23/10/2020
Por: Mayra Malavé Malavé (IFF/Fiocruz)
Em 19 de outubro é comemorado o Dia Internacional do Câncer de Mama, data que busca sensibilizar e educar a população sobre a importância de fazer o exame regular das mamas, a fim de detectar quaisquer anormalidades nos seios da mulher. Essa celebração acontece em vários países em uma campanha durante todo o mês, chamada de “Outubro Rosa”, com o intuito de conscientizar às mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção da doença.
O ano de 2020 está sendo marcado pela pandemia da Covid-19, o que tem afetado muitas mulheres, que por medo de sair e se contagiar não fizeram os check-ups anuais necessários. Por isso, hoje, mais do que nunca, a importância dos exames ginecológicos deve ser lembrada para prevenir essa patologia. Nesse contexto, o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) promove uma série de atividades em prol do Outubro Rosa, como: a ação liderada pela equipe da Farmácia da instituição para conscientizar, durante todo o mês, as pacientes sobre a importância do diagnóstico precoce da doença. O Instituto também realizou eventos virtuais, através do seu Portal de Boas Práticas, abordando temas como ‘A Reconstrução da Mama: direitos e desafios para acesso no SUS’ e ´Câncer de mama: há prevenção?’.
Dados
Conforme estatísticas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), publicadas em maio de 2020, o câncer de mama é o segundo tipo que mais atinge as brasileiras, representando 29,7% de todos os cânceres que afetam o sexo feminino. Com uma estimativa de novos casos de 66.280, e um número total de mortes por causa desta doença de 17.763 em 2018, sendo 17.572 mulheres e 189 homens, segundo o Atlas de Mortalidade por Câncer.
Diagnóstico e Prevenção
Esses números são assustadores não só para população feminina, mas também para a sociedade em geral. Por isso, a detecção precoce melhora o prognóstico e a sobrevida nos casos de câncer de mama e continua sendo fundamental na luta contra essa patologia. Para falar sobre o tema, a mastologista do IFF/Fiocruz Viviane Esteves foi consultada. “O ideal é o diagnóstico do câncer de mama quando ainda não apresenta sintomas, em estágios bem iniciais. Os sinais de alerta que necessitam ser avaliados pelo médico especialista são: aparecimento de nódulos fixos (geralmente indolores), alterações na pele (avermelhada, edema, aspecto em casca de laranja, retração da pele), saída espontânea de secreção pelo bico (mamilo), alterações no bico do seio e aparecimento de nódulos nas regiões da axila ou pescoço”.
O diagnóstico precoce é realizado através da mamografia, que é feita pelo mamógrafo, um aparelho de RaioX capaz de detectar alterações suspeitas antes do aparecimento dos sintomas. “Para mulheres, o Ministério da Saúde (MS) recomenda que a mamografia de rastreamento - exame feito na ausência de sintomas -, seja realizada a cada dois anos, dos 50 aos 69 anos. Homens também podem realizar mamografia, mas não há uma recomendação de exames periódicos para eles”, comenta Viviane Esteves.
O autoexame não é mais indicado como exame de rastreamento para prevenção deste câncer, “mas a mulher deve ser estimulada a conhecer seu corpo para perceber qualquer anormalidade suspeita em suas mamas”, esclarece.
Conforme explicado pela mastologista do IFF/Fiocruz, “mudanças de hábitos de vida podem reduzir em até 30% o risco de desenvolver câncer de mama. Assim, praticar atividades físicas, alimentar-se adequadamente, manter o peso adequado, evitar consumo de bebidas alcoólicas e amamentar podem reduzir o risco de câncer de mama. O uso criterioso de anticoncepcionais e terapia de reposição hormonal também devem ser levados em consideração”.
Causas
“O câncer de mama tem múltiplos fatores de risco. Alguns podemos modificar, como consumo de álcool, obesidade, sedentarismo e exposição frequente a radiação. A história familiar de câncer de mama ou ovário, ou a presença de alguma mutação hereditária, além dos fatores reprodutivos, como a primeira menstruação mais cedo, menopausa mais tardia, primeira gestação mais tardiamente, são considerados fatores de risco para câncer de mama que não conseguimos modificar. Além disso, o uso de hormônios, como pílulas anticoncepcionais e terapia de reposição hormonal, podem aumentar o risco de câncer de mama Já a amamentação é um fator de proteção para o câncer de mama”, acrescenta Viviane Esteves sobre as causas da patologia.
