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Catapora: pediatra explica os sintomas, o tratamento e como se prevenir

Retrato do médico

01/11/2013

Por: Irene Kalil (IFF/Fiocruz)

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A varicela, mais conhecida como catapora, é uma doença causada pelo vírus herpes zoster, que acomete principalmente crianças. A forma mais comum de contágio é pelo contato dessa partícula viral – presente na saliva, espirro, tosse ou mesmo na fala – com a via inalatória ou a mucosa oral do indivíduo. A transmissão também pode acontecer por meio da inoculação direta, ou seja, quando as mãos têm contato com vesículas contaminadas de alguma pessoa doente e infectam a via aérea ou mucosa oral, ou indireta, pelo contato com roupas ou superfícies que foram utilizadas pela pessoa doente. Nesta entrevista, o pediatra e especialista em doenças infecciosas pediátricas do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) Leonardo Menezes esclarece dúvidas sobre sintomas, tratamento e prevenção da doença.

Quais os principais sintomas da catapora e como é feito o diagnóstico?

Leonardo Menezes - Normalmente, o paciente desenvolve vesículas ou bolhas, em geral, de conteúdo claro e com as bordas avermelhadas. Essas bolhas, que surgem na pele de todo o corpo, inclusive no couro cabeludo, boca e outras mucosas, aparecem em surtos, ou seja, várias ao mesmo tempo, vêm acompanhadas de febre baixa a moderada com duração média de quatro dias. Outra característica da doença é que ela é polimórfica, ou seja, o paciente tem lesões de pele em vários estágios diferentes ao mesmo tempo: vesículas com conteúdo claro, às vezes um pouco mais turvo e já com crostas secas. O diagnóstico da doença é, basicamente, clínico, embora exista a possibilidade de confirmação sorológica.

Qual o tratamento adequado?

LM - Nas crianças pequenas, não é indicado qualquer tratamento, nem mesmo os conhecidos banhos de permanganato, que, quando mal diluído, pode causar queimaduras na pele e acrescentar morbidade à doença. O ideal é fazer a higiene adequada da pele, com água e sabão, durante o banho habitual, e cortar bem as unhas da criança para que ela não coce as vesículas e corra o risco de infeccioná-las. O tratamento específico com a medicação, que é o aciclovir, só é indicado em adultos ou pacientes acima dos 12 anos, pois a taxa de complicação da doença costuma ser maior. Em casos específicos, quando o paciente tem HIV, algum grau de imunossupressão ou outra comorbidade que faz com que ele manifeste uma varicela mais grave, é indicado o tratamento com aciclovir também em menores de 12 anos. Antitérmicos são indicados e deve-se lembrar de evitar ácido acetilsalicílico e ibuprofeno. Em algumas situações, pode-se lançar mão de medicações anti-histamínicas visando conter o prurido que acompanha as lesões de pele.

Quais são as principais complicações que podem acontecer em decorrência da catapora?

LM - As infecções secundárias da pele são as complicações mais comuns associadas à catapora. A doença cria na pele uma porta de entrada para bactérias, que poderão causar infecções na mesma e também nas partes moles, podendo até atingir a corrente sanguínea, provocando infecções sistêmicas e invasivas. A pneumonite viral causada diretamente pela catapora também é temida. Crianças acima de 12 anos e adultos apresentam maior potencial para desenvolvimento dessa complicação grave. Além disso, pacientes imunossuprimidos podem apresentar doença disseminada, ter acometimento do sistema nervoso central, encefalite por varicela, entre outras complicações.

Como se prevenir?

LM - Já existe vacina para a doença. Ela é relativamente nova, mas acaba de entrar no Calendário Nacional de Vacinação do SUS, compondo a tetra viral, que também protege contra sarampo, caxumba e rubéola. Segundo o Ministério da Saúde (MS), na rede pública ela está disponível somente para crianças de 15 meses de idade que já tenham recebido a primeira dose da tríplice viral e deve reduzir cerca de 80% das hospitalizações por varicela. Além da dose que deve ser dada ainda no primeiro ano de vida, a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam o reforço da vacina entre os quatro e seis anos de idade. Ele é importante para prevenir completamente a doença, pois a dose única gera, em alguns casos, uma imunidade que não impede que a pessoa manifeste a doença, ainda que numa forma mais branda.

Quem já está infectado pode tomar a vacina?

LM - A vacina não tem qualquer efeito se dada em um paciente já infectado pelo vírus, pois não há risco de ter catapora mais de uma vez, salvo em raríssimas situações. O que pode acontecer é que, após a manifestação da catapora, o vírus fica em estágio de latência, não mais sendo eliminado do organismo. Em razão disso, algumas pessoas, por diversos motivos, podem desenvolver, geralmente numa etapa mais avançada da vida, o herpes zoster, que é uma reativação do vírus numa outra manifestação clínica.

Existem contraindicações para a vacina? Quem pode tomar?

LM - Não existem contraindicações para a vacina, a não ser em casos específicos, como em alguns pacientes com HIV ou outros déficits de imunidade e em mulheres grávidas. Mas cabe ressaltar que, se a mulher não contraiu doença na infância ou não tem certeza de sua situação imunológica, é recomendável a vacinação antes de engravidar. Lembramos que, além de a infecção em adultos ser mais severa, existe a possibilidade de transmissão materno-fetal do vírus, que pode levar a defeitos congênitos no bebê, especialmente no primeiro trimestre de gestação. A literatura especializada também relata casos graves de varicela em neonatos quando a mãe desenvolveu a doença cinco dias antes ou até dois dias depois do parto. Então, se a mulher adoece no final da gravidez, isso pode ser um problema grave para a criança que vai nascer.

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