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Estudo aponta associação entre alimentos ultraprocessados e risco de doenças


10/08/2021

Por Danielle Monteiro (Ensp/Fiocruz)

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Celebrado em 8 de agosto, o Dia Nacional de Prevenção e Controle do Colesterol acende alerta para o que é, atualmente, a principal causa de morte no Brasil e no mundo: as doenças cardiovasculares. Isso porque, quando em desequilíbrio no organismo, o colesterol se torna fator de risco vascular, aumentando a incidência de AVC, morte súbita e doença coronariana. Um estudo, desenvolvido a partir de um projeto de doutorado na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), revela um novo fator por trás do aumento dos níveis de colesterol no sangue e consequente risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Inédita no Brasil e realizada em 2020 com amostra de mais de 5 mil participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), a pesquisa mostra que o consumo de alimentos ultraprocessados está relacionado ao aumento do risco de hipertensão arterial (pressão alta) e de dislipidemias (alterações nas estruturas que carreiam colesterol através do sangue) em adultos. Os resultados apontam que o consumo de altas quantidades de produtos como nuggets, macarrão instantâneo, cereais matinais, barras de cereais e refrigerantes pode aumentar o risco de desenvolver hipertensão em 23%.

No que diz respeito às dislipidemias, cuja incidência é um dos principais fatores de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares, o risco aumentado ocorre mesmo em quantidades moderadas de consumo de alimentos ultraprocessados. Quanto maior a ingestão, mais alto é o risco, que pode chegar a até 29% para hipercolesterolemia isolada, 30% para hipertrigliceridemia isolada, 41% para hiperlipidemia mista e 24% para baixo-HDL, exemplos de dislipidemias. 

A pesquisa mostra também que 25% da energia diária consumida pelos participantes é proveniente de alimentos ultraprocessados. Considerando o peso em gramas, tais produtos contribuem com 17,6% do peso total em gramas da dieta. Os resultados evidenciam ainda um elevado consumo de sódio (4,6 g/dia), valor maior do que o dobro do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e maior ingestão de gorduras nocivas (como gordura saturada e trans) nos indivíduos com consumo mais elevado de ultraprocessados. “Esses alimentos contribuem com cerca de 80% de sódio dietético em países de alta renda e estão se tornando também proeminentes em países de baixa e média renda”, explica a autora do estudo, Patricia Scaranni.

Os dados também apontam a obesidade como importante condição relacionada ao consumo de alimentos ultraprocessados, à hipertensão arterial e às dislipidemias. Foram observadas ainda questões relacionadas diretamente ao processamento industrial, como o uso de aditivos artificiais (como corantes e adoçantes) e materiais plásticos utilizados em embalagens, também responsáveis por problemas na saúde. “Compostos neoformados, como acroleína e acrilamida, e uma infinidade de aditivos como conservantes, acidulantes, emulsificantes e plastificantes, como bisfenol A e ftalatos, têm sido reconhecidos como também vilões do ultraprocessamento industrial, que visa seduzir consumidores por meio de sua praticidade, conveniência, palatabilidade e tempo de prateleira”, esclarece Patrícia.

Segundo a pesquisadora, o estudo é de suma importância para a prevenção de doenças cardiovasculares, já que o consumo de alimentos ultraprocessados tem sido crescente, a ponto de substituir alimentos in natura (produtos frescos que não passam por alterações industriais) essenciais para a saúde. Patrícia lembra que os resultados são mais uma evidência sobre as consequências negativas na saúde associadas ao consumo de alimentos ultraprocessados. Segundo ela, a pesquisa também “traz à tona o impacto das grandes corporações, líderes do sistema alimentar global, sobre a sociedade, em busca da maximização do lucro a qualquer preço, muitas vezes financiando cientistas que realizam pesquisas acadêmicas em favor de seus produtos”. 

Patrícia acredita que os resultados podem servir como suporte para a elaboração de novas políticas de Saúde Pública que visem desencorajar o consumo desses produtos e melhorar a saúde da população. “Ao evidenciar a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a incidência de dislipidemias e de hipertensão, incentivamos novas políticas, voltadas para a educação do consumidor, que forneçam condições para que os indivíduos realizem escolhas alimentares adequadas, já que ‘o dever do Estado não exclui o das pessoas na garantia da saúde’ (Lei 8080), sobretudo por meio do fortalecimento da rotulagem nutricional”, conclui.

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