08/11/2024
Silvia Batalha (VPAAPS/Fiocruz)
Em 2 de novembro de 2024, a Universidade Federal do Ceará (UFC) recebeu uma oficina estratégica que reuniu especialistas e representantes institucionais com um objetivo comum: avançar na criação do Centro de Síntese em Saúde para Mudança do Clima, Biodiversidade e Poluição da Fiocruz. O evento delineou diretrizes para integrar saberes diversos e inovações metodológicas, reforçando a resposta brasileira frente à crise ambiental e seus impactos na saúde pública.
No encontro, Guilherme Franco Netto, coordenador de Saúde e Ambiente da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), destacou a função do Centro como elo entre a produção científica e a formulação de políticas públicas. Para Guilherme, a meta é transformar o Centro de Síntese em uma ponte para ações concretas de preservação ambiental e promoção da saúde.
A questão da integração foi também central na fala de Juliana Rulli Villardi, assessora de ambiente da VPAAPS, que defendeu uma “ciência de síntese” colaborativa e interdisciplinar, onde saberes científicos se conectam para oferecer soluções práticas. Segundo Juliana, a “integração de diversos conhecimentos científicos, métodos e perspectivas, visando a análise, a sistematização, reorganização ou recontextualização de dados de informações já disponíveis, são fundamentais para produzir novos conhecimentos”, disse.
Essa perspectiva foi reforçada por Hermano Albuquerque de Castro, vice-presidente da VPAAPS, que enfatizou a importância de consolidar informações de modo a antecipar as necessidades. Ele sugeriu que o Centro seja “um elo entre as unidades técnicas da Fiocruz e outros órgãos de pesquisa, sem substituir essas unidades, mas orientando a tomada de decisões públicas com mais precisão e agilidade”.
Com uma ampla experiência em saúde ambiental, a pesquisadora Sandra Hacon ressaltou a necessidade de o Centro atuar como integrador de dados, abordando questões complexas como a contaminação por mercúrio em comunidades indígenas e os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde pública. Sua visão é que o Centro produza respostas baseadas em evidências, protegendo populações vulnerabilizadas dos impactos ambientais.
Inspirada nas palavras da ministra Nísia Trindade sobre a “nova ciência”, Virginia Almeida, assessora da VPAAPS, defendeu que o Centro de Síntese deve romper com o histórico de ações isoladas e promover uma articulação institucional ampla. Para ela, o desafio é “sair da zona de conforto” e buscar metodologias que democratizem o conhecimento, tornando-o acessível a diversos setores.
No campo prático, Marco Horta, representante do Ministério da Saúde, sugeriu que o Centro estabeleça um banco de melhores práticas para orientar gestores em políticas de saúde ambiental adaptativas e eficazes. Já Priscila Bueno, da Organização Panamericana da Saúde (OPAS), reforçou a importância de uma cooperação entre governo, academia e sociedade civil, com o Centro atuando como um canal que integra saberes locais com demandas globais visando a criação de políticas resilientes.
A experiência do projeto Biota Síntese foi compartilhada pela professora Gabriela Marques Di Giulio, da USP, que descreveu o impacto de uma ciência de síntese que envolve diretamente gestores e comunidades. Gabriela destacou que uma comunicação científica eficaz deve acompanhar todo o processo, garantindo que o conhecimento seja acessível e aplicável.
O evento evidenciou a urgência de um trabalho colaborativo e interdisciplinar que reconheça as complexas realidades dos territórios brasileiros e valorize os conhecimentos tradicionais. O Centro de Síntese representa, para a Fiocruz, um passo essencial na consolidação de políticas públicas e no fortalecimento do SUS, promovendo um sistema mais resiliente e inclusivo, apto a responder aos desafios ambientais e de saúde que o futuro reserva.