Nísia Trindade Lima é presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desde 2017. Doutora em Sociologia (1997), mestre em Ciência Política (1989), pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj - atual Iesp), e graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj, 1980). Sua tese de doutorado 'Um Sertão Chamado Brasil' conquistou o Prêmio de Melhor Tese de Doutorado em Sociologia no Iuperj e sua publicação encontra-se em 2ª edição. Foi diretora da Casa de Oswaldo Cruz (1998-2005), unidade da Fiocruz voltada para pesquisa e memória em ciências sociais, história e saúde. Participou da elaboração do Museu da Vida, premiado museu de ciência da Fiocruz. Na Editora Fiocruz (2006-2011) atuou na implementação da Rede SciELO Livros. Foi vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz (2011-2016), período em que coordenou as Semanas Nacionais de Ciência e Tecnologia na instituição e também a implantação de políticas de acesso aberto, com o objetivo de tornar disponível toda a produção científica da instituição.
É pesquisadora de produtividade de nível superior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com reconhecimentos adicionais por sua produção científica e ações para aprimorar o diálogo entre ciência e sociedade. Sua obra é referência na área de pensamento social brasileiro, história das ciências e saúde pública. Lecionou e orientou gerações de alunos em todos os níveis de formação, do ensino básico ao pós-doutorado, como docente na Uerj e na Fiocruz. É autora de dezenas de artigos, livros e capítulos com reflexões sobre os dilemas da sociedade nacional, sobretudo as cisões entre os Brasis urbano e rural, moderno e atrasado. No campo das ciências sociais vem contribuindo através de diferentes iniciativas para o fortalecimento das ações de pesquisa e ensino. Uma de suas realizações foi a criação da Biblioteca Virtual do Pensamento Social (BVPS), em colaboração com a UFRJ e rede de instituições. Participa dos conselhos editoriais dos periódicos: Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência; História, Ciências, Saúde-Manguinhos; Caderno de História da Ciência-Instituto Butantan; Escritos da Fundação Casa de Rui Barbosa; Medical History.
Outra marca da trajetória de Lima é o trabalho interdisciplinar em acordos de cooperação internacional. Organizou na instituição as comemorações do centenário da Fiocruz e dos 500 anos do descobrimento do Brasil (2000). Entre 2004-2005, coordenou na Fiocruz o Ano do Brasil na França em colaboração com instituições como EHESS, Instituto Pasteur, Inserm e CNRS. Em 2005, tornou-se membro dos comitês científico e executivo do 4º Congresso Mundial de Centros de Ciências - 4SCWC, sediado pelo Museu da Vida e Fiocruz. Em 2009 integrou a comissão organizadora das Comemorações do Centenário da descoberta da doença de Chagas. Como presidente da Fiocruz, ela participou da proposta feita pelo Brasil à OMS em 2019 para declarar o dia 14 de abril como o Dia Mundial da Doença de Chagas, uma das principais doenças negligenciadas no mundo.
Durante seu mandato como presidente da Fundação Oswaldo Cruz está comprometida com a expansão do papel da Fiocruz na comunidade global de saúde. Participa de programas e redes internacionais nas áreas de História da Ciência e História da Saúde. Coordena a Rede Zika Ciências Sociais, que é parte da Zika Alliance Network (2018), um consórcio de pesquisa multinacional e multidisciplinar formado por 54 parceiros em todo o mundo. Foi membro do grupo de trabalho de Plano de Ação Global da OMS (2018), que tem como objetivo otimizar a pesquisa global para os sistemas de saúde dos países, e do grupo consultivo da OMS para a implementação da Agenda 2030 (2019). Foi membro do Comitê Diretor Internacional para supervisionar e facilitar a implementação da Cúpula de Nairóbi sobre a CIPD25 e assumiu a Copresidencia da Rede de Saúde para Todos da UNSDSN em 2019.
Como Presidente da Fiocruz, liderou as ações da instituição no enfrentamento da pandemia de Covid-19 no Brasil. A Fiocruz, dentre outras iniciativas, criou um novo Centro Hospitalar no campus de Manguinhos; coordenou no país o ensaio clínico Solidarity da Organização Mundial da Saúde (OMS); aumentou a capacidade nacional de produção de kits de diagnóstico e processamento de resultados de testagens; organizou ações emergenciais junto a populações vulneráveis; ofereceu cursos virtuais, para profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), de manejo clínico e atenção hospitalar para pacientes de Covid-19; lançou manual de biossegurança em escolas; e tornou-se laboratório de referência para a OMS em Covid-19 nas Américas. Em fevereiro de 2020, a Fiocruz ministrou treinamento em diagnóstico laboratorial do novo coronavírus para especialistas da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai, além de treinar especialistas dos LACENs dos 27 estados brasileiros.
