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IFF/Fiocruz imuniza seus primeiros trabalhadores contra a Covid-19


28/01/2021

Por: Mayra Malavé Malavé (IFF/Fiocruz)

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Atendendo aos critérios da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, que, por sua vez, segue as diretrizes do Programa Nacional de Imunização (PNI), o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) iniciou, em 20/1, a vacinação contra a Covid-19 em seus trabalhadores.

No sábado (23/1), já tinham sido vacinados 457 trabalhadores do Instituto, concluindo a totalidade dos setores considerados prioritários por terem contato direto com usuários suspeitos ou portadores da Covid-19. Foram eles: Enfermaria de Doenças Infecciosas Pediátricas (DIPe), Unidade de Pacientes Graves (UPG), Centro Obstétrico, Controle de Acesso (entrada do IFF/Fiocruz), profissionais contratados especialmente para enfrentamento da pandemia, além de 30% da Área de Atenção à Gestante e da Área do Recém-Nascido.

“Os trabalhadores que estão em contato direto com doentes ou suspeitos de Covid-19 são os mais expostos e, portanto, os mais frequentemente infectados pelo vírus, apesar de adotarem todas as medidas de proteção individual. Esse grupo é composto não só por enfermeiros e médicos, mas também por todos os demais profissionais de saúde, assim como profissionais de apoio, como equipe de limpeza e alimentação. Por esse motivo e para reduzir o número de afastamentos desses profissionais da linha de cuidado é que eles têm sido priorizados no Brasil e no mundo. Além disso, dão o exemplo para as demais pessoas de que esse insumo é seguro e certamente contribuirá para o fim da pandemia”, comenta o diretor do Instituto, Fábio Russomano, sobre a importância desses trabalhadores tomarem a vacina nessa primeira fase.

"Como não temos governabilidade sobre o número de doses que receberemos ou a cronologia dessa oferta, seguimos buscando cumprir as metas estabelecidas na primeira fase, agora buscando vacinar todos os demais profissionais na Atenção à Saúde", afirma Fábio Russomano.

A enfermeira e instrumentadora cirúrgica da Unidade de Pacientes Internados (UPI) de Ginecologia Maria Rita Maciel Parente conta sobre a sensação de ter sido a primeira trabalhadora vacinada. “Eu trabalho no Instituto desde 1993 e sempre tenho dedicado muito amor e profissionalismo ao meu trabalho. Eu me senti muito honrada em ser a primeira trabalhadora escolhida para receber a vacina, senti que a minha dedicação foi reconhecida, o que foi muito gratificante para mim. Me sinto feliz em fazer parte desse processo juntamente com o IFF/Fiocruz e espero que as fases de vacinação sejam concluídas com sucesso”.

O técnico de enfermagem da Unidade de Pacientes Graves (UPG) de Pediatria José Messias da Silva foi o segundo trabalhador a receber a vacina. “No início da pandemia, em março de 2020, me consultaram se eu queria me afastar das minhas atividades por conta da minha idade (57 anos) e por ser diabético, mas optei por continuar trabalhando, mesmo sabendo dos riscos, mas ponderando a importância dos trabalhadores da saúde neste momento. Então, me afastei de familiares e conhecidos para protegê-los. Foi muito emocionante para mim ser o primeiro profissional masculino do IFF/Fiocruz a ser vacinado contra a Covid-19, hoje só peço a Deus para que chegue para todos em breve”.    
Pesquisadora Margareth Dacolmo (Ensp/Fiocruz) tira dúvidas sobre a vacinação 

Assim como no início da pandemia, o começo da imunização contra a Covid-19 trouxe muitas dúvidas à população. Para esclarecer as questões dos trabalhadores do Instituto sobre essa temática, o IFF/Fiocruz realizou, em 21/1, um encontro on-line com a participação da pneumologista e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), Margareth Dalcolmo, em que participaram cerca de 150 trabalhadores que puderam fazer perguntas pelo chat. Confira abaixo: 

Quais vacinas serão aplicadas no Brasil?

