04/10/2023
Luiza Toschi (Cooperação Social da Fiocruz)
“A pandemia, sem o Agente Comunitário de Saúde (ACS), seria muito mais devastadora”. Esse é o início e o resumo principal do quarto episódio do Podcast Radar Saúde Favela sobre a atuação dos ACS na atenção primária, com foco no período da pandemia de Covid-19. A frase faz parte do depoimento anônimo dado por uma agente que atua na Zona Oeste do Rio de Janeiro e que compõe o programa que vai ao ar hoje, 4 de outubro, o dia do agente comunitário de saúde. O episódio aborda a visão da ACS sobre o histórico da pandemia e o impacto nos territórios vulnerabilizados.
São 20 minutos de reflexão sobre os desafios de atuar com atenção básica em territórios periféricos, enfrentando na ponta as fake news e o desconhecido durante a pandemia. Ela descreve o pânico inicial da contaminação; a necessidade dos agentes de se isolarem de seus familiares; o adoecimento psicológico e físico dos colegas de profissão; a distribuição de suprimentos para as famílias; o atraso de salários; a chegada da vacinação; a descrença da população e a importância da confiança construída pela atuação dos ACS em seus territórios para que as soluções de saúde fossem ali implementadas.
“Nós não fomos profissionais contratados para apagar um incêndio. A gente veio antes, conhecendo todo o nosso território”, conta a agente comunitária, valorizando o fato de que os ACS conheciam as famílias impactou diretamente o cuidado da população de áreas periféricas. Ela ressalta a importância da continuidade da atuação territorializada, o que torna possível identificar e encaminhar para as unidades de atenção básica as pessoas que abandonaram seus tratamentos ou desenvolveram necessidades de cuidados de saúde recentes. “A gente continua catando os destroços e construindo novamente a saúde dentro da comunidade, como sempre fizemos, antes, durante e depois do caos”, afirma no episódio.
A entrevista aborda também a questão da regulamentação dos agentes comunitários de saúde como profissionais da área, que aconteceu apenas em janeiro deste ano. No entanto, mesmo com a lei recém sancionada por reivindicação ativa desses trabalhadores, a ACS entrevistada revela que eles seguem vivenciando situações de assédio moral, atraso de salários e desvalorização por parte de outros profissionais da saúde.
No episódio, a ACS revela que, ainda durante a pandemia, lidando com a possibilidade de contaminação diária para apoiar o atendimento das famílias nas favelas, as profissionais enfrentaram atraso de salários. “A gente entregava cesta básica e produto de limpeza e a gente não tinha. Precisávamos explicar nossa situação para a ONG e, quem dos agentes conseguia a cesta básica, dividia com os outros”, contou a profissional.
Para ouvir o episódio, acesse aqui.
Radar Saúde Favela
O Radar Saúde Favela (originalmente, Radar Covid-19 Favela) foi concebido no âmbito do Observatório Fiocruz Covid-19 e, atualmente, está alocado na Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. O site Radar Saúde Favela foi lançado em fevereiro de 2023 e reúne as narrativas sobre saúde de moradores, lideranças populares e movimentos sociais. Artigos de opinião, podcast, vídeos e a própria edição da revista (desde agosto de 2020) são alguns dos formatos publicados pelo projeto. Lideranças e comunicadores populares podem enviar sugestões de pauta, matérias e crônicas sobre a saúde em seus territórios a qualquer momento para o e-mail: radarsaudefavela@fiocruz.br.
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