15/02/2025
Simone Kabarite
Desde a primeira conversa, em 2019, sobre a ideia de criar uma ação de incentivo à inserção feminina na ciência, convidada pela hoje Ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, na época presidente da Fiocruz, a pesquisadora do do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), Mychelle Alves atua no Programa Fiocruz Mulheres e Meninas na Ciência, da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz). De lá pra cá, são seis edições do evento Imersão no Verão em que a pesquisadora recebe alunas no Laboratório de Medicamentos, Cosméticos e Saneantes, onde é chefe.
Doutora em engenharia de processos químicos e bioquímicos, Mychelle considera o Programa uma oportunidade para as alunas conhecerem as diversas áreas da ciência, bem como trajetórias e exemplos que possam inspirar o futuro. “Eu sou muito fã desse Programa, porque já fui uma dessas meninas, mas, na minha época, não tive a chance de saber mais sobre a área. Eu acredito que ter uma referência é muito importante. Não necessariamente como uma mulher negra, mas como uma mulher periférica, de origem pobre e de escola pública. Acho que pode ajuda-las a pensar: “Eu consigo conquistar esse lugar, esse espaço”, aponta.
Também participante desde o evento embrionário, a pesquisadora Klena Sarges, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), identifica um interesse crescente das meninas de escolas públicas em participar da imersão. “A trajetória do programa tem sido de muito sucesso, e nessa sexta edição não foi diferente. A gente percebe claramente que as estudantes estão em busca de conhecer outras possibilidades dentro do que imaginam ser as profissões na área de saúde, além de se mostrarem mais interessadas em prospectar um futuro aqui, na Fiocruz, como pesquisadoras”, declara.
Para Vera Marques, pesquisadora da Ensp e atuante no Programa, o evento contribui para a ampliação de visão de mundo das alunas, ao constatarem que a carreira científica é uma possibilidade de desenvolvimento profissional no futuro. “A importância do evento se dá em várias dimensões, na aproximação entre ciência e sociedade, na própria divulgação científica e por promover debates sobre equidade de raça e gênero na ciência. Mas a dimensão que considero é mais especial é em relação à transformação de vida”, destacou.
Nesse sentido, Klena, que atua na assessoria das ações de divulgação científica da Vice-direção de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do IOC, acredita que a imersão nos laboratórios, nos locais de pesquisa e no trabalho das pesquisadoras tecnologistas desperta para um mundo de possibilidade dentro dessas profissões. “Há uma multidisciplinaridade para fazer uma saúde pública eficiente. Elas ficam muito contentes, porque conseguem rapidamente se visualizar nesses lugares, já começam a perguntar sobre estágio, como podem se inscrever. Então é muito bom ver que existe também uma repercussão do programa depois que a imersão acaba”, afirma. Ela destaca outras ações, em que está à frente, voltadas para estudantes de escolas públicas do Rio, como o Hackgirls, hackaton que acontece anualmente e visa o desenvolvimento de soluções tecnológicas que resolvam desafios relacionados à saúde apresentados por elas.
Sobre os desdobramentos das edições anteriores, Mychelle Alves conta como o evento já impactou uma das primeiras alunas que fez a imersão no seu laboratório. “A Bianca Oliveira, que atualmente trabalha comigo, participou do evento em2020. Ela fazia curso técnico em Química, e, depois da Imersão, mantivemos contato. Hoje ela cursa Farmácia à noite, e desde 2022, é bolsista do Laboratório”, contou.