transmissão dessas doenças. Dados preliminares do WMP, iniciativa global que no Brasil é conduzida pela Fiocruz, apontam uma redução de cerca de 75% nos casos de chikungunya em Niterói (RJ) nos últimos dois anos, quando comparadas as áreas do município que receberam os mosquitos com Wolbachia, com áreas que não receberam. "Nós monitoramos os dados a partir das informações de vigilância do Ministério da Saúde e, no caso da chikungunya, neste período de análise, identificamos esta significativa redução nas áreas tratadas”, destacou Betina Durovni, coordenadora de epidemiologia do WMP Brasil.
Estes dados foram apresentados pelo pesquisador da Fiocruz e líder do WMP no Brasil, Luciano Moreira, durante Reunião Anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene (American Society of Tropical Medicine and Hygiene/ASTMH), nos Estados Unidos. O WMP Brasil atua em Niterói e no Rio de Janeiro desde 2016. Como as liberações de Aedes aegypti com Wolbachia começaram por Niterói, estas primeiras informações divulgadas são daquele município. Os dados são preliminares e um estudo completo, com informações sobre as duas cidades, deverá ser divulgado até 2022.
Também foram apresentados na Reunião Anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene, dados da ação do WMP na Indonésia, Vietnã e Austrália. O trabalho do World Mosquito Program na Indonésia envolveu a liberação de mosquitos com Wolbachia em uma área de cerca de 65 mil pessoas próxima à cidade de Yogyakarta. As liberações começaram em 2016. A redução registrada foi de 76% nas notificações de dengue entre a população-alvo registrada pelas autoridades locais de saúde, em comparação com uma área de controle não tratada nas proximidades.
A pesquisadora e especialista em epidemiologia do WMP, Katie Anders, apresentou resultados de um estudo de campo realizado nas proximidades de Nha Trang, no Vietnã, onde pouquíssimos casos de dengue foram relatados durante o ano seguinte à liberação de mosquitos com Wolbachia do WMP. As liberações ocorreram em 2018. Esta baixa incidência de casos de dengue na área de intervenção foi documentada em um momento em que o próprio município de Nha Trang enfrentava um de seus maiores surtos de dengue.
Anders também apresentou resultados publicados no início deste ano, mostrando que no extremo norte do estado de Queensland, na Austrália, houve a interrupção da transmissão local de dengue. As liberações de mosquitos com Wolbachia começaram oito anos atrás e levaram a uma redução de 96% nos casos de transmissão local de dengue.
"Estamos muito animados com o impacto na saúde pública que estamos vendo. Isto destaca o potencial dessa abordagem para combater a dengue e as doenças relacionadas a mosquitos em uma escala global", ressalta o professor Cameron Simmons, diretor de avaliação de impacto e especialista na área de epidemiologia do WMP. "As evidências têm apontado que, nas áreas onde os mosquitos com Wolbachia foram liberados, há menos relatos de dengue do que em áreas não tratadas".
Os pesquisadores do WMP enfatizaram que as liberações de mosquitos sempre são precedidas de ações de engajamento para informar as comunidades locais sobre a segurança da Wolbachia e o impacto no ecossistema. O Método Wolbachia do WMP não envolve qualquer modificação genética, nem da bactéria, nem do mosquito. A Wolbachia está naturalmente presente na maioria dos insetos, mas não é encontrada nos mosquitos Aedes aegypti que são os vetores da dengue, chikungunya e zika - todos pertencentes a uma classe de vírus chamada arbovírus.
"Este é um trabalho animador, realizado no meio de uma explosão de infecções de dengue que as autoridades de saúde estão achando muito difíceis de controlar", ressaltou o presidente da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene, Chandy C. John. "A combinação de ciência avançada e engajamento comunitário comprometido é impressionante - e essencial para o seu sucesso."
As evidências existentes de reduções na dengue relacionadas aos mosquitos com Wolbachia são consistentes com as previsões realizadas em estudos já publicados de modelagem. "Estamos muito empolgados com o fato de esse método autossustentável e econômico ter sido adotado pelas comunidades e oferecer os benefícios de saúde pública que esperávamos", disse Simmons, diretor do WMP. "Nosso desafio agora é trabalhar com parceiros e governos para levar o método a 100 milhões de pessoas até 2023".
O WMP Brasil
O World Mosquito Program desenvolve atividades no Brasil desde 2012, quando era chamado de Eliminar a Dengue: Desafio Brasil. Entre agosto de 2015 e janeiro de 2016, o projeto realizou liberações de Aedes aegypti com Wolbachia em duas áreas-piloto: Tubiacanga, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, e em Jurujuba, bairro do município de Niterói. Nesta área já houve o estabelecimento da Wolbachia. Desde 2016, ocorre uma expansão para novos bairros destes dois municípios fluminenses.
Em abril de 2019, O WMP, com apoio do Ministério da Saúde, anunciou a expansão para três novos municípios: Campo Grande (MS), Petrolina (PE) e Belo Horizonte (MG). A expectativa é que as primeiras liberações nestas cidades ocorram no primeiro semestre de 2020.
Para mais informações, acesse o site do projeto World Mosquito Program.
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