M.D.: Hoje, no mundo, temos cinco vacinas testadas e aprovadas, duas delas reguladas e aprovadas no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de maneira muito técnica e qualificada, que são a vacina Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac, que conta com processo de transferência de tecnologia para ser fabricada em São Paulo pelo Instituto Butantan, e a vacina modelo Oxford do Laboratório AstraZeneca, com convênio de transferência de tecnologia integral para sua fabricação no país através da Fiocruz. Outras duas (da Pfizer e da Janssen) já fizeram estudo de fase 3 no Brasil, e esperamos que seja aprovado o uso emergencial ou definitivo dessas vacinas para que possamos ter acesso.

Que porcentagem da população brasileira será necessária vacinar na atual situação epidêmica para controlar a doença?

M.D.: Nas condições epidêmicas para Covid-19 no Brasil, com a eficácia das vacinas demonstradas, nós temos que cobrir uma larga proporção da população brasileira, assegurando, portanto, a interceptação da cadeia de transmissão e o controle epidêmico, precisando cobrir 70%, no mínimo, da nossa população.

De quantas doses são as vacinas aprovadas no Brasil?

M.D.: A vacina da Coronavac foi aprovada e regulada para um uso com intervalos de três a quatro semanas, entre a primeira e a segunda dose. A vacina AstraZeneca foi aprovada pela Anvisa no Brasil nos mesmos moldes que foi na Inglaterra, com intervalos de 12 semanas, entre a primeira e a segunda dose, o que particularmente me parece muito adequado esse intervalo, pois dará um tempo para que nossa parede imunológica crie anticorpos definitivos com esse antígeno, e, que assim, nós possamos fazer o reforço nesse intervalo de 12 semanas (três meses), o que, desde o ponto de vista sanitário, é uma medida muito correta.

As pessoas podem usar só uma dose da vacina para se proteger?

M.D.: Há discussões sobre usar ou não uma dose apenas para cobrir mais pessoas, eu, particularmente, sou completamente contrária a essa ideia, pois as vacinas têm que ser usadas de acordo com os modelos para os quais elas foram testadas e aprovadas.

A vacina pode produzir alguma reação adversa para a saúde?

M.D.: Os efeitos adversos das vacinas foram muito pequenos desde o ponto de vista clínico e do número de pessoas que apresentaram, lembrando que as vacinas foram testadas em milhares de pessoas no mundo para serem aprovadas, a própria Coronavac foi testada em mais de 90 mil pessoas.

Idosos que estão na fase atual de vacinação e fazem uso de algumas medicações podem receber a vacina?

M.D.: Não há contraindicação com uso rotineiro de medicação, como, por exemplo, no uso de medicamentos para hipertensão arterial, em casos de pessoas adultas, ou medicamentos para diabetes, o mesmo imunossupressores.

Pessoas com câncer ou outras doenças crônicas podem ser vacinadas?

M.D.: Quase todas as comorbidades permitem as vacinas, então pacientes com câncer e tratamentos de quimioterapias e radioterapia e pacientes com HIV podem ser vacinados. Mas, nos pacientes com doenças autoimunes vai depender, nesses casos têm que consultar diretamente com seu médico, exemplo: pacientes com transplante de órgão sólido ou de medula.

Quem está contagiado, mesmo assintomático, pode receber a vacina?

M.D.: Quem está sabidamente infectado não deve tomar a vacina. Tem que esperar o tempo de evolução da doença. A recomendação prática consensuada é que essas pessoas esperem, no mínimo, quatro semanas após o término da doença para poder receber a vacina.

Qual a recomendação para a vacinação em grávidas e em crianças?

M.D.: As mulheres grávidas não serão vacinadas neste momento, porque as gestantes não foram estudadas nos testes da fase 3. Estudar grávidas tem muitas implicações e limitações de natureza ética em todo o mundo, e certamente serão objeto de estudos prospectivos, mas, neste momento, com as vacinas que temos aprovadas, elas não receberam. Com as crianças é o mesmo caso, elas por enquanto também não serão vacinadas, pois também ainda não foram objeto de estudo. Portanto, a vacina é só para pessoas acima de 18 anos.

