19/10/2015
Por Daniela Lessa - Portal Fiocruz
A adesão dos pesquisadores ao arquivamento no Arca contribui para fortalecer o repositório institucional e, com isso, a Política de Acesso Aberto ao Conhecimento da Fiocruz. Com a Política, por sua vez, a Fiocruz participa mais ativamente do movimento internacional em favor da democratização do acesso à informação e ao conhecimento científico.
Na Semana Internacional do Acesso Aberto, de 19 a 25 de outubro, o Portal Fiocruz entrevista dois dos especialistas assíduos na inclusão de suas publicações no Arca: Fábio Russomano, do IFF/Fiocruz, e Isabela Cabral Félix de Sousa, da EPSJV/Fiocruz, para saber como tem sido a experiência deles com o arquivamento e seu envolvimento com a Política de Acesso Aberto da instituição. Veja o manual de arquivamento no Arca e leia os comentários deles.
1 - Você tem participado da iniciativa do acesso aberto, arquivando seus trabalhos acadêmicos. Qual sua visão sobre essa iniciativa mundial da qual a Fiocruz faz parte formalmente desde o ano passado com a Política de Acesso Aberto ao Conhecimento?
Isabela - Minha visão é a de busquemos mecanismos para que os trabalhos acadêmicos possam ser amplamente divulgados e acessíveis a todos.
Russomano - Entendo que a política de acesso aberto é um avanço para a disseminação de informações, não só por facilitar o acesso à produção científica, mas também por permitir a divulgação de resultados de pesquisas independente de interesse econômico ou político. Um exemplo do que poderia ser coibido: a dificuldade que os pesquisadores de países em desenvolvimento têm para publicar em periódicos patrocinados pela indústria farmacêutica ou vinculados a sociedades profissionais estrangeiras.
2 - Como você acredita que essa iniciativa contribui para a ciência?
Isabela - Um trabalho de fácil acesso tem mais chances de ser conhecido não só por pesquisadores, mas por todos que têm acesso à internet.
Russomano: O acesso aberto a todo e qualquer resultado de pesquisa reduz o risco de viés de publicação, que é uma tendência de encontrarmos mais facilmente resultados positivos e estatisticamente significativos em periódicos publicados em inglês e indexados ao Medline (Pubmed). Determinadas áreas do conhecimento, como uso de medicamentos e procedimentos em saúde tem maior dificuldade de publicação de seus resultados quando negativos ou não estatisticamente significativos, o que resulta no viés mencionado.
3 - Do ponto de vista operacional, como tem sido o processo de autoarquivamento? É fácil, difícil, toma muito tempo, pouco tempo?
Isabela - O processo é fácil, toma um pouco de tempo sim, mas nada de extraordinário. O ideal será quando se puder exportar para o arquivamento institucional mais facilmente os trabalhos já acessíveis na internet, como os que estão, por exemplo, no Google Acadêmico ou Scielo.
Russomano - É um procedimento muito simples, que não tomará mais do que dois minutos do pesquisador. Se esse adquirir o hábito de depositar seus produtos a cada nova publicação, nunca deixará acumular e não perderá tempo com isso. Algumas melhorias poderiam ser implementadas, como a interface com a Plataforma Lattes, evitando que tenhamos que prestar as mesmas informações em plataformas diferentes.
4 – Como autor(a), você alimenta o repositório da Fiocruz. Por outro lado, gostaria de saber: como usufrui de material acadêmico disponibilizado em acesso aberto? Como isso contribui para o seu trabalho?
Isabela - Eu usufruo muito de trabalhos acadêmicos de fácil acesso, não somente os que estão depositados no repositório da Fiocruz.
Russomano - O repositório é uma das fontes de busca de produtos não indexados, que recomendo aos meus orientandos e alunos de disciplinas que necessitam buscar evidências na literatura.
5 – O que diria para incentivar os colegas a participarem dessa iniciativa e realizarem o seu autoarquivamento?
Isabela - Entendo como uma norma institucional que pode se tornar um instrumento de divulgação importante. Precisamos nos acostumar com esta nova ferramenta. No entanto, o autoarquivamento muitas vezes depende de acesso aberto dos artigos e algumas revistas demandam apoio financeiro ou tempo para o acesso aberto. Assim, a participação dos colegas nesta iniciativa pode depender de apoio financeiro ou tempo.
Russomano - Penso que é a nossa forma de contribuir para a consolidação de uma política mais justa e igualitáriade divulgação e acesso à informação científica.
Isabela Cabral Félix de Sousa é pesquisadora em Saúde Pública da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) e docente da Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde no Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ela é formada em Psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1988), tem doutorado em Educação Internacional / Intercultural na University of Southern California (1995) e pós-doutorado em Demografia na Università Degli Studi Sapienza (2004). Na Fiocruz, coordena o grupo de pesquisa Estudos Comparados em Formação Científica. Seus trabalhos mais recentes são relativos ao Programa de Iniciação Científica da Fundação Oswaldo Cruz.
Fábio Russomando é co-gestor da Área de Atenção Clínico-cirúrgica à Saúde da Mulher e docente permanente do Programa de Pós-graduação em Pesquisa Aplicada à Saúde da Criança e da Mulher, ambos do (Instituto Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueiras (IFF/Fiocruz). Ele também colabora em projetos relacionados ao Programa de Controle do Câncer do Colo do Útero, junto ao Instituto Inca, com destaque para a coordenação do processo de revisão e atualização das Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero (2011 e 2016, essa em curso), elém do projeto de qualificação de médicos ginecologistas para atenção secundária a mulheres com lesões intraepiteliais do colo do útero. Sou médico formado pela UFRJ, com Mestrado em Saúde da Criança e da Mulher pelo IFF/Fiocruz e Doutorado em Pesquisa Clínica pela UFRJ.
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