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Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia é inaugurado no Ceará


17/05/2024

Fundação Oswaldo Cruz e Instituto Pasteur

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Inaugurado nesta sexta-feira (17/5), o Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia, no Ceará, reúne cientistas do Instituto Pasteur e da Fiocruz – dois membros da Rede Pasteur – com o objetivo de acelerar a pesquisa em imunologia e imunoterapia em níveis regional, nacional e internacional, com foco tanto em doenças infecciosas quanto não transmissíveis, como câncer, doenças autoimunes, degenerativas e negligenciadas. A iniciativa conta com o apoio do Governo do Ceará e do Ministério para a Europa e Relações Exteriores da França, por meio da embaixada em Brasília. Veja como foi a cerimônia de inauguração.

Participaram da cerimônia de inauguração o governador do Ceará, Elmano de Freitas, o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, o vice-presidente executivo sênior de Assuntos Científicos do Instituto Pasteur, Christophe d’Enfert, a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, o coordenador da Estratégia Agenda 2030 Fiocruz (EFA 2030/ Fiocruz), Paulo Gadelha, e o embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain. O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, representou a ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima. A cerimônia contou ainda com a coordenadora da Fiocruz Ceará, Carla Celedônio, do cônsul-geral da França, Serge Gas, do prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves Pinto Filho, do assessor especial da Presidência da Fiocruz para a Cooperação com Instituições Francesas, Wilson Savino, além de membros da Rede Pasteur nas Américas, como os do Instituto Armand Frappier, Instituto Pasteur de Guadeloupe, Instituto Pasteur de Guyanne, Instituto Pasteur de São Paulo e Instituto Pasteur de Montevidéu.

O novo Centro está localizado no campus da Fiocruz Ceará, em Eusébio, a 30 minutos de Fortaleza, em um prédio com 2.350 m². O Centro também se beneficiará da estrutura da unidade regional da Fiocruz, criada em 2008 e que hoje é a âncora tecnológica do Polo Industrial e Tecnológico de Saúde do Ceará (PITS).

O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, destacou o Centro como um projeto prioritário para a Fundação. “É um projeto exemplar que nos inspira não somente por conta da competência científica, como também por ser um modelo de novos arranjos institucionais que a Fiocruz possa adotar para desenvolver atividades fora do Rio de Janeiro”, enfatizou. “Além da alegria que cerca esta comemoração, o Centro traz consigo também uma responsabilidade de contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico e que possa permitir novos produtos para a saúde”, comentou. “Temos muitos projetos para desenvolver nessa região, no arranjo institucional político muito particular, que é a associação dos governos federal, estadual e municipal. Essa base justifica o sucesso da Fiocruz no Ceará”, afirmou.

O presidente da Fiocruz (à esquerda, de terno), Mario Moreira, com o vice-presidente executivo sênior de Assuntos Científicos do Instituto Pasteur, Christophe d’Enfert (de terno) e os coordenadores do Centro, João Hermínio Martins da Silva e Caroline Passaes (Foto: Iratuã Freitas)

O vice-presidente do Institut Pasteur, Christophe D’Enfert, destacou o projeto como um novo passo na longa e sólida parceria entre Brasil e França. “Oswaldo Cruz completou seus estudos em Paris e voltou para o Brasil fundando a Fiocruz. Tem um pouco, ou muito, da França na Fundação”, mencionou. “Este projeto ambicioso está totalmente alinhado com as estratégias de ambas instituições envolvidas e, com certeza, criará sinergias para uma ciência inovadora e o benefício de ambos os povos”, completou. Outro ponto destacado por D’Enfert foi o compromisso das instituições com o treinamento das futuras gerações de cientistas no campo da imunologia e imunoterapia. 

O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde do Ministério da Saúde (SECTICS/MS), Carlos Gadelha, que representou a ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou o projeto como um importante compromisso para a equidade regional. “Estamos celebrando uma possibilidade concreta de desenvolvimento nacional. É um projeto de país que envolve um desenvolvimento regional, no Nordeste e no Ceará”, destacou.