Tipos de Cirurgias
Para combater o câncer de mama, basicamente existem dois tipos de cirurgias: as conservadoras, e as radicais chamadas de mastectomias. Nas primeiras, "preservamos a mama e retiramos somente o tumor. Já as mastectomias podem ser radicais ou parciais (inclusive com preservação de aréola e mamilo). Nos casos de mastectomias a Reconstrução Mamária (RM) deve sempre ser considerada. Nas cirurgias conservadoras, aonde ocorra uma assimetria mamária, podemos também oferecer a simetrização da outra mama. A avaliação dos gânglios axilares também faz parte do tratamento cirúrgico do câncer de mama”, informa Viviane Esteves.
Reconstrução Mamária
Para muitas mulheres que passam por uma cirurgia de câncer de mama, radical como as mastectomias ou ressecções parciais com conservação de parte da mama, a associação com a RM faz com que elas se sintam mais confortáveis com a preservação da autoimagem, o que pode fortemente contribuir para a estabilidade emocional, permitindo enfrentar a doença e o tratamento global de forma mais positiva, com reabilitação mais precoce da mulher. Assim, tendem a retomar suas atividades sociais, profissionais e sexuais, beneficiando a saúde física e mental.
Hoje, existem muitas modalidades de Reconstrução Mamaria, sobre isso, a cirurgiã plástica do IFF/Fiocruz Ângela Fausto sinaliza. “Em relação a ocasião de realização da RM, podemos falar de RM imediata ou tardia. Imediata quando é programada na mesma ocasião do tratamento cirúrgico oncológico realizado pelo mastologista. Podem ser necessárias outras cirurgias subsequentes para finalizar a RM. Tardia quando já foi concluído o tratamento oncológico com a retirada total ou parcial da mama e a RM é recomendada posteriormente para possíveis correções”.
Em relação aos Tipos de Reconstrução Mamária, “estas podem ser realizadas com diversas modalidades cirúrgicas de retalhos associados ou não a implantes de silicone. Estes retalhos são provenientes: da própria mama, da região dorsal, do abdome inferior e de outras regiões do corpo”, explica a cirurgiã plástica do IFF/Fiocruz. Sobre as opões cirúrgicas de RM, Ângela ressalta que são indicações personalizadas caso a caso, relativas à dimensão do defeito previsto no planejamento do tratamento oncológico, pelo físico da paciente, idade, doenças clinicas prévias e por seu estilo de vida. As melhores alternativas são apresentadas à paciente e dependem da sua concordância.
Reconstrução Mamária pelo SUS
Conforme informado por Ângela Fausto, no Brasil a RM no Sistema Público de Saúde era realizada, mas sem garantia do direito às mulheres da RM como parte do tratamento. Esse direito foi assegurado por lei a partir de 1999, no Sistema Único de Saúde (SUS). Na rede privada, diferentemente, iniciou-se essa questão do direito das mulheres à RM através de liminares desde 1995, sendo garantida também por lei a partir de 2001, incorporando, portanto, a cobertura à RM no atendimento médico por seguros ou planos de saúde.
“No SUS, desde 2013 é obrigatório informar e oferecer a mulher, sempre que possível, a reconstrução mamária imediata, ou seja, na ocasião do tratamento cirúrgico oncológico inicial, mas, para que seja realizada a RM imediata, a instituição precisa possuir materiais disponíveis, como implantes, profissionais com treinamento para realizar a RM e estrutura hospitalar que tenha condições para se desempenhar cirurgias de maior porte. Além disso, a paciente deve ter condições clínicas de saúde para realizar as duas cirurgias associadas”, detalha Ângela.
Para a paciente ter acesso pela rede do SUS, deve procurar a clínica da família próxima da sua residência ou estrutura similar local para ser solicitado via Sistema de Regulação (Sisreg) e ser encaminhada às instituições que estejam habilitadas pelo SUS para realizarem a RM. É um procedimento realizado em hospitais federais, estaduais, municipais, universitários e em instituições credenciadas com convênio pelo SUS, em todo território nacional.
Pós-operatório
“A paciente no pós-operatório precoce e tardio, deve manter o acompanhamento com o mastologista, cirurgião plástico, oncologista e uma rotina de exames periódicos. No caso das reconstruções com implantes de silicone, incluirá exames com ressonância magnética, quando indicado. A RM não dificulta o acompanhamento da recidiva (reaparição) local. Podem ser necessários outros exames complementares diagnósticos. Em alguns casos, com recidivas locais, inclusive, conseguimos manter a reconstrução da mama na nova abordagem cirúrgica oncológica participando em colaboração com o mastologista”, conclui Ângela Fausto.
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