As pessoas que receberam uma primeira dose de um modelo de vacina pode receber na dose posterior outra marca de vacina?

M.D.: Não, pois possuem diferentes composições. As pessoas, inclusive, vão receber o cartão de controle do esquema de vacinação que vai dizer qual vacina recebeu e o intervalo em que tem que receber a outra dose, para nesse momento receber o mesmo modelo de vacina que foi aplicada na primeira dose. Quem recebeu na primeira dose da AstraZeneca vai receber na segunda também da AstraZeneca, e a mesma coisa para quem recebeu a Coronavac.

Outras questões

Nesse contexto da vacinação contra a Covid-19, a infectologista do IFF/Fiocruz Alessandra Marins Pala esclarece as seguintes dúvidas:

Como funcionam as vacinas? Por que são confiáveis?

A.P.: As vacinas são o meio mais seguro e eficaz de nos protegermos contra doenças infecciosas. Qualquer invasão do organismo por um vírus ou bactéria gera uma reação do sistema imunológico (responsável pela nossa defesa) com o objetivo de neutralizar a agressão. Infelizmente, nem sempre essa reação é suficiente e consegue evitar a doença. O que as vacinas fazem é estimular nossas defesas a produzir anticorpos específicos contra um agente infeccioso, "ensinando" o organismo a se defender de forma eficaz. Elas geram uma resposta imunológica e criam no organismo uma memória de como se defender contra uma ameaça. Desta forma, quando uma invasão por esse agente acontece, nossas defesas já sabem como reagir e isso é o que chamamos de memória imunológica. Com essa reação podemos evitar a doença ou fazer com que ela ocorra de forma leve.

Uma vacina é melhor que a outra?

A.P.: Ambas tiveram sua eficácia e segurança comprovadas por estudos científicos muito rigorosos. A Coronavac utiliza o método de vírus inativados (mortos), logo não há o risco de que a vacina cause a doença. São exemplos de vacinas inativadas: poliomielite injetável (VIP), hepatite A e raiva.

A Oxford-AstraZeneca utiliza uma tecnologia chamada de "vetor viral não replicante", que consiste em usar um outro vírus já conhecido para introduzir genes do coronavírus nas células. Neste caso, foi utilizado um adenovírus que infecta chimpanzés e que foi modificado para não se multiplicar e para "carregar" partes do coronavírus. Assim, ela estimula o sistema imune a produzir anticorpos específicos contra o coronavírus, mas não tem o potencial de causar a doença.

Quanto tempo após a aplicação da vacina a pessoa desenvolve imunidade ao coronavírus?

A.P.: Não há consenso da comunidade científica, mas estima-se que podem ser necessárias de três a quatro semanas para o desenvolvimento de imunidade após a vacinação.

Por quanto tempo a pessoa ficará imune após completar o esquema de vacinação?

A.P.: Ainda não se sabe a duração da proteção de nenhuma das vacinas disponíveis contra o coronavírus.

A vacina será gratuita para a população em geral?

A.P.: Sim. A vacina está sendo disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para todo o país através do PNI. Devido à dificuldade de fornecimento de doses em quantidade suficiente para vacinar toda a população ao mesmo tempo, a campanha foi dividida em fases e foram definidas as populações prioritárias. No entanto, a meta do Ministério da Saúde é vacinar todos os indivíduos maiores de 18 anos.

Se uma pessoa não é do grupo de risco, nem incluída para receber a vacina nas primeiras fases da campanha, poderá comprar a vacina em clínicas particulares?

A.P.: Ainda não há nenhuma vacina liberada para ser comprada e utilizada em clínicas particulares no mundo. No Brasil, apenas o SUS dispõe de vacinas seguras, eficazes e com aprovação da Anvisa.

Por que a vacinação é importante?

A.P.: A importância da vacinação vai muito além da prevenção individual. Ao se vacinar, cada indivíduo está ajudando toda a comunidade a diminuir os casos da doença. Doenças como coqueluche, sarampo, rubéola, poliomielite, meningite, entre outras, hoje estão controladas graças ao elevado índice de imunização da sociedade.

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