29/03/2023
Mariella de Oliveira-Costa (Fiocruz Brasília)
A Fiocruz Brasília está no Distrito Federal há 46 anos, com atividades de ensino e pesquisas em diferentes áreas, e, a partir de agora, vai atuar também na pesquisa clínica e molecular. O primeiro laboratório com essa finalidade foi inaugurado nesta quarta-feira (29/3), e tem como foco pesquisas na área do diagnóstico precoce de HPV, o papilomavírus humano. Esse tipo de vírus provoca uma infecção bastante comum, transmitida sexualmente, e que provoca desde uma simples verruga e até o câncer de colo de útero (terceiro tipo de câncer mais frequente no Brasil).
As pesquisadoras do Laboratório Centro de Pesquisa Clínica e Molecular Marco vão trabalhar no Projeto Manejo do Risco de Câncer Cervical (Marco) para melhorar a prevenção desse tipo de câncer no país. O principal objetivo do projeto é avaliar a efetividade de novas estratégias de rastreio e triagem cervical baseadas em HPV utilizando amostras autocoletadas. Em uma das pesquisas, a proposta é inovar no diagnóstico precoce de HPV, por meio do uso de um kit para autocoleta, composto por um swab (material parecido como um cotonete longo), para que a mulher possa coletar o material diretamente na vagina e levar a amostra ao laboratório, para realizar testes em aparelho que verifica a presença do vírus do HPV. Em caso positivo, a triagem será realizada por genotipagem estendida, baseada na estratificação de risco- imagem cervical (AVE, automatic visualization evaluation, em português, avaliação visual automatizada), citologia convencional do SUS e citologia de base líquida.
O material será armazenado para pesquisas e encaminhado para colposcopia, seguido da notificação das usuárias para o tratamento adequado nos serviços de saúde do SUS no DF. Apesar de muito sensível e preciso, esse teste não exige coleta e entrega imediata, e vai trazer mais conforto às mulheres, já que o tradicional exame de Papanicolau pode provocar certo constrangimento, além de possibilitar a coleta no caso das mulheres que moram longe da unidade de saúde, por exemplo.
Todo o material coletado poderá ser usado em pesquisas futuras na área de genômica. Para se ter uma ideia, para o teste de HPV, é utilizada uma quantidade muito pequena de material (são usados 2 microlitros – 0,002ml) de 2 mililitros coletados, quantidade microscópica, bem menor que uma gota de água. O laboratório vai armazenar também mil amostras de mulheres que não foram diagnosticadas com o HPV, para uso em estudos futuros de caso – controle, onde há comparação entre material com e sem a contaminação pelo vírus, no Biorrepositório Marco. A iniciativa segue o regulamento de biorrepositórios, que prevê até dez anos de armazenagem do material. Futuramente, será possível criar um biobanco e integrar a iniciativa para a Rede de Biobancos da Fiocruz para ampliar o acesso de outros pesquisadores às amostras coletadas no DF.
Este Laboratório Centro de Pesquisa é parte da Fiocruz Brasília e vai fortalecer as parcerias já estabelecidas, assim como ampliar seus colaboradores para atender às necessidades regionais e nacionais, principalmente no campo da promoção da saúde da mulher brasileira, com o diagnóstico precoce e encaminhamento para o tratamento adequado.
“Este laboratório vai possibilitar formas mais ágeis e simples para o diagnóstico precoce da presença do vírus HPV, além de permitir com que mais mulheres seja tratadas e livres de complicações mais graves relacionadas a este tipo de infecção. Será uma importante estratégia de cuidado com a saude das mulheres e que se soma à iniciativa lançada pela ministra da saúde, Nisia Trindade, para prevenção de câncer de colo do útero”, ressaltou a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio.
Tecnologia de ponta para o SUS
O novo Laboratório Centro de Pesquisa da Fiocruz Brasília fica dentro do Hospital Universitário de Brasília (HUB-EBSERH) e possui uma sala administrativa, um repositório e a área laboratorial. Máquinas de diagnóstico de PCR em tempo real, refrigeradores que alcançam a temperatura de 80 graus abaixo de zero, uma centrífuga, processadores, misturadores e também máquinas para escanear digitalmente as lâminas com material biológico fazem parte da série de equipamentos que compõe o espaço. Esses equipamentos poderão também contribuir com a rede de plataformas tecnológicas da Fiocruz, subsidiando outras pesquisas.
A equipe multiprofissional conta com trabalhadores das áreas de saúde pública, biologia molecular, citologia, patologia, epidemiologia e tecnologia da informação, e pesquisadores clínicos e acadêmicos do Brasil e dos Estados Unidos.
O projeto piloto da autocoleta começou na última terça-feira (28/3) e vai ter como foco as mulheres catadoras de material reciclado do DF que já se reúnem periodicamente e fazem parte de projetos na UnB, portanto, será possível testar o fluxo de coleta e recepção do material no laboratório. A equipe está envolvida desde o ano passado na preparação do laboratório e dos documentos contendo o procedimento operacional padrão e treinamento das equipes que vão atuar dentro do laboratório e também fora, no apoio à coleta do material nas Unidades Básicas de Saúde do DF.
Após o projeto piloto com as mil mulheres, espera-se atender 20 mil mulheres do Distrito Federal e de Manaus, onde há parceiros de pesquisa. O projeto é fruto de parceria entre o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos.
O câncer de colo de útero pode ser prevenido com diagnóstico precoce e vacinação. De acordo com o Ministério da Saúde, é o terceiro tipo de câncer mais comum nas mulheres brasileiras com estimativa de 16 mil novos casos e seis mil mortes por ano. Na inauguração do laboratório, está prevista a assinatura da carta de manifestação de interesse do Projeto Marco entre a Fiocruz Brasília, UnB, Secretaria de Saúde do DF e Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.
Mais em outros sítios da Fiocruz