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Efeitos da violência na saúde dos agentes de segurança pública incluem insônia, sensação de urgência e depressão


05/12/2013

Por Daniela Lessa

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As pesquisadoras do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Carelli (Claves), da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Cecília Minayo e Ednilsa Ramos participaram do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2013, com o artigo Sob Fogo Cruzado I: vitimização de policiais militares e civis brasileiros, no qual analisam os efeitos da violência na saúde dos agentes de segurança pública. Alguns dos principais efeitos dessa exposição constante ao risco e à violência são:

 

  1. Negação do perigo por considerar que medo, ansiedade e choro são manifestações de fraqueza e devem ser reprimidas.

  2. Alteração da consciência: frequentemente, em situações de elevado risco, os policiais realizam ações que um indivíduo não faria em estado normal. Os riscos iminentes provocam hipervigilância e, ao mesmo tempo, perda de controle sobre vários aspectos da realidade.

  3. Dificuldades para lidar com a situação de vitimização, tanto por parte das corporações como dos agentes, pela falta entendimento das consequências associadas ao elevado estresse decorrente da vitimização.

  4. Sentimento de urgência da vida, como se houvesse sobre eles uma 'sentença de morte' antecipada.

  5. Desenvolvimento de uma forma de estresse que debilita, deprime e tolhe a ação, levando-os a desenvolver doenças psicossomáticas, fadiga crônica, insônia, pesadelos, hipersensibilidade, sentimentos de culpa, problemas que são agudizados pelo enfrentamento de novos fatos traumáticos.

  6. Desenvolvimento do chamado efeito flashback, ou seja, a presentificação obsessiva de fatos traumáticos, o que ocorre frequentemente com policiais envolvidos em tiroteios com vítimas ou quando morrem colegas de profissão ou pessoas inocentes.

  7. Desenvolvimento de sintomas depressivos, cujos sinais são, sobretudo, perda de energia, perda de apetite e desejos de ficar só ou de alienar-se. Alguns casos derivam para o cinismo, o descrédito e a raiva da instituição e dos colegas.

  8. Interferência na vida sexual, o que para muitos é algo extremamente doloroso, pois, além de intervir nas suas relações conjugais ou de parcerias, tem o poder de atingir seus sentimentos de virilidade.

 

Segundo Cecília, o estresse emocional se expressa em medo, insônia, ansiedade, nervosismo, autoculpabilização, raiva, vergonha, tristeza e depressão. Ela explica que, se esses sintomas duram mais de um mês, os psicólogos consideram que a vítima passou a sofrer de "desordem pós-traumática", que pode ser definida como um distresse psicológico (ou seja, um estresse psicológico negativo) ou uma reação fisiológica relacionada com a exposição à ameaça de morte ou de lesão grave. “Pode acontecer também a transformação da vítima em agressor, como nos casos de maníacos sexuais vitimizados na infância, ou de terroristas que alegam serem vítimas de poderes opressivos”, destaca a pesquisadora.

 

Ela lembra que, além da gravidade da situação de risco e da personalidade dos indivíduos, a tendência a sofrer sequelas emocionais também passa pela influência da cultura e das condições sociais que fazem parte de sua história de vida e no trabalho. “Os policiais são treinados para fortalecer atitudes machistas e de endurecimento do caráter como mecanismos de sobrevivência frente ao risco físico, psicológico e mental, e muitos chegam a incorporar certo cinismo que os distancia de qualquer apoio social e psicológico”, observa.

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