Criou o Observatório Covid-19, rede transdisciplinar que realiza pesquisas e sistematiza dados epidemiológicos; monitora e divulga informações, para subsidiar políticas públicas, sobre a circulação do novo coronavírus e seus impactos sociais em diferentes regiões no Brasil. O Observatório Covid-19, por sua vez, está associado ao projeto de organização do Núcleo Interdisciplinar de Emergências em Saúde (NIES), que será um centro de estudos sociais da ciência e da saúde a ser instalado na Fiocruz mediante apoio do Wellcome Trust.
Outro destaque foi a inauguração do Biobanco COVID-19 (BC19-FIOCRUZ) em dezembro de 2021. O Biobanco será um legado para o Brasil, auxiliando pesquisadores na busca por respostas rápidas para futuras emergências de saúde pública. Outra ação significativa foi a criação da Rede FIOCRUZ de Vigilância Genômica, onde especialistas de diversas unidades da FIOCRUZ e institutos parceiros trabalham diariamente para gerar dados consistentes sobre o comportamento do SARS-CoV-2, colaborando com as análises epidemiológicas e de eficácia vacinal e potencializando o crescimento do Brasil preparação para enfrentar a Pandemia.
Lima, como presidente da Fiocruz, coordenou todo o acordo de encomenda tecnológica na articulação com o Ministério da Saúde do Brasil, a Universidade de Oxford, a farmacêutica AstraZeneca e as unidades de produção locais. A Fiocruz já forneceu ao Ministério da Saúde mais de 180 milhões de doses de vacinas. Com a conclusão da transferência de tecnologia da AstraZeneca, a Fiocruz tornou-se a primeira instituição do Brasil a produzir e distribuir uma vacina contra a COVID-19 ao Ministério da Saúde com produção 100% nacional.
Além disso, em setembro de 2021, a Fundação foi selecionada pela OPAS/OMS como centro de vacinas de mRNA. O Instituto de Tecnologia em Imunobiologia (Bio-Manguinhos) tornou-se um dos dois centros de desenvolvimento e produção de vacinas com tecnologia mRNA da América Latina.
Durante a pandemia de Covid-19, Lima também participou de diversos fóruns de cooperação transnacional para enfrentar a emergência sanitária. Ela foi membro da Força-Tarefa da Comissão Lancet COVID-19 sobre Ajuda Humanitária, Proteção Social e Grupos Vulneráveis e da Coalizão de Pesquisa Clínica de COVID-19, para acelerar a pesquisa clínica de COVID-19 em ambientes com recursos limitados. Ela co-presidiu o Grupo Diretor de Recuperação Econômica, um dos grupos do Roteiro de Pesquisa da ONU para a Recuperação da COVID-19. Ela também é membro do Comitê Diretivo do Colaborativo Regional de Produção de Vacinas (RVMC) e da Plataforma Regional da OPAS/OMS para Avançar na Produção de Vacinas contra COVID-19 e Outras Tecnologias de Saúde nas Américas.
Em dezembro de 2020, foi eleita membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na categoria Ciências Sociais. Em 1º de janeiro de 2022, ela se tornou membro da Academia Mundial de Ciências (TWAS) para o avanço da ciência nos países em desenvolvimento.
Em setembro de 2021, ela se tornou membro independente do Conselho da Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI). Foi também agraciada com o grau de Cavaleira da Ordem Nacional da Legião de Honra da França, oferecido pelo Governo da França, em reconhecimento ao seu trabalho nas áreas da ciência e da saúde e pelos serviços prestados à sociedade em resposta à pandemia de Covid -19. Em novembro de 2022 recebeu o Prêmio Regional da TWAS para Diplomacia Científica, que homenageia indivíduos que tenham atuado em projetos de pesquisa transfronteiriços que contribuíram para a melhoria das relações internacionais.
Recebeu também as seguintes Medalhas de Mérito: Oswaldo Cruz do Ministério da Saúde (2018); Academia Brasileira de Medicina Militar (2018); Academia Brasileira de Ciências Farmacêuticas (2018); Rui Barbosa (2016); Euclides da Cunha (2008); 110 anos da Academia Brasileira de Letras (2007); e Centenário da Fiocruz (2000); Doutor Honoris Causa pela UFRJ; Carioca do Ano pela Revista Veja (2020); Prêmio Personalidade França-Brasil; Prêmio Personalidade Profissional; II Prêmio EMERJ de Direitos Humanos; Medalha Tiradentes (2021); e Comenda Celso Furtado (2022).
Toda a atuação de Nísia Trindade Lima como gestora e intelectual está baseada na promoção do valor social da ciência no Brasil e na realização de ações que aproximem a ciência da sociedade.