O governador do Ceará, Elmano de Freitas, descreveu o evento como um momento que muda a história de seu povo. “Meu orgulho de estar aqui é poder dizer que o que queremos que migre do Ceará é o conhecimento científico que será produzido aqui. Não apenas confiamos na ciência, como também compreendemos que é um caminho de desenvolvimento do país. Não se faz ciência sem parceria e cooperação”, reforçou.

O desenvolvimento de novas imunoterapias é uma importante estratégia de saúde pública. Este tipo de tratamento baseia-se na modulação do sistema imunológico e pode atingir diretamente um agente infeccioso, células e tecidos danificados ou regular o microambiente imunológico promovendo uma resposta imune adequada para combater uma determinada doença. Revolucionou o tratamento do câncer nos últimos anos, mas não se restringe à área oncológica. Na verdade, a sua utilização no tratamento de outras doenças não transmissíveis e doenças infecciosas tem aumentado rapidamente.

A inauguração do Centro reafirma a importância dos fortes laços de cooperação que existem entre a França e o Brasil no domínio da pesquisa científica e tecnológica, afirma o Cônsul-Geral da França no Recife, Serge Gas. “Esta criação vai desenvolver novas imunoterapias, que são um grande desafio para a saúde pública não só para o Brasil, como também para a França. O objetivo é acelerar pesquisas em nível regional, nacional e internacional”.

O Centro tem três áreas científicas prioritárias: câncer; doenças infecciosas e negligenciadas; e doenças autoimunes, neurodegenerativas e inflamatórias. Entre os projetos patrocinados pelo Centro estão o desenvolvimento de inibidores para tratamento de doenças neurodegenerativas; o desenvolvimento de conjugados anticorpo-fármacos; o desenvolvimento de fragmentos de nanocorpos/anticorpos para doenças tropicais negligenciadas; células CAR-T; e imunoterapias para melhorar as funções das células T para combater doenças infecciosas.

O Brasil e a França têm territórios vastos e diversificados, suas populações são frequentemente afetadas por doenças infecciosas e tropicais negligenciadas causadas por vírus, bactérias, parasitas e picadas de cobras. As doenças transmitidas por mosquitos, como a dengue, a chikungunya, a febre amarela, a malária e o zika, são endémicas em algumas regiões de ambos os países. Além disso, ambos os países enfrentam um aumento nas doenças não transmissíveis. Este cenário sinaliza uma demanda crescente por terapêuticas inovadoras.

Ao final da cerimônia, o acordo para a criação do Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia, foi assinado por Mario Moreira, Christophe D’Enfert, João Hermínio e Caroline Passaes. A ocasião também contou com a assinatura do decreto que institui e regulamenta o Distrito de Inovação em Saúde do Ceará, situado no município de Eusébio, pelo governador Elmano de Freitas. Após a assinatura, o grupo visitou o Centro e seus laboratórios. Na recepção, uma placa homenageia Oswaldo Cruz e Louis Pasteur.

O governador do Ceará, Elmano Freitas, e o presidente Mario Moreira na cerimônia de inauguração (Foto: Iratuã Freitas)

Acordo bilateral

O primeiro acordo-quadro bilateral prevendo a criação do Centro foi definido em 2015 e renovado em 2021. No ano seguinte, foi decidido que a Fiocruz Ceará receberia um pesquisador do Instituto Pasteur para contribuir nos esforços de pesquisa integrada. A escolhida foi a imunologista brasileira Caroline Pereira Bittencourt Passaes, que tem mestrado e doutorado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e trabalha há 11 anos no Instituto Pasteur. Caroline é coautora do estudo referente ao terceiro caso de cura da Aids.

“Um dos privilégios do Centro é ter como patronos dois dos maiores cientistas do mundo: Oswaldo Cruz e Louis Pasteur. Sua criação representa um marco significativo no avanço do conhecimento em imunologia e imunoterapia. As pesquisas nesses temas se mostram cruciais para o desenvolvimento de novas estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento”, pontuou o coordenador do Centro, João Hermínio. Já a coordenadora do Centro, Caroline Passaes, enfatizou que a parceria se tornou realidade graças ao trabalho feito nos últimos anos. “O espaço, antes dedicado ao diagnóstico da covid-19, foi ressignificado e agora inicia uma nova fase, com o foco no desenvolvimento em terapias avançadas em prol da população”, apontou.

