02/09/2021
Camile Duque Estrada (CCS/Fiocruz)
O Boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado nesta quinta-feira (2/9), indica interrupção da tendência de queda dos casos de Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) no país, que se mantinha desde o final de maio. Porém, os indícios de possível retomada do crescimento em agosto, apontados na edição da última semana, não se confirmaram, mantendo o sinal de estabilidade. A análise referente à Semana Epidemiológica 34, período compreendido entre 22 e 28 de agosto, que tem como base dados inseridos no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SivepGripe) até 30 de agosto, apresenta um dado novo, com verificação de casos por faixa etária. Com isso, os pesquisadores esperam ter avaliações semanais mais ricas em cada localidade, uma vez que o Boletim InfoGripe permitirá acompanhar a tendência nas faixas etárias ainda não vacinadas, o impacto potencial do avanço da cobertura vacinal nas faixas ainda em andamento e naquelas que já atingiram estabilidade no nível de cobertura.
No anexo I do InfoGripe desta semana é possível acompanhar as estimativas para cada unidade da Federação (UF). Essas informações também podem ser obtidas no repositório público do InfoGripe, na pasta de imagens das UF.
Observa-se entre crianças e adolescentes (0-9 e 10-19 anos) uma estabilização dos casos de Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) em patamar significativamente elevado quando comparados com o histórico da pandemia. Vale considerar que a situação atual é similar ao pico mais agudo de 2020. Nos grupos etários de 60 anos ou mais observa-se estabilização em patamares similares a outubro, quando foram registrados os valores mais baixos no dado nacional. No entanto, para a população acima de 80 anos é possível identificar que o pico de maio, expressivo em todas as faixas abaixo de 60 anos, também gerou aumento de casos de SRAG.
“O patamar de estabilização se apresenta mais alto à medida que a idade diminui. Já a redução expressiva do número de casos de SRAG na população idosa é reflexo do impacto da campanha de vacinação escalonada realizada nos meses de abril e maio. Os valores mais altos da população mais jovem indicam que a transmissão segue elevada e são atribuídos à transmissão elevada na população em geral”, afirma o coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes.
Os dados indicam que apenas 4 das 27 unidades da Federação apresentam sinal de crescimento na tendência de longo prazo (últimas seis semanas), com destaque para Bahia, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Os dois primeiros estados apontam para início de crescimento ao longo de agosto, enquanto o Rio de Janeiro apresenta sinal de crescimento acentuado desde a segunda quinzena de julho. Dentre as demais, 9 apresentam sinal de queda na tendência de longo prazo (últimas três semanas) e Rondônia apresenta sinal de crescimento apenas na tendência de curto prazo. Além disso, 10 unidades federativas apresentam sinal de estabilidade nas tendências de longo e curto prazo: Acre, Alagoas, Amapá, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Roraima, Santa Catarina e São Paulo. A análise aponta que todos os estados apresentam ao menos uma macrorregião de saúde em nível alto ou superior e 7 estados apresentam ao menos uma macrorregião em nível extremamente elevado: Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
“Em todos esses estados observa-se que essa tendência tem sido puxada principalmente pelos casos graves em crianças e adolescentes e pela população acima de 60 anos. No caso do Rio de Janeiro, para a população acima de 70 anos estima-se que a situação atual já esteja em situação similar ao observado no pico do final de 2020”, diz Gomes.
Capitais
Em relação às capitais, 13 das 27 capitais apresentam sinal de crescimento na tendência de longo prazo: Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Florianópolis, Fortaleza, João Pessoa, Maceió, Natal, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória. Em 9 delas observa-se sinal de queda na tendência de longo prazo: Boa Vista, Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, Macapá, Manaus, Palmas, Rio Branco e Teresina. Além disso, 1 capital apresenta sinal de crescimento apenas na tendência de curto prazo: Porto Velho. Nas tendências de longo e curto prazo, indicando interrupção da tendência de queda ou manutenção de platô, 4 capitais apresentam sinais de estabilização: plano piloto de Brasília e arredores, Curitiba, Recife e São Luís.
Todas as capitais encontram-se em macrorregiões de saúde com nível alto ou superior. Das 27 capitais, 17 integram macrorregiões de saúde em nível alto (Aracaju, Belém, Boa Vista, Cuiabá, Fortaleza, João Pessoa, Macapá, Maceió, Manaus, Natal, Palmas, Porto Velho, Rio Branco, Salvador, São Luís, Teresina e Vitória), 8 em nível muito alto (Brasília, Campo Grande, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo), e 2 em nível extremamente alto (Belo Horizonte e Goiânia).
“Tal situação manterá o número de hospitalizações e óbitos em patamares altos, caso não haja nova mobilização por parte das autoridades e população locais”, alerta o coordenador do InfoGripe.
Macrorregiões
Em 15 dos 27 estados observa-se ao menos uma macrorregião de saúde com sinal de crescimento nas tendências de longo ou curto prazo: Bahia, Ceará, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte no Nordeste; Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo no Sudeste; Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul no Centro-Oeste; Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina no Sul. Nos demais 11 estados e no Distrito Federal observa-se tendência de longo e curto prazo com sinal de queda ou estabilização em todas as respectivas macrorregiões de saúde.
“É fundamental que cada município avalie o indicador de transmissão comunitária para identificar se o sinal de estabilidade na tendência de longo ou curto prazo na macrorregião correspondente está ocorrendo já em nível significativamente baixo ou ainda em valores elevados, para evitar retomada de atividades de maneira precoce, podendo gerar manutenção de níveis altos de novas internações e óbitos, além de manter a taxa de ocupação hospitalar em percentuais próximos da saturação”, alerta Gomes.
Transmissão comunitária
O Boletim lança um alerta para casos de SRAG associados a outros vírus respiratórios. Foi observado aumento do número de casos confirmados de vírus sincicial respiratório (VSR), presente em todas as regiões do país, sendo as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste com maior incidência acumulada até o momento. Também foi observada a presença de casos confirmados para rinovírus. O aumento dos casos de VSR podem estar associados ao relaxamento das medidas de distanciamento.
O InfoGripe mantém a recomendação de cautela em relação a medidas de flexibilização do distanciamento para redução da transmissão da Covid-19, enquanto a tendência e queda não tiver sido mantida por tempo suficiente para que os números de casos atinja valores mais baixos. Também recomenda a reavaliação das flexibilizações já implementadas nos estados com sinal de retomada do crescimento ou estabilização em patamares elevados.
Metodologia
O sistema InfoGripe (http://info.gripe.fiocruz.br e http://infogripe.fiocruz.br) monitora os dados de notificação de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil, tendo como fonte o sistema Sivep-Gripe da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), gerando alertas de situação semanal. As análises são feitas levando em conta o número de novos casos semanais por data de primeiros sintomas, que antecede a data de internação em aproximadamente uma semana. Para compensar o atraso no registro de casos no Sivep-Gripe é utilizado um método estatístico para estimar a situação atual, levando em conta o perfil do atraso entre a semana de primeiros sintomas e semana de digitação nas capitais, macrorregiões e estados. O método permite estimar os casos que ocorreram nas últimas semanas, mas que ainda não foram inseridos no sistema.
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