03/12/2019
Antonio Fuchs (INI/Fiocruz)
O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), por meio do Laboratório de Pesquisa em Imunização e Vigilância em Saúde (LIVS), está recrutando 300 voluntários para o estudo Profilaxia Pré-exposição contra raiva: análise de custo-efetividade de três estratégias de vacinação. O objetivo é comparar três esquemas de pré-exposição contra a doença em viajantes para áreas de risco e profissionais com risco ocupacional de exposição ao vírus da raiva (veterinários, biólogos, biomédicos etc). Os participantes serão acompanhados por um ano.
Se o esquema de duas doses for comprovadamente mais eficaz isso pode gerar uma economia para o sistema de saúde (Foto: Antonio Fuchs)
O pesquisador do LIVS e médico do Ambulatório de Medicina do Viajante do INI, Marcellus Dias da Costa, explicou que a profilaxia contra a raiva é feita com a aplicação de três doses da vacina, com intervalos de 7 e 21 ou 28 dias após a primeira aplicação (0-7-21 ou 28 dias) para os profissionais ou viajantes expostos a algum risco à doença. Entretanto, a Organização Mundial de Saúde liberou, em maio deste ano, um comunicado recomendando apenas duas doses para a imunização (0 e 7 dias).
“Existem poucos artigos científicos para corroborar essa recomendação da OMS. Então a equipe do LIVS, em parceria com o Centro de Referência em Imunobiológicos Especiais (CRIE/INI), está iniciando este estudo para comparar a eficácia dos esquemas utilizados. São três grupos de pesquisa, cada um com 100 participantes. O primeiro receberá as três doses, o segundo duas doses de forma intramuscular e o terceiro duas doses de forma intradérmica. Vamos avaliar esses modelos e ver realmente qual a estratégia mais eficiente”, destacou Costa.
O médico explicou que se o esquema de duas doses for comprovadamente mais eficaz isso pode gerar uma economia para o sistema de saúde, uma vez que reduz o número de aplicações. “Se o método intradérmico se mostrar tão bom quanto o intramuscular, há uma redução ainda maior, porque a dosagem ministrada da vacina no organismo é menor nesse modelo. Com isso você minimiza custos e economiza vacina e tempo para quem precisa da imunização e é isso que estamos buscando como resultado final do estudo”, afirmou.
Como participar da Prep Raiva
Estão elegíveis a participar do estudo pessoas acima de 18 anos que vão viajar para áreas de risco da doença ou que praticam atividades de risco, como veterinários e outros profissionais que atuam com exposição ao vírus da raiva. O recrutamento pode ser feito diretamente no Ambulatório de Medicina do Viagem do INI, durante as consultas médicas, ou pelos telefones (21) 3865-9695/9126. Os participantes farão exame sorológico na primeira visita para constatar que não receberam a vacina contra a doença para, em seguida, começarem o esquema vacinal.
“Quem sabidamente já tomou vacina antirrábica não pode participar porque vai atrapalhar as análises. E para as pessoas que informam que nunca fizeram a imunização, nós vamos coletar o sangue para a análise e confirmar, efetivamente, se não tinha anticorpo algum em seu organismo”, disse Marcellus. Todas as análises do estudo serão feitas pelo Instituto Pasteur, em São Paulo, outro parceiro do projeto, uma vez que eles são referência nacional. Após um ano do esquema vacinal, o participante retornará ao INI para fazer uma nova sorologia e ajudar nas análises finais. “Cabe ressaltar que não é uma estratégia nova. Não é uma nova vacina. Estamos apenas avaliando a efetividade dos esquemas vacinais em vigor para a raiva”, afirmou o médico.
Inova Fiocruz
O projeto Profilaxia pré-exposição contra raiva: análise de custo-efetividade de três estratégias de vacinação, coordenado pelo pesquisador José Cerbino Neto, foi uma das 13 iniciativas do INI selecionadas no edital Inova Fiocruz, que tem como objetivo incentivar a transferência do conhecimento gerado em todas as áreas de atuação da Fiocruz para a sociedade. O eidtal conta com financiamento do Fundo de Inovação da Fiocruz e do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE).
A doença
A raiva é uma doença infecciosa viral aguda causada pelo vírus do gênero Lyssavirus, da família Rabhdoviridae, que acomete mamíferos (cães, gatos, bovinos, caprinos, morcegos), inclusive o homem, e caracteriza-se como uma encefalite progressiva e aguda com letalidade de quase 100%. A raiva é transmitida ao homem pela saliva de animais infectados, principalmente por meio da mordedura, podendo a infecção ocorrer também por arranhões e/ou lambidas desses animais.
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