Coordenadora da Fiocruz Ceará, Carla Celedônio se emocionou ao citar o projeto como a reafirmação da colaboração centenária entre as instituições. “Isso reforça o poder impulsionador da ação para uma das vocações da Fiocruz Ceará: o desenvolvimento de novas terapias e tecnologias para a saúde da nossa população”, disse. “Essa realidade não teria sido construída se não fossem as ações para descentralização da ciência e tecnologia do eixo Sul-Sudeste”, afirmou.

O Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia está diretamente ligado à Diretoria-Geral do Instituto Pasteur e à Presidência da Fiocruz. Conta com uma Comissão Coordenadora e um Conselho Consultivo Científico (SAB). A Comissão de Coordenação é formada por três representantes do Pasteur, três da Fiocruz, um da Embaixada da França no Brasil e um do Governo do Ceará. O SAB é composto por seis membros, especialistas independentes que desenvolvem suas atividades científicas na Europa e na América do Sul, indicados conjuntamente pelo Pasteur e pela Fiocruz.

O funcionamento começou antes mesmo de sua inauguração. Na véspera (16/5) foi organizado o Simpósio Pasteur Fiocruz em Imunologia e Imunoterapia, que reuniu pesquisadores de diferentes partes do mundo e abordou temas sobre imunologia básica e translacional, imunoterapias e aplicações inovadoras na área.

Descerramento da placa de inauguração, na fachada do Centro (Foto: Iratuã Freitas)

O Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia colaborará estreitamente com o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), por meio de um laboratório de pesquisa e desenvolvimento que está em estruturação. O Centro também vai trabalhar em parceria com universidades, institutos de pesquisa e empresas públicas ou privadas. Adota um modelo de funcionamento multiusuário, o que significa que a utilização dos equipamentos está aberta a qualquer colaborador que a solicite. Além das contribuições da Fiocruz e do Pasteur, o Centro conta ainda com o apoio financeiro do Ministério para a Europa e as Relações Exteriores da França (por meio de sua embaixada em Brasília), do Governo do Ceará e da agência estadual para o desenvolvimento da Ciência (Funcap).

Uma longa parceria

Os laços que ligam o Instituto Pasteur ao Brasil remontam ao final do século XIX, quando o imperador Pedro II, um forte defensor da pesquisa científica, desenvolveu um grande interesse pelo trabalho de Louis Pasteur. Em 1879, Dom Pedro II convidou Louis Pasteur ao Brasil para estudar e combater a epidemia de febre amarela. Embora Pasteur não pudesse viajar ao Brasil, uma colaboração bem-sucedida resultou num significativo apoio financeiro do imperador, o que contribuiu para a criação do Instituto Pasteur em Paris, em 1887. Mais tarde, o cientista brasileiro Oswaldo Cruz viajou para Paris em 1897 e trabalhou com a primeira geração de pasteurianos, incluindo Émile Roux. Em meados de 1899, com os estudos concluídos, Oswaldo Cruz retornou ao Brasil e fundou, em 25 de maio de 1900, o Instituto Soroterápico Federal, que deu origem à Fundação Oswaldo Cruz. A inauguração do Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia representa um capítulo novo nesta história.

O Instituto Pasteur e a Fiocruz são membros da Rede Pasteur, uma aliança de mais de 30 institutos que desempenha um papel crucial na abordagem dos desafios globais de saúde através da ciência, inovação e saúde pública. A sua força reside na diversidade e no extenso alcance geográfico, abrangendo 25 países em cinco continentes, promovendo uma comunidade dinâmica de conhecimento e experiência. A Rede Pasteur é reconhecida como uma organização não estatal da OMS, e seus membros estão frequentemente integrados aos ministérios da Saúde locais. A Rede Pasteur sustenta uma infraestrutura global que abrange mais de 50 laboratórios de referência nacionais e regionais, que inclui vários laboratórios de nível 3 de biossegurança e 17 centros colaboradores da OMS.

O trabalho da Rede Pasteur é orientado por quatro pilares estratégicos: preparação para epidemias, inteligência, com foco em doenças sensíveis ao clima; pesquisa, desenvolvimento e inovação; comunidades de conhecimento; e boa governança e equidade.

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