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Dia Mundial da Malária: livro que será lançado em maio narra a história do 'Anopheles gambiae'

Dia Mundial da Malária

25/04/2020

Marcella Vieira/Editora Fiocruz

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Estabelecido como parte do calendário oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2007, o Dia Mundial da Luta Contra a Malária é celebrado anualmente em 25 de abril. Em 2020, a data de conscientização sobre o combate à doença ganha novos desafios em meio à pandemia do novo coronavírus, maior emergência de saúde global dos últimos tempos. 

Diante do contexto, a OMS tem expressado preocupação em relação aos países mais fortemente afetados pela doença, especialmente na África subsaariana. Segundo a organização, o combate à Covid-19 não deve ofuscar a atenção à malária e a outras enfermidades negligenciadas, o que levaria a um aumento significativo no número de mortes. 

Criado para reconhecer o empenho no controle da doença, o Dia Mundial da Luta Contra a Malária também tem como finalidade o apoio a instituições de pesquisa e ensino que investem e difundem experiências bem sucedidas de enfrentamento e erradicação. É o caso da Fiocruz, que encabeça uma série de pesquisas para o tratamento da doença, além de estudos sobre a história da malária e seus vetores.

Um desses estudos se transformou no livro que integrará os primeiros lançamentos da Editora Fiocruz em 2020. O Feroz Mosquito Africano no Brasil: o Anopheles gambiae entre o silêncio e a sua erradicação (1930-1940) será lançado em maio em formato digital na plataforma SciELO Livros. Posteriormente, o volume - que integra a coleção História e Saúde - estará também nas livrarias e distribuidoras parceiras da Editora Fiocruz em formato impresso. Escrita pelo historiador Gabriel Lopes, a obra tem como base a pesquisa de doutorado do autor, que foi vencedor do Prêmio Oswaldo Cruz de teses em 2017, na categoria Ciências Humanas e Sociais.  

A invasão do ‘feroz mosquito’: metáforas bélicas 
O pesquisador desenvolve uma narrativa histórica de chegada, alastramento e erradicação do Anopheles gambiae, que teve provável origem em Dacar, capital do Senegal, e chegou ao Brasil pelo Rio Grande do Norte. O mosquito causou uma epidemia de malária sem precedentes no Brasil no início dos anos 1930 e, após esforços cooperativos entre o governo brasileiro de Getúlio Vargas e a Fundação Rockefeller, o vetor foi erradicado em 1940.  

Transmissor da forma mais letal da doença, o mosquito viajou da África para o Nordeste brasileiro graças à modernização dos transportes aéreos, que passaram a ser uma preocupação das autoridades. Assim, foram instituídas, segundo a pesquisa, uma série de leis e de normas para garantir a segurança sanitária dos aeroportos.   

O mosquito invasor se tornou centro de discussões e motivou surpresas, decisões e silêncios, já que foi inicialmente ignorado. Porém, o medo de que a malária se espalhasse pelas Américas levou à formação, no início de 1939, do Serviço de Malária do Nordeste (SMNE).    

A expressão que dá título ao livro surgiu, segundo o autor, de uma palestra do médico, ensaísta e crítico literário Afrânio Peixoto. Ao falar da cooperação sanitária internacional entre Brasil e Fundação Rockfeller, ele mencionou o termo “feroz mosquito africano” como se fosse uma invasão. “Eu falo um pouco dessas metáforas bélicas que foram mobilizadas no período para abordar principalmente como esse mosquito surpreendeu os especialistas e causou uma perplexidade na saúde pública, a partir do momento em que a visibilidade dele foi encoberta por outras questões e outras epidemias, como, por exemplo, a de febre amarela no Rio de Janeiro”, destaca Gabriel Lopes.   

Ao longo de quatro capítulos, o título abordará condicionantes políticas, sociais e ecológicas que permitiram o alastramento do mosquito no Nordeste do Brasil, incluindo questões como o ritmo das chuvas e os períodos de seca. Fatores determinantes para que ele tenha se alastrado de forma surpreendente no interior do Rio Grande do Norte e do Ceará. Além de notas e referências essenciais para a pesquisa do autor, o livro trará também uma série de imagens de acervo ligadas ao período de alastramento e combate ao Anopheles gambiae.

Doença atinge populações negligenciadas
O autor reforça a importância da data especial e do órgão máximo de saúde global nos esforços contra a doença: “25 de abril é o dia mundial de combate à malária e, em meio à pandemia da Covid-19, o papel da OMS é muito importante ao lembrar que a malária, mesmo sendo uma doença prevenível e tratável, ainda mata muitas pessoas no mundo. E é uma doença que atinge principalmente as populações negligenciadas”, alerta o historiador. 

Dados recentes da organização indicam que cerca de 400 mil pessoas morrem por ano de malária, sendo que aproximadamente três bilhões estão sob o risco da doença. Mais de 90% dos casos atingem populações negligenciadas da África subsaariana. No Brasil, a região amazônica concentra 99% dos casos

O livro escrito por Gabriel Lopes será o 42º título da coleção História e Saúde, uma das mais tradicionais da Editora Fiocruz. Em 2011, a mesma coleção publicou, por meio do selo Clássico & Fontes, o volume Anopheles gambiae no Brasil – 1930 a 1940. A obra apresenta o relatório final da campanha sanitária no Nordeste ao longo do período, descrevendo os procedimentos e métodos de trabalho e tornando-se leitura de referência para os interessados na história da saúde pública no Brasil. 

O autor
Com prefácio de Marcos Cueto (membro do conselho editorial da Editora Fiocruz e pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz), O Feroz Mosquito Africano no Brasil: o Anopheles gambiae entre o silêncio e a sua erradicação (1930-1940) poderá, de acordo com Lopes, “dar uma contribuição não só para os estudos das epidemias, mas também aos estudos de história que considerem uma abordagem sociológica e política da própria história das ciências biomédicas”.            

Gabriel Lopes possui graduação em História e mestrado em História e Espaços, ambos os títulos pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (PPGHCS/COC/Fiocruz), com período sanduíche na Universidade Johns Hopkins (EUA). Atualmente, é pesquisador em estágio pós-doutoral na Casa de Oswaldo Cruz nos campos da história das doenças, história ambiental, história da saúde global e estudos sociais das ciências. 

➡️ Clique aqui e confira o depoimento do pesquisador Gabriel Lopes sobre a importância do Dia Mundial da Luta Contra a Malária.   

Lançamentos em amplo acesso digital
Para reforçar sua missão de ampliar o acesso ao conhecimento científico produzido nas diversas áreas da saúde, a Editora Fiocruz prepara uma novidade para o lançamento deste e de outros livros ao longo do ano: em maio, os volumes serão lançados em formato digital – com acesso comercial – na Rede SciELO Livros (books.scielo.org/fiocruz). A aquisição da obra pela plataforma poderá ser feita nas lojas Amazon, Google Play e Kobo Books.  

Os lançamentos digitais difundem ainda mais a produção científica, especialmente em tempos de necessário isolamento social. A Editora já conta com mais da metade de seu catálogo no SciELO Livros: são 285 livros, sendo 182 em acesso aberto. A disponibilização da produção editorial de 2020 diretamente para aquisição comercial na rede reforça o compromisso da Editora em aumentar a sua participação no formato digital de amplo acesso. “Esse movimento acena para a importância de estar com os livros onde o leitor possa acessá-los”, destaca João Canossa, editor executivo da Editora Fiocruz.  

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