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Direito de sonhar é tema de encontro


03/06/2024

Luiza Toschi (Cooperação Social da Fiocruz)

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“Para quem mora na favela, sonhar demanda luta diária”, declarou a artista e psicóloga Vanessa Américo, durante o Encontro Sonhos Periféricos, ocorrido no último dia 18 no Rio de Janeiro. O evento foi uma das três etapas preparatórias para a Jornada Científica Universitáries Favelades, promovida pelo Fórum Favela Universidade e pelo projeto Tecendo Diálogos, coordenado pela Cooperação Social da Presidência da Fiocruz.  Com exibição de filme, exposição e debate, o encontro discutiu os bloqueios sofridos por moradores de periferias ao tentarem acessar o sistema de direitos, sendo possivelmente o mais subjetivo, o direito de sonhar.

O primeiro encontro reuniu mais de 100 pessoas entre estudantes universitários moradores de favelas, professores e estudantes do Movimento Popular + Nós, de Realengo, e do Pré-vestibular Popular Construção, apoiado pela Fiocruz. O debate sobre as barreiras materiais e simbólicas atravessadas pelos jovens de periferias para a liberdade de sonhar é uma etapa preparatória da 3ª Jornada Científica Favelades Universitáries, prevista para acontecer em setembro deste ano. O encontro aconteceu na Nave do Conhecimento Engenhão, espaço que atua com foco na democratização do acesso ao universo digital administrado pela Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia, localizado na zona norte carioca.

A abertura do encontro aconteceu com uma fala de André Lima, pesquisador e coordenador da área de Desenvolvimento de Territórios Saudáveis e Sustentáveis da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. Ao apresentar o encontro, deu mais informações sobre o cronograma de mobilização para a 3ª Jornada Científica e valorizou as etapas como espaços de partilha de pesquisas e experiências acadêmicas de pesquisadores de favelas e periferias.

“É um desafio para o pesquisador de favela disponibilizar o seu conhecimento para a sociedade. Temos aqui na plateia pessoas que chegaram ao nível do doutorado e são chamados para participar de eventos e falar de sua atuação como militante de Pré [curso pré-vestibular popular]. Nenhum demérito a isso, mas porque não tem espaço para falar das pesquisas acadêmicas que desenvolveram?”, questionou André. “O mesmo acontece com os estudantes que colaboram em ótimos artigos científicos e acabam sempre falando de sua experiência como alunos cotistas. Esse é um processo de silenciamento que precisamos combater”, completou.

O Assessor da Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (SMCT-Rio), professor de matemática da UFRJ e docente do Programa de Pós-graduação em Educação da UFRJ Victor Geraldo apresentou alguns programas com foco na educação e conhecimento e anunciou a inauguração da Nave do Conhecimento de Realengo.

“Na SMCT temos desenvolvido vários projetos que têm como intenção promover acesso ao que é produzido nas universidades e instituições de pesquisa. Com isso, temos expandido as Naves do Conhecimento pela cidade e buscado trazer docentes e discentes para desenvolver projetos dentro desses espaços. Nossa ideia é que o conhecimento se situe também na vida das pessoas e da cidade a partir dessa territorialização que o equipamento permite”, explicou Victor.

Em seguida, aconteceu a exibição do filme Nunca Me Sonharam, dirigido por Cacau Rhoden, que abriu uma mesa de debate entre Vanessa Américo, que também é militante do Curso Pré-Vestibular do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm), e com a educadora popular Elizabeth Campos, coordenadora da Rede de Empreendimentos Sociais para o Desenvolvimento Socialmente justo, Democrático e Sustentável (RedeCCAP), em Manguinhos.

A roda de conversa pode ser acessada no YouTube.

Durante a mesa, Vanessa também ressaltou que o sonho periférico é uma construção coletiva na abertura de caminhos para a conquista de direitos negados aos moradores de favela, como o acesso à universidade. “O mais importante é se esforçar sim, ir atrás dos seus direitos sim. Mas também entender que sozinho a gente não vai a lugar algum, que a gente precisa levar outras pessoas com a gente”, completou.

Elizabeth Campos seguiu o diálogo falando sobre os desafios de reconhecimento para uma pessoa de periferia, mesmo quando ela tem seu diploma na mão. Por isso, falou sobre uma necessidade de conexão contínua com a luta, convocando a juventude a transpor as barreiras do racismo e das políticas que persistem em invisibilizar moradores de favelas e buscar caminhos por meio da educação popular.

“Sonhar é um ato de bravura, principalmente consigo mesmo. Se deixar, os jovens ficam só rodando com suas bicicletas e motos entregando coisas e deixaram de sonhar. A educação popular é a alternativa para equilibrar melhor essa luta”, comentou Elizabeth sobre o tema. “É muito importante a gente sonhar, esperançar, realizar e voltar para o nosso lugar como referência, almejando também transformação: da nossa comunidade, nossa família, nossas relações. São essas trocas que fortalecem uma sociedade digna e justa”, completou.

A Jornada tem como objetivo promover a divulgação científica e integrar pesquisadores, estudantes e lideranças sociais de favelas e periferias do estado do Rio de Janeiro para trocas de experiências, intercâmbio acadêmico e fortalecimento da dimensão ética e política da entrada e permanência na academia. As datas dos próximos encontros preparatórios e da Jornada serão divulgadas em breve nas redes sociais do Fórum Favela Universidade.   

O evento foi uma iniciativa do GT Jornada Científica Favelades Universitáries do Fórum Favela Universidade e do Projeto Tecendo Diálogos. O Tecendo Diálogos é um projeto da Cooperação Social, que possui um comitê gestor composto pelas seguintes instituições: Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz (CCSP); Fórum de Pré-Vestibulares Populares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ); Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz); Conselho Comunitário de Manguinhos; Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PR-5/UFRJ); Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM); Museu da Maré; Rede de Empreendimentos Sociais para o Desenvolvimento Socialmente Justo Democrático e Sustentável (RedeCCAP). Foram parceiros nesta ação: a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), a Nave do Conhecimento Engenhão